Filipe Catto no show |
O universo expressionista de Filipe Catto
Do ponto de vista teatral, o show “Entre Cabelos, Olhos e Furacão", apresentado na última quarta-feira, 9 de outubro, no Theatro Net Rio, é um sucesso talvez tão grandioso como o é enquanto musical. No espetáculo, os elementos significativos são bem articulados, construindo discretamente uma atmosfera propícia (e bem vinda) para a fruição das letras cantadas em altas doses de potencialidade. A começar pelo refrão "Seu moço, traz mais uma gelada que a nega aqui hoje teve alforria!", da música “Roupa do corpo”, a primeira grande canção do repertório, todos os signos refletem o universo expressionista das letras. A personagem que sai de casa apenas com a roupa do corpo volta a aparecer criminosa (“Crime Passional”), solitária (“Nescafé”), excitada (“Adoração”), leve (“Dia Perfeito”) e solitária outra vez (“Luz Negra”), mas sempre muito apaixonada. E são esses sentimentos quem ditam as regras que dão a ver o mundo do qual ela tenta nos convencer: formas diagonais, muitas sensações, emoções afloradas, cores e tamanhos em oposição. Em tudo, há coesão e coerência, marcas de um percurso textual bem escrito e bem apresentado.
Filipe Catto, cantor gaúcho de 25 anos, é contratenor, isto é, próximo correspondente do contralto (feminino), sua voz é aguda e seu intérprete parece à vontade quando em falsete. O resultado, uma voz que não é grave para um homem e nem aguda para uma mulher, argumenta em favor de uma figura que não pertence a nenhum lugar ou sentimento, mas é livre. Sem dúvida, o material sonoro de que o músico dispõe está plenamente a serviço das letras que compõe e canta, o que reforça as marcas realistas que são apenas ponto de partida para a fruição do expressionismo. Vítimas das emoções, seus personagens são amantes antes de serem homens ou mulheres, sempre em atividade, inconformados com o que destino lhes providenciou e em luta por algo melhor. A voz de Catto é forte e potente mesmo quando é sussurro, não deixando-se fixar, assim, sob a égide de nenhuma classificação da ordem do tom ou do volume. Forma e conteúdo, dessa forma, marcam de novo a coerência já apontada.
Sobre os demais elementos estéticos, o repertório casa-se bem com o belíssimo desenho de iluminação, esse cheio de focos solitários e potentes, dispostos em diagonais ou em plongèe absoluto, ambas escolhas que desformam as formas e, por isso, ratificam o expressionismo. A lâmpada solitária, o coração de neon, as luzes coloridas dão a ver um universo de bas-fond, em cuja noite esses seres inconformados se movimentam bem. Nele se encontram Billie Holliday e Edith Piaf, Amy Winehouse e o grupo dos 27, além da nata do samba brasileiro da mítica Lapa de outrora, mesmo sendo todos eles expoentes de gêneros musicais diferentes. Filipe Catto, assim, com “Entre Cabelos, Olhos e Furacão", está em outro lugar que não é o mesmo de Marcelo Camelo, Marcelo Jeneci, Tulipa Ruiz, Tiê e de Malu Magalhães, entre outros, expressando a diversidade da nova música brasileira.
“Entre Cabelos, Olhos e Furacão" é o segundo disco de Catto, seguido de “Fôlego”, lançado em 2011. Eis um artista cujo trabalho vale a pena conhecer e acompanhar.
Parabéns pelo belíssimo texto, Rodrigo! Falou tudo.
ResponderExcluirUm texto tão bem apresentado assim é pertinente à trajetória musical de Filipe Catto, parabéns, Rodrigo Monteiro.
ResponderExcluirEle está, sem desmerecer ninguém alguns degraus além .
ResponderExcluirUm texto tão bem produzido assim é pertinente à trajetória musical de Felipe Catto, parabéns, Rodrigo Monteiro.
ResponderExcluirÓtimo texto sobre o show!
ResponderExcluir:]
Um texto tão bem articulado assim, coerente, e, pertinente à trajetória musical de Filipe Catto, só merece elogios, parabéns, Rodrigo Monteiro.
ResponderExcluirMaravilhoso Filipe Catto, ótima crítica!
ResponderExcluirFilipe Catto maravilhoso! Ótima crítica, realmente o Filipe é um dom diferenciado entre as novidades na cena da nova música brasileira!! Divo!!
ResponderExcluirExcelente critica, se não a mais profunda e passional, tão apaixonante quanto a voz desse menino genial!...eu colocaria, ainda que a imagem de Filipe completa o cenário teatral, com uma beleza ímpar, num mix androgino e blase com cabelos desarrumados de criança, remetendo ao angelical e pecaminoso!!! INTENSO, PASSIONAL!!!♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥
ResponderExcluirFilipe Catto com tão pouca idade , carrega uma grande bagagem de cultura musical, sendo assim, transita com muita propriedade e segurança nos varios estilos e formatos musicais . Sua interpretação no palco e timbre d voz são geniais !! merece todo reconhecimento e respeito! Viva Filipe Catto!! Parabens pelo texto detalhista !! att Nancy Cruz
ResponderExcluirRodrigo Monteiro, só posso elogiar seu texto. Com certeza , todos elementos se casam...a iluminação...o figurino....a interpretação...a voz.....
ResponderExcluirFilipe Catto, um menino de rosto angelical,com uma voz belíssima, precisamos de gente assim, pois a mídia tem mostrado tanta música ruim, que realmente Filipe me fascinou com suas composições e interpretações. Como você citou acima" eis um artista cujo trabalho vale a pena conhecer e acompanhar". Parabéns!
Rodrigo Monteiro,só posso elogiar seu texto. Com certeza todos os elementos se casam...iluminação....figurino....postura de palco....interpretação....voz...............
ResponderExcluirFilipe Catto um menino de rosto angelical e de uma voz belíssima. Me fascinou pela suas composições e interpretações. Nós andamos tão pobres de coisas boas...Como vc mesmo citou acima:"eis um artista cujo trabalho vale a pena conhecer e acompanhar." Parabéns!
Crítica imparcial! PERFEITA tradução do show "Entre cabelos, olhos e furacões" ... Estive no Tom Jazz mas não conseguiria analisar friamente como vc fez!!
ResponderExcluirFilipe Catto é um acontecimento! Pura emoção e paixão. Contagia e arrebata! Aí fala o coração, não a razão...