"Ricardo" é o primeiro trabalho de direção de Carolina Pismel e de Débora Lamm |
Revelações
Carolina Pismel e Débora Lamm garantem o sucesso de “Ricardo” ao dirigir a peça e, a partir de seus trabalhos, darem forma para as situações absurdas criadas pelo elenco que assina a dramaturgia. É excelente ver o teatro do absurdo ainda dizendo tanto e com tanta potência. No caso da montagem que cumpriu temporada no Teatro Maria Clara Machado, vale destacar as excelentes interpretações de Anita Chaves e de Karina Ramil, ambas revelações do teatro carioca. O todo é divertido e inteligente, bem encenado e produzido com méritos.
O texto justapõe uma coleção de histórias absurdas que versam sobre relações entre atrizes e autor, irmãs, desconhecidas e seus amores platônicos, amizades virtuais, etc. Na primeira cena, quatro atrizes procuram um autor para que ele aceite o desafio de dar oportunidades a elas de interpretarem personagens que lhes são raros, visto que elas estão cansadas de sempre fazerem em cena as mesmas figuras. Porque essa é uma cena que abre uma peça de teatro falando sobre uma peça de teatro que está para nascer, justifica-se o esperar por parte do público que o que vem a seguir seja a peça a ser escrita. Não é. A cena seguinte é uma outra esquete, sem qualquer relação com a primeira. Nesse movimento extremamente complicado, mas bem articulado, o espectador se vê jogado de um lado para o outro sem que lhe tenha sido dado o direito de criar raízes. E é sobre isso “Ricardo”, sobre a falta de lógica nas relações contemporâneas. Por isso, por dizer em forma um conteúdo tão interessante, é que a produção ganha elogios. A linguagem viabiliza a língua criativamente, com excelente ritmo, apesar dos percalços.
Principalmente na história da mulher que se apaixona pelo porteiro, passando pela cena do bate-papo virtual e chegando no jantar entre irmãs, “Ricardo” apresenta duas grandes atrizes: Anita Chaves e Karina Ramil têm tempos bem conduzidos, expressões bastante bem utilizadas, tempos postos a serviço pleno da comédia farseca da qual o teatro de absurdo parte em sua gênese. Nem todas as cenas, infelizmente, têm o mesmo sucesso, como também os demais trabalhos de interpretação, mas é possível ver nisso oportunidades de oxigenação da fruição que são positivos. “Ricardo” conquista aos poucos e deixa gostinho de “quero mais” no final.
São excelentes os figurinos de Nina Reis e todo o lugar visual e sonoro da peça que circunstancia esse discurso líquido, evolutivo, sem convites à catarse ou mesmo à reflexão. Ao utilizar de cores, de texturas, de origens estéticas divergentes, as estruturas não-cênicas da narrativa contribuem para o significado que, como se disse, é construído aos poucos.
Dentre todos os elementos, o mais significativo é a direção de Lamm e de Pismel que dá a ver jogos cênicos bastante vivos e que dão conta de preencher os lugares áridos que algumas histórias parecem querer proporcionar. O senso de ritmo, visto nesse primeiro trabalho de direção tanto de Débora como de Carolina, é admirável. Aparentemente sem pretensões, “Ricardo” oferece ótimos resultados à cena dramatúrgica e teatral carioca. Evoé.
Ficha Técnica:
Texto: Andrezza Abreu, Anita Chaves, Karina Ramil, Lorena Comparato e Raphael Janeiro.
Direção: Debora Lamm e Carolina Pismel
Elenco: Andrezza Abreu, Anita Chaves, Karina Ramil, Lorena Comparato e Raphael Janeiro
Stand In: Gabriela Flarys
Iluminação: Renato Machado
Figurino: Nina Reis
Cenário: Estúdio Gambiarra
Trilha Sonora: João Nitcho
Ass. de Imprensa : Luciana Duque e Ivone de Virgiliis
Direção de Produção: Tatianna Trinxet
Produção: Espaço Move Entretenimento
Realização: 3C Produções
Acho um trabalho incrível a construção de "Ricardo". Essas meninas ganharam um festival teatral com grande mérito e hoje em dia, elas estão mostrando o que elas são exímias em fazer: Teatro e Interpretação. Concordo em plenitude das atuações maravilhosas de Karina Ramil e Anita Chaves. Mas, coloco em ênfase também, a interpretação da atriz Andrezza Abreu que tem cenas memoráveis que volta e meia quando me pego refletindo sobre o espetáculo "Ricardo", é impossível esquecer a cena do diálogo de internet com personagem "Dani da Barra" que é engraçadíssima (#disposição) e a irmã da cena do Jantar, apesar das caras e bocas sensacionais de Karina, a irmã tem seu papel crucial para sustentação da cena! De um todo "Ricardo" é excelente e quero ver novas temporadas!
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