quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Pra mim, chega! – Uma história carioca (RJ)

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Foto: divulgação

Miguel Thiré e público no Teatro Leblon


Em espetáculo solo, Miguel Thiré brilha

“Pra mim, chega! – Uma história carioca” é um divertido monólogo em que o ator Miguel Thiré, sem ajuda de parafernália cênica, interpreta sete personagens que, de alguma forma, se cruzam em um dia de sol no carnaval do Rio de Janeiro. Escrita por ele e por seu irmão Carlos Arthur Thiré, a peça é dirigida por ele e por Igor Angelkorte. A comédia sugere, através das minúcias, um inventário cultural da população da Cidade Maravilhosa a partir de alguns de seus hábitos, posicionamentos e valores. Depois de uma temporada no Teatro Miguel Falabella, a peça, outrora chamada de "Os Ordinários" esteve em cartaz durante o mês de novembro na Sala Fernanda Montenegro, no Teatro Leblon com sucesso.

Os méritos da dramaturgia
No texto, são quatro personagens protagonistas: uma Velhinha moradora de Copacabana, um Gay com TOC, o Funcionário de uma Padaria e um Trombadinha. Quando a narrativa começa, cada um dos quatro aparece separadamente, mas, ao longo da peça, eles vão se cruzando. No universo do segundo personagem, aparecem também seu namorado Arnaldo, o filho desse e um bombeiro que lhe salvou a vida. Outras figuras são citadas na exposição do universo dos demais: um mecânico, amigos do Funcionário, amigos do Trombadinha e o gerente da Padaria são alguns deles.

Todos os personagens aparecem a partir de suas próprias falas e dos diálogos com seus pares, não havendo um personagem narrador que não seja participante das ações. Um dos méritos do texto é a potencialidade dele de dar conta de tudo o que é necessário para o espectador se localizar no contexto e na sua evolução. O outro diz respeito ao vocabulário que caracteriza os personagens, seu modo particular de pensar e de reagir aos acontecimentos do seu entorno.

“Pra mim, chega! – Uma história carioca” sugere um mapeamento cultural de alguns personagens característicos do Rio e seus comportamentos na contemporaneidade. O desapego pelas regras e pela pontualidade, a sensualidade na praia, o preconceito em relação às formas corporais e à orientação sexual e principalmente a influência do carnaval na agenda estão retratados na narrativa. Observar o modo como a plateia reage às observações que vêm do palco sobre essas questões pode ser um espetáculo à parte. De alguma forma, o público se identifica, expressando-se, através da sobora gargalhada ou do silêncio aterrador, o que sinaliza a contribuição dessa obra no incentivo à reflexão e não apenas ao entretenimento.

Miguel Thiré em excelente atuação
Miguel Thiré confirma, nessa produção, sua enorme habilidade expressiva. Na viabilização de marcas mais e menos sutis, o texto encontra na interpretação novas possibilidades de parecer ainda melhor. Os tons, as intenções, os registros, em excelente articulação no palco, agilizam o ritmo. Não há cenários, nem figurinos, desenho de iluminação ou trilha sonora: tudo está nas variações do trabalho de Miguel Thiré como ator e nos méritos do texto e da direção dos quais ele também faz parte. Trata-se de um excelente trabalho!

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Ficha técnica:
Idealização, criação e performance - Miguel Thiré
Coautoria - Carlos Artur Thiré
Codireção - Igor Angelkorte
Diretor Assistente - Samuel Toledo
Figurino - Maria Whitaker
Programação Visual - Carol Fanjul
Mídias Sociais - Patricia Vazquez
Assessoria de Imprensa - Nova Assessoria e RP
Registro Videográfico – Eduardo Chamon
Fotos - Faya
Produção - Norma Thiré