Foto: divulgação
Jamilly Mariano, Eduarda Fadini e Stephanie Serrat |
Musical celebra os 50 anos de carreira de Beth Carvalho
“Andança – Beth Carvalho, o musical” é o espetáculo que celebra os 50 anos de carreira da Madrinha do Samba. Com texto de Rômulo Rodrigues e com direção de Ernesto Piccolo, no elenco de 23 atores e de dez músicos, há destaques para Eduarda Fadini, que interpreta a protagonista na sua fase mais madura, e para Ana Berttines, que dá vida à fã Isaura. Maurício Baduh e Lenita Lopez, nos papéis de pais da homenageada, também fazem boa participação. Há ainda ótimos figurinos de Ney Madeira e de Dani Vidal e cenário de Clívia Cohen. Com mais pontos positivos de que seus pares, esse musical biográfico está em cartaz no Teatro Maison de France até o dia 20 de dezembro.
Dramaturgia supérflua
Muitas vezes apontada como um defeito na dramaturgia de musicais biográficos, a cronologia é um problema em “Andança” também. Por começar na infância de Beth Carvalho e ir até o momento atual, o modo excessivamente linear da narrativa a torna óbvia e o ritmo problemático. No entanto, a superficialidade é o pior do texto de Rômulo Rodrigues. Pelo modo como a vida da personagem protagonista está retratada, tudo parece ter sido muito fácil para ela: talento bem desenvolvido com incentivo dos pais desde a infância, mudança para a zona sul do Rio onde ficou mais próxima do advento da bossa nova, convites cada vez melhores para oportunidades sempre mais importantes, sucesso fluído, sempre ascendente e vigoroso sem qualquer conflito relevante.
Nas poucas cenas em que algum problema é sutilmente mencionado, esse mesmo aparece logo em seguida plenamente resolvido de maneira que toda a dramaturgia é claramente mera desculpa para a entrada das 59 canções que fazem parte do repertório. 2500 de história da teoria da narrativa já nos dizem que o valor de um herói se mede a partir de uma equação entre o tamanho de seu desafio e o número de suas habilidades em vencê-las. Sem contar bem uma história, a dramaturgia de “Andança” não consegue se desvincular do que o público já sabe sobre a vida da cantora e, por isso, fica absoluta e negativamente supérflua no espetáculo que a homenageia.
O título “Andança” se deve à canção homônima composta por Paulo Tapajós, Danilo Caymmi e por Edmundo Souto e que participou do 3º Festival Internacional da Canção, promovido pela TV Globo, em setembro de 1968. Na ocasião, ela foi defendida pelos Golden Boys (que cantavam a maior parte do solo) e por Beth Carvalho, até então desconhecida do grande público. Trata-se de uma das canções mais bonitas do repertório da música popular brasileira, mas, naquele momento, ficou em terceiro lugar, perdendo para a favorita "Pra não dizer que não falei de flores”, que ficou em segundo, e para “Sabiá”, que venceu na opinião dos jurados. É também o título de seu primeiro LP, lançado pela Odeon em 1969, que a consagrou como uma das maiores cantoras do país de então e até a atualidade.
Eduarda Fadini e Ana Bertines brilham vigorosamente
Há poucos destaques no elenco numeroso. Quase sem similaridades na caracterização que auxiliem a identificar os vários personagens meramente ilustrativos – aqueles que só servem para ilustrar a época sem função com o desenvolver da história -, é o texto que fica com a maior responsabilidade de indicar quem faz o quê. Mesmo assim, é possível encontrar mérito nas brevíssimas participações de Rebeca Jamir (Maria Bethânia), Wal Azzolini (Clementina de Jesus) e de André Muato (Milton Nascimento). Lenita Lopez e Maurício Baduh, que interpretam os pais, fazem ótimas colaborações no primeiro ato, elevando os valores do espetáculo. Prejudicadas pela dramaturgia, que lhes confere um linear enquadramento de boa moça feliz e sorridente, Jamilly Mariano (Beth criança) e Stephanie Serrat (Beth na juventude) pairam inexpressivas. A forte presença cênica e sobretudo a potente voz que enfim faz jus à personagem-título conduzem Eduarda Fadini (Beth na maturidade) ao maior destaque de toda a produção.
