Marcéli Torquato, Ícaro Salek e Iuri Kruschewsky em cena |
Indeciso e monótono
“Não há melhor do que a nossa casa” não diz a que veio. O espetáculo termina sem ser sobre lar, afeto, família, nem sobre laços embora essa intenção seja anunciada no release e no programa. O que se viu, no Palco da Sede das Companhias, é muito mais o resultado de um experimento de dramaturgia e de direção do que propriamente um bom espetáculo. Cheia de hermetismo, a peça escrita (em parceria com Ana Carolina Bradilli) e dirigida por Pedro Emanuel é monótona porque tergiversa cenicamente, fugindo cada vez mais de algum ponto enquanto chama a atenção para o uso dos signos sem objetivo definido aparentemente. É uma produção da Cia em Obra, grupo formado há um ano, por egressos do Curso de Teatro da UniverCidade.
Dois núcleos narrativos estão justapostos. Em um deles, um casal (Ícaro Salek e Marcéli Torquato) que acabou de se casar, chega em seu novo lar. Em outro, três irmãos (Júlia Mendes, Iuri Krushewsky e Eduardo Parreira) procuram pela casa os documentos do imóvel a fim de vendê-lo diante do desaparecimento repentino dos pais. O clima expressionista se vê nos dois núcleos: os noivos nunca tiram a roupa da cerimônia de casamento, o marido sai constantemente de casa sem nunca dizer para onde vai, há um telefone que toca sem que ninguém fale do outro lado da linha. Em um determinado momento, os irmãos chegam à conclusão de que não se lembram de seus pais e não têm certeza de que eles realmente existiram. Não sabem seus sobrenomes e não há provas de que os três sejam realmente irmãos. Gisele (Mendes) tem pesadelos constantes em que vê um homem com capa de chuva. E chove. O espectador tem, com isso, pistas para identificar o casal como pais dos três irmãos, mas, enquanto se perde nessa investigação, fecha qualquer espaço para refletir sobre os temas anunciados: lar, afeto, família, raízes.
A iluminação de João Gioia reforça o gancho expressionista, se utilizando de focos que deformam os personagens e preenchem o espaço de escuros e de diagonais que ficam interessantes sobre os seis painéis que giram pelo palco e dão a ver corredores imensos e labirínticos, ambientes que se esvaem, lugares oníricos (mas não surrealistas). No mesmo sentido, a trilha sonora de Alexandre Velosso, Liebert Rodrigues, Mario Terra e de Zeca Richa auxilia no clima de suspense que exala a emoção, essa semente para o contexto expressionista já apontado (A desforma das figuras é motivo da emoção de quem as vê. O espectador vê personagens e lugares tortos, porque faz isso através dos olhos conturbados dos personagens.), enquanto a forma como os atores dizem o texto é recheada de teatral musicalidade, criando na fala outro elemento aparente além do próprio texto. Por essa profusão descontínua de usos dos signos teatrais, conclui-se o hermetismo da produção.
Diante dessas marcas, pode-se dizer que ou “Não há melhor do que a nossa casa” fala muito mais de si e para si do que para o público, ou que não sabe o que diz, dizendo coisas interessantes sem saber que assim o está fazendo. Vale ainda citar que o elenco, assim como todos os demais elementos, têm trabalhos positivos, mas habitam, devido a essa indefinição conceitual, um lugar além da avaliação infelizmente.
Ficha Técnica
Texto: Pedro Emanuel, em parceria com Ana Carolina Bradilli
Direção: Pedro Emanuel
Assistente de direção: Pedro Casarin
Elenco: Eduardo Parreira, Ícaro Salek, Iuri Kruschewsky, Julia Mendes e Marcéli Torquato
Iluminação: João Gioia
Cenário: Cadu Mader
Figurinos: Tiago Ribeiro
Trilha sonora: Alexandre Velosso, Liebert Rodrigues, Mario Terra e Zeca Richa
Músicos em cena: Mario Terra e Zeca Richa
Costureira: Lú
Realização: Cia em obra e Projeto VEM!
Produção: Luisa Barros
Assessoria de imprensa: André Gomes
Fotógrafa: Aline Macedo
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