terça-feira, 20 de agosto de 2013

O dia em que raptaram o Papa (RJ)

Débora Oliveiri se destaca como Sara Leibowitz
Foto: divulgação

Faz do riso um belo motivo para a reflexão

“O dia em que raptaram o Papa” sinaliza a importância da direção na condução de uma comédia. Escrita nos anos 70, a comédia de João Bethencourt (1924-2006) já passou por 42 países nesses quase quarenta anos. Agora, ganha versão dirigida por Tadeu Aguiar que apresenta bom trabalho de ritmo. Débora Olivieri e Marcos Breda protagonizam a história que têm excelentes participações (virtuais) de Françoise Forton e de Vanessa Gerbelli. Destaque também para o belíssimo cenário de Edward Monteiro. Em cartaz no Teatro Clara Nunes, no Shopping da Gávea, zona sul do Rio de Janeiro, essa comédia conquista o público aos poucos e recebe aplausos merecidos ao final. 

Contrariando Aristóteles, eis aqui uma comédia que não se esforça em aumentar o lado pior dos seres humanos, mas o seu lado melhor. Em visita oficial, o Papa Alberto IV (Rogério Fróes) está em Nova Iorque, nos Estados Unidos, quando é sequestrado pelo taxista judeu Samuel Leibowitz (Breda). O acontecimento, que ganha repercussão internacional, se desenvolve desde a ciência da própria família Leibowitz até os governos de todos os países do mundo. Os motivos que levaram o taxista a sequestrar o Papa, o modo como o pontífice é tratado na casa da família judaica, o desenrolar dessa trama cheia de meandros do húngaro-brasileiro Bethencourt se desenvolvem em um ritmo bastante veloz, motivo responsável para o tom atual dessa comédia de costumes. Os movimentos de cena parecem coreografados, tamanho respeito que a direção de Aguiar, assistido por Flavia Rinaldi, presta ao ritmo, o que é bastante positivo. As falas valorizam as informações principais, as conversas são pulsantes, as trocas de cena são ágeis. Além do que é encenado, há também as intervenções de cenas filmadas de telejornais em que Forton e Gerbelli participam com brilhante ironia. O jogo que se estabelece entre o telão e a cena, e entre o palco e o que acontece na plateia, é bastante bom igualmente. Porque não é um vaudeville, o texto “O dia em que raptaram o Papa” carece de velocidade para não ganhar mofo, o que felizmente não acontece. 

Renato Rabelo (Rabino Meyer) e Marcos Breda (Samuel Leibowitz), mas principalmente Débora Olivieri (a esposa Sara Leibowitz) apresentam excelente trabalho de composição, mas sobretudo de condução das contra-cenas. Com marcas que são bastante claras, não deixando espaço para dúvidas que prejudicariam a comicidade, os personagens agem para dentro de si tão velozmente quanto para em direção aos demais da narrativa. São ótimas também as participações de Rogério Fróes (Papa Alberto IV) e de Silvio Ferrari (Cardeal O’Hara), mas é muito exagerada a presença de Renan Ribeiro (o filho Irving Leibowitz), fora do tom mantido pelos demais. No seu conjunto, o elenco apresenta um trabalho bastante positivo. 

Edward Monteiro dá a ver um belíssimo cenário para a cena acontecer. O ponto alto é a geladeira em forma de táxi, que sustenta o símbolo do sequestro, sem propriamente sê-lo. Em seu cuidado nos detalhes, o figurino da Espetacular! Produções & Artes também cumpre bem o seu papel de informar sobre os personagens sem deixar dúvidas. 

“O dia em que raptaram o Papa” critica a sociedade, apresentando um momento de trégua para as mazelas da humanidade. Expondo o quão bom poderia ser o mundo, a peça faz do riso um belo motivo para a reflexão. Sem dúvida, um ótimo espetáculo para toda a família. 

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FICHA TÉCNICA
Texto: João Bethencourt
Direção geral: Tadeu Aguiar
Diretora assistente: Flavia Rinaldi

Elenco: Rogério Fróes, Marcos Breda, Débora Olivieri, Renato Rabelo, Renan Ribeiro, Silvio Ferrari, Sabrina Miragaia, Fabio Bianchini e Bruno Torquato.

Participação especial em vídeo: Françoise Forton e Vanessa Gerbelli Ceroni
Cenário: Edward Monteiro
Adereços e Direção de arte: Clívia Cohen
Figurinos: Ney Madeira, Dani Vidal e Pati Faedo - Espetacular! Produções & Artes
Desenho de Luz: Rogério Wiltgen
Desenho de som: Fernando Fortes
Trilha sonora: Tadeu Aguiar
Vídeo: Paulo Severo
Projeto gráfico: Claudia Xavier
Fotos: Gustavo Bakr
Coordenação de cenotécnica: J. Faria
Coordenação Administrativa: Sonia Odila
Coordenação de produção: Norma Thiré
Produção geral: Eduardo Bakr e Tadeu Aguiar

Um comentário:

  1. "O Papa" poderá ser remontado mil vezes, e pode vir bem representado como nesta produção. mas o texto é muito fraco, e é uma decepção enquanto comédia.

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