Ana Berttines |
O sucesso de Ana Berttines na interpretação da fã Isaura evoca alguns aspectos bastante interessantes. Até a personagem aparecer, quase no fim do primeiro ato, toda a narrativa surge no palco pautada naquilo que já se sabe sobre Beth Carvalho. Com graça, humor e carisma, Isaura chega para contextualizar a história, aproximando o espetáculo do seu público. A partir de então, deixa-se de apenas contemplar a biografia de Beth Carvalho e passa-se a torcer para que a fã e a cantora se encontrem. O afeto que essa relação recupera é imediatamente identificável. Sob o âmbito da dramaturgia, que deu espaço para o surgimento desse personagem, mas principalmente da direção e da interpretação, através dos quais o público tem acesso a ela, trata-se de um dos melhores aspectos desse musical.
"Andança" se destaca entre os musicais biográficos
O cenário de Clivia Cohen, com poucos mas pontuais elementos, dá conta de tudo o que o espetáculo precisa para acontecer no palco em franca exuberância. O figurino de Ney Madeira e de Dani Vidal age no mesmo sentido, caracterizando a época e fazendo boas alusões aos personagens. O visagismo, em que os penteados carecem de maior cuidado, perde a oportunidade de ser melhor. O espetáculo tem excelente desenho de luz de Djalma Amaral. A direção musical de Rildo Hora, com arranjos vocais de Pedro Lima, conferem ao todo resultado exuberante que elogia as composições originais. As coreografias de Sueli Guerra são boas, mas sem destaque.
A direção de Ernesto Piccolo, com assistência de Marcio Vieira, esbarra na lentidão do roteiro, que deixa o espetáculo longo. O excesso de triangulação, em que se valorizam demais as cenas jogadas para a plateia e com pouco jogo interno, também não ajuda o ritmo. Entre as muitas produções dentro do mesmo formato musical biográfico, “Andança – Beth Carvalho, o musical”, no entanto, é um dos que apresenta melhor resultado.
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FICHA TÉCNICA
Texto: Rômulo Rodrigues
Direção: Ernesto Piccolo
Direção Musical e Arranjo Instrumental: Rildo Hora
Preparação Vocal e Arranjo Vocal: Pedro Lima
Elenco - Personagens
Stephanie Serrat - Beth Carvalho jovem
Eduarda Fadini - Beth Carvalho madura
Jamilly Mariano - Beth Carvalho criança
Ana Berttines - Isaura
Lenita Lopez - Nair, mãe de Beth
Mauricio Baduh - João, pai de Beth / Chacrinha
Andre Muato - Nelson Cavaquinho / Milton Nascimento / Arlindo Cruz
Paulo Ney - Martinho da Vila e outros
Rodrigo Drade - Flavio Cavalcanti e outros
Andre Luiz Rangel - Edson Cegonha e outros
Barbara Mendes – Vânia, irmã de Beth / Marlene e outros
Rebeca Jamir - Maria Bethania / Nora Ney e outros
Renata Tavares - Carmelia Alvez / Porta Bandeira e outros
Flavio Mariano - Jamelão e outros
Wal Azzolini - Clementina de Jesus e outros
Tathiana Loyola - Aracy de Almeida e outros
Cesar Soares - Tibério Gaspar e outros
Douglas Vergueiro - Zeca Pagodinho e outros
Késia Estacio - Prof. Julieta / enfermeira e outros
Leo França - Cartola / Silvio Caldas / Danilo Caymmi e outros
Leonan Moraes - Rildo Hora / Mestre Sala e outros
Tomaz Miranda - Paulo Rocco / Edmundo Souto e outros
Lu Vieira - Emilinha Borba e outros
Músicos
Dirceu Leite - sopros
Marcio Eduardo Melo - teclados
Jamil Joanes - baixo
Helbe Machado - bateria
Alessandro Cardoso - cavaquinho
Rafael Prates - violão
Mestre Chuvisco- percussão
Waltis Zacarias - percussão
China Show - percussão
Ninil- Sopros
Direção de Movimento e Coreografias: Sueli Guerra
Som Design: Marcelo MDM
Cenografia: Clivia Cohen
Figurinos: Ney Madeira e Dani Vidal - Espetacular Produções & Artes
Iluminação: Djalma Amaral
Diretor Assistente: Marcio Vieira
Direção de Produção: Ana Berttines e Rômulo Rodrigues
Patrocínio: Ministério da Cultura – Governo Federal, Governo do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro, Correios e Petrobras
Realização: PRAMA COMUNICAÇÃO
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany