sexta-feira, 2 de agosto de 2013

“E foram quase felizes para sempre” (RJ)

Heloísa Périssé apresenta o seu primeiro monólogo
Foto: Saulo Marqks

Grande interpretação apesar de texto ruim
Primeiro monólogo escrito por Heloisa Périssé, “E foram quase felizes para sempre” está longe de ser um bom texto. Mesmo assim, o espetáculo é bom, o que ratifica o talento da atriz como intérprete e grande comediante. Em cartaz no Teatro Vanucci, no Shopping da Gávea, zona sul do Rio de Janeiro, a peça tem excelente cenário de Miguel Pinto Guimarães e iluminação de Maneco Quinderé. Sem dúvidas, a dupla faz a diferença positivamente ao lado de Périssé na conquista dos aplausos a essa produção. 

Desde o título e a primeira frase, estamos diante de mais um entre tantos espetáculos sobre relacionamentos entre homem e mulher. O encontro, o início do relacionamento, o início das brigas, o início do fim, o fim e a possibilidade do retorno são os passos que todos as peças desse tipo trilham sem exceção. Com um excesso de palavrões nos primeiros diálogos, o prenúncio é de um dos primeiros fracassos com a assinatura Périssé. Felizmente, a promessa não se cumpre. Logo, o jogo de troca de personagens torna-se muito mais interessante que a história propriamente em si e é aí que “E foram quase felizes para sempre” ganha o público pela primeira vez. 

Letícia Amado é uma escritora de livros para viagem e está na noite do lançamento do seu livro “Cantinho pra dois”, em que narra suas impressões sobre vários lugares do mundo onde pode ser interessante ir ao lado da pessoa amada. O problema é que faz seis meses que o seu casamento definitivamente terminou e, embora Paulo Vitor, o ex, ainda não tenha chegado na sessão de autógrafos, é possível que ele apareça. Nervosa, ela começa a contar a sua história para os convidados e o mote é o que necessita atriz para fazer ver, na narrativa desse casamento entre duas pessoas tão opostas apesar do amor que as une, uma galeria de figuras que expõem o seu grande talento e a sua técnica. A psicóloga Lorena, a amiga Celestre, a Mãe, a Irmã, o Cunhado, o Pai, o Marrento, a Puta e o próprio Paulo Vitor aparecem em cena todos juntos na pele de Périssé. Sendo um monólogo, temos um grande espetáculo dirigido por Susana Garcia, que parece fazer evoluir bem a sucessão dos personagens, valorizando o que há de melhor no projeto. 

Miguel Pinto Guimarães, mais uma vez ao lado de Maneco Quinderé com um resultado excelente, cria um cenário simples, mas essencial. Um conjunto de retângulos em diversos tamanhos suspensos no palco cria ambientes múltiplos, enquadrando as personagens quando a atriz passa por entre eles. O ciclorama do fundo compõe o quadro ou os quadros, oferecendo uma noção de espaço, esse desenhado verticalmente, que tem alta qualidade estética. A trilha sonora de Alexandre Elias e o figurino criado por Rita Murtinho também têm bom resultado, participando menos da produção, mas com igual qualidade. 

A relação entre Letícia e Paulo Vitor, embora particular, torna-se motivo para o público pensar nas próprias relações amorosas, sexuais, familiares ou amigáveis. “E foram quase felizes para sempre” é entretenimento, mas, ultrapassando a barreira inicial da revisita aos clichês, há de se encontrar uma grande atriz ao lado de bons profissionais do ramo das artes cênicas em trabalho digno de destaque, unido a plateia em um coro único de seres humanos que querem amar e ser amados. Assim, a peça faz pensar e faz gargalhar, cumprindo o seu papel. Aplausos. 

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FICHA TÉCNICA:
Com HELOISA PÉRISSÉ
Autor Heloisa Périssé
Direção Susana Garcia
Iluminação Maneco Quinderé
Cenário Miguel Pinto Guimarães
Figurino Rita Murtinho
Trilha musical Alexandre Elias
Produção executiva Roberta Brisson
Direção de produção Cristiana Lara Resende
Produção Cris Lara Produções Artísticas
Realização HP Produções Artísticas Ltda

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