terça-feira, 1 de outubro de 2013

O príncipe (RJ)

Henrique Guimarães é Maquiavel em "O Príncipe"
Foto: divulgação

Meramente ilustrativo

“O príncipe” é um espetáculo ruim. Dirigido por Leona Cavalli e interpretado por Henrique Guimarães, no monólogo, não é possível nem identificar uma boa direção e nem um bom trabalho de interpretação. A dramaturgia, por sua vez, do ator e de Ana Vitória Monteiro, também é cambaleante. A produção tem o mérito de oferecer um belo trabalho de iluminação de Ricardo Fujii. Quanto ao resto, valem as justificativas para esta crítica, a peça artística sempre como objeto-motivo para uma reflexão sobre o fazer teatral. 

Baseado no livro homônimo de Nicolau Maquiavel (1469-1527), o espetáculo se apresenta com a entrada do autor vindo dos confins do tempo para os dias de hoje na cena inicial. Nesse sentido, a dramaturgia abre espaço para uma reflexão crítica sobre a obra “O Príncipe”, citando, por exemplo, comentários críticos de Napoleão Bonaparte, entre outras citações mais contemporâneas. A questão é que, embora o personagem, afirme que “não se deve ficar em cima do muro, mas tomar partido”, o próprio espetáculo não avalia, não se posiciona, não decide sobre as teses que levanta. Com a mesma força que preserva as sugestões de seu autor de matar e perseguir os inimigos, valoriza o conselho de governar ao lado do povo. O resultado é uma plateia silenciosa nas questões mais liberais, e consequentemente reprováveis, e vibrante na hora em que Maquiavel exorta a importância dos menos favorecidos. Quem pensa sobre o espetáculo além de apenas lho assistir passivamente, há de convir que as teses são contraditórias para o pensamento de hoje, mesmo que não o fossem há quinhentos anos, quando a obra foi escrita. Por isso, assistir a uma dramaturgia que não defende esse ou aquele lado e tampouco deixa claro a responsabilidade do público quanto a isso deixa dúvidas sobre sua coerência enquanto estrutura que poderia ser coesa.

Na intepretação, não há uma só palavra que não seja acompanhada por um gesto. Para citar, há um momento em que Henrique Guimarães fala em "banquete" enquanto suas mãos, com palmas viradas para dentro, se movimentam em direção à boca. Assim, frase por frase, todo o texto é acompanhado por ilustrações gesto-corporais que superficializam o trabalho de interpretação e o tornam mera (e ruim) representação. Henrique Guimarães é um ator bonito que sabe que o é. Na direção de Leona Cavalli, parece haver uma desconsideração do teatro e uma valorização do intérprete, que “se vende” para a luz, para as meninas do público, para as trocas e ausências de figurino. A reflexão que o espetáculo promete gerar não encontra marcas cênicas que a permitem acontecer, isto porque as palavras são apenas trilha sonora para um encarrilhamento de ações sem justificativas inteligentes. 

É interessante o desenho de luz de Fujii, que opta por nunca aparecer em plongée absoluto. Os focos de luz, sempre bastante recortados, vêm de baixo ou do centro, aumentando a impressão de eternidade e criando uma atmosfera expressionista que, apesar de se perder pela direção, pela interpretação e pela dramaturgia, poderia oferecer uma profundidade simbólica bem interessante. 

Em cartaz na Sala Multiuso do Mezanino do Sesc, o espetáculo veio acompanhado de uma série de debates sobre o livro de Maquiavel. Talvez neles esteja a profundidade reflexiva que a obra artística não conseguiu viabilizar dessa vez. 

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FICHA TÉCNICA
Direção: Leona Cavalli
Elenco: Henrique Guimarães
Dramaturgia: Ana Vitória Monteiro e Henrique Guimarães
Assistência de Direção: Juliana Schalch
Cenário: Henrique Guimarães e Leona Cavalli
Luz: Ricardo Fujii
Figurino: Mariana Baffa
Sonoplastia: Renato Alscher
Arte gráfica: William Gatner
Fotos de divulgação: Ricardo Fujii
Produção: Boas Novas Produções Artísticas
Coordenação de produção: Henrique Guimarães e Juliana Schalch
Convidados dos debates: Eugênio Lima, André Gardel e Luiz Eduardo Soares
Assessoria de imprensa e Mediação dos debates: Ramon Mello

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