Thiare Maia, Cristina Moura, Fabrício Boliveira, Felipe Abib e Helena Bittencourt em cena |
Um espetáculo exuberante!
Há tempos não se via algo tão interessante como “Philodendrus” na programação de teatro carioca (talvez desde “Adeus à carne”). Sem propor nenhuma história que conduza o espectador para uma caminhada horizontal (quando bom, ascendente), o espetáculo dirigido por Cristina Moura prende o espectador e o dirige, sim, para uma caminhada vertical. Trata-se de uma dissertação cênica, isto é, uma estrutura textual que gira em torno de uma tese, aprofundando (quando bom, como é o caso aqui) a discussão a partir de argumentos sólidos. O homem faz parte de um sistema natural estando em mesmo nível que outras partes, embora se considere melhor. “Philodendrus” chama a atenção para a importância dessas outras colunas da estrutura que chamamos de universo, usando a dança e o teatro como conferencistas. Bastante imagética, a peça em que se encontram Fabrício Boliveira, Felipe Abib, Goos Meeuwsen, Helena Bittencourt e Thiare Maia, além de Moura, está em cartaz no Teatro do Jóquei, na Gávea, zona sul do Rio de Janeiro e vale a pena ser visto.
Não é possível dizer com certeza quando e onde as cenas começam e terminam. As figuras, que não chegam a ser personagens, também não estão em algum lugar definitivamente marcado aos olhos do público. Dirige-se à plateia, mas não há propriamente uma conversa. Em tudo, “Philodendrus” movimenta a arte contemporânea com vigor e potência, o enaltece o talento e a dedicação de seus realizadores. O adrama (ausência de drama) é tão válido enquanto arte cênica quanto o drama e o pós-drama, mas é preciso coragem para pô-lo em cartaz