quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Radiofonias brasileiras (RJ)

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Foto: divulgação




Problemas no primeiro musical de Bosco Brasil

Primeiro musical escrito por Bosco Brasil, “Radiofonias brasileiras” sofre diante de vários problemas. Dirigido por Diego Molina, o espetáculo diz narrar uma história, mas conta outras em uma confusão que se alonga por mais de duas horas infelizmente. No elenco protagonizado por Reinaldo Gonzaga, têm destaque as atuações de Adriana Seiffert e de Alessandro Brandão. A peça está em cartaz até o dia 19 de dezembro no Teatro Alcione Araújo da Biblioteca Parque Estadual no centro do Rio de Janeiro.

Problemas na dramaturgia de Bosco Brasil
O texto de “Radiofonias brasileiras” começa com a morte do personagem Amílcar Maranhão (Reinaldo Gonzaga), autor fictício de radionovelas da Rádio Nacional. No além, ele é recebido por uma Diaba (Maíra Lana) que concede a ele a chance de contar sua história a partir de um determinado ponto a sua escolha. Ele opta por começar em 1963, ano em que uma novela sua, “O palácio dos destinos”, terminou fazendo muito sucesso. Horas antes do último capítulo ir ao ar, Maranhão é procurado pela radioatriz Fúlvia (Adriana Seiffert) que pede a ele um emprego para seu irmão Tristão (José Mauro Brant), perseguido em São Paulo por atividades consideradas subversivas (leia-se: de esquerda). Então, Villarino (Pedro Lima) assume a chefia da emissora e, em nome de um governo militar (a Rádio Nacional é uma estatal desde a Era Vargas), passa a investigar possíveis inimigos do novo regime. Com medo de ser investigado, Maranhão dá aulas de interpretação para o irmão de Fúlvia e ele se torna um grande ator, o que não o livra de ser investigado.

De repente, depois de identificar uma relação sexual entre Tristão e a redatora Nice (Luciana Bollina), o espectador de “Radiofonias brasileiras” sabe que houve uma história de amor entre Amílcar e ele. Começam aí os problemas na dramaturgia de Bosco Brasil. Já em busca de pistas que justifiquem a história que Maranhão está narrando para a Diaba momentos depois de sua morte, o espectador passa a ter novo trabalho: reconhecer os motivos que fizeram com que Amílcar defendesse Tristão da ditadura. A questão parece deixar de ser ética e passar a passional. Nisso, ganham importância dois outros personagens: o radioator Zero (Alessandro Brandão), que se nega a colaborar com o governo militar na perseguição de esquerdistas; e Fúlvia, que está em busca do irmão perseguido. É possível que, no texto, Nice também tenha recebido maior importância, mas essa não fica clara no espetáculo, cuja direção será analisada a seguir.

Ao final, o protagonista Amílcar Maranhão afunda levando consigo um espetáculo que quis ser sobre a ditadura militar. Submerso em frases longas, preocupadas em apresentar referências que vão de Shakespeare a Wagner passando por Mozart, e que não definem nem o personagem, nem seu conflito e tampouco seu movimento, o texto, apesar das intenções, não é bom.

Adriana Seiffert e Alessandro Brandão se destacam
As interpretações, o cenário, o figurino e a trilha sonora não ajudam o texto a chegar ao público de modo mais claro. Nesse sentido, não colaboram com o espetáculo. Reinaldo Gonzaga (Amílcar Maranhão), Pedro Lima (Villarino) e Luciana Bollina (Nice) têm excelentes vozes e essas brilham nas cenas em que seus personagens radioatores aparecem trabalhando. Porém, os três trabalhos de interpretação surgem sem expressões corporais, faciais e gestuais que deem conta da história que eles poderiam estar defendendo. Do início ao fim, apesar de tudo o que acontece em cena, eles parecem ser as mesmas pessoas, o que enche o texto de uma responsabilidade muito difícil para ele. José Mauro Brant, cujo Tristão narrativamente conquista vários personagens, interpreta com esforço um galã sem sucesso na empreitada. Diante das enormes dificuldades que o texto lhe confere, Maíra Lana (Diaba) tem alguns méritos, assim como Adriana Seiffert (Fúlvia) e como Alessandro Brandão (Zero). Esses últimos conseguem, nas raras oportunidades que têm, alçar suas personagens para lugares de maior importância no todo mesmo mantendo-se como coadjuvantes.

Cenário de Aurora dos Campos não valoriza a época
A história se passa entre 1963 e 1973, mas o cenário de Aurora dos Campos parece ter achado isso pouco relevante à narrativa. Em um excesso de alumínio aparente, portas de madeira sem pintura e acrílico, o que se vê nem ambienta os corredores da Rádio Nacional nessa época, nem o Brasil nesse período. Máquinas de escrever, um toca-discos e um detalhe nos microfones são muito pouco para garantir o lugar onde essa história, que se vê no todo da caixa cênica sem rotunda nem coxias, ser apresentada. Os figurinos de Colmar Diniz pouco acrescentam à beleza do espetáculo. A direção musical de Tato Taborda, com méritos para a Banda Hétera (Antônio Ziviani, Breno Góes, Felipe Ridolfi e Pedro Leal David), preferiu optar por canções pouco conhecidas e, nesse sentido, quase nada referenciais. O repertório, negando o gênero musical em que o espetáculo se insere naturalmente, emperra a narrativa que dura mais de duas horas. A luz de Aurélio de Simone faz excelentes participações.

Por essas questões, a direção de Diego Molina não expressa boa articulação entre todos os elementos que compõem o todo do espetáculo. Parte da programação que ainda celebra a passagem dos cinquenta anos do Golpe Militar de 1964, a produção não apresenta bons resultados infelizmente.

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Ficha técnica:
Texto: Bosco Brasil
Direção: Diego Molina
Direção Musical: Tato Taborda

Elenco:
Reinaldo Gonzaga – Amílcar Maranhão
Adriana Seiffert – Fúlvia
Alessandro Brandão – Zero
José Mauro Brant – Tristão
Luciana Bollina – Nice
Maíra Lana – Diaba
Pedro Lima – Villarino
George Luís Prata – Sonoplasta

Músicos – Banda Hétera
Antônio Ziviani
Breno Góes
Felipe Ridolfi
Pedro Leal David

Luz: Aurélio de Simoni
Cenário: Aurora dos Campos
Figurino: Colmar Diniz
Direção de movimento: Sueli Guerra
Adereços: Tuca
Preparação vocal: Pedro Lima
Assistente de direção: Carolina Godinho
Assistente de cenografia: Paula Tibana
Assistente de figurinos: Katerina Amsler
Assistente de direção de movimento: Priscila Vidca
Visagismo: Diego Nardes
Fotos e vídeos: Ananda Campana
Programação visual: Thiago Sacramento
Assessoria de imprensa: Daniella Cavalcanti
Sonorização: Cláudio Serrano (Dioclaw)
Assistente de visagismo: Paula Inez
Operador de luz: Rodrigo Bispo
Produção executiva: George Luis Prata, Thamires Trianon e Valéria Alves
Assistente de produção: Igor Miranda
Realização: 2BB2 Produções Artísticas