quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Piquenique front (RJ)

Leo Campos, Alexandre Lino, Mariana Martins e Tom Pires
Foto: divulgação

Má direção de Jacqueline Laurence

A questão mais problemática na montagem de “Piquenique no front” em cartaz no Parque das Ruínas, em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, é que é mal dirigida por Jacqueline Laurence, que, aliás, assina a tradução do texto. Escrita em 1952 pelo dramaturgo espanhol Fernando Arrabal (sua primeira obra teatral), a peça é uma das inauguradoras do teatro do absurdo. Por esse nome, chama-se o gênero cênico-narrativo que se utiliza do realismo justamente para criticá-lo. O espectador/leitor (e o dramaturgo), nesse universo, é como um deus estrategista que vê os personagens de cima, admirando eles agirem sem lógica em um contexto improvável, o que é metáfora para explicar a vida social contemporânea: muitas vezes sem explicações que deem conta dos acontecimentos. Na produção atual, os atores, de um modo geral, conversam em um tempo lento demais, com expressões muito marcadas que beiram ao (mal feito) teatro infantil infelizmente. Mariana Martins apresenta um péssimo trabalho de interpretação. 

Uma guerra no século XX está acontecendo. É domingo e os bombardeios terminaram há poucos segundos. Sozinho e entediado em uma trincheira, o soldado Zapo levanta-se do chão e continua o que estava fazendo antes do cair de bombas: tricotar. Para a sua surpresa, seu pai e sua mãe (o senhor e a senhora Tépan) chegam para um alegre piquenique no campo. Eis que um soldado inimigo aparece, pondo em risco a descontração do momento. Esse é o mote da peça de Arrabal e o teor estético do teatro do absurdo: o inusitado em um soldado tricotar no intervalo entre bombardeios, o improvável nos pais desse soldado atravessarem alegremente o campo de batalha para desfrutar de um piquenique, e o impensável em um inimigo juntar-se a esse grupo está apenas no olhar do espectador, pois os personagens vivem realisticamente. Não é o que se vê na direção de Laurence: os diálogos são lentos, as expressões exageradas, as reações desfocadas. 

Tom Pires (o inimigo Zepo) tem boas expressões faciais, Alexandre Lino (o Sr. Tépan) deixa ver um pai orgulhoso e Leo Campos (o soldado Zapo) contrói um protagonista positivamente ingênuo, mas é na contracena que “Piquenique front” fracassa, pois a estrutura não é só absurda para quem vê, mas também é estranha para os personagens que a interpretam. Mariana Martins usa muito mal a própria voz nas falas da Sra. Tépan, produzindo agudos bastante falsos, além de expressões faciais muito marcadas. O ritmo da direção é pesado, marcado, fazendo com que não apenas o conteúdo seja ilógico, mas também negativamente a forma. O realismo bem vindo nos sacos de areia, nos objetos do piquenique e nos figurinos não encontra eco no pano de fundo (como também nas interpretações como já se disse). As opções estéticas, nesse sentido, estão usadas desequilibradamente. 

Idealizado por Alexandre Lino, o projeto tem o mérito de marcar os 80 anos de Arrabal comemorados em 2012. Valeria também uma mostra de “Fando e Lis”, “O cemitério de automóveis” e “O Arquiteto e o Imperador de Assíria”. 

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FICHA TÉCNICA
Direção e Tradução: Jacqueline Laurence
Texto: Fernando Arrabal
Atores: Alexandre Lino (Sr. Tépan), Mariana Martins (Sra. Tépan), Leo Campos (Zapo), Tom Pires (Zepo), João Fraga (enfermeiro 1) e Diogo Pivari (enfermeiro 2)
Direção Musical: Carol Futuro
Iluminação: Lara Cunha
Cenário: Karlla de Luca
Figurinista: Ticiana Passos
Direção de Produção: Alexandre Lino
Produção Executiva: Denise Lima e Eduardo Almeida
Produtores Associados: Alexandre Lino, Mariana Martins, Leo Campos e Tom Pires.
Design Gráfico: Arthur Schreinert
Fotógrafo: Janderson Pires
Visagismo: Nilton Marques
Assessoria de Imprensa: Mais e Melhores
Assessoria Jurídica: André Siqueira
Idealização do Projeto: Alexandre Lino
Realização: CINE TEATRO PRODUÇÕES

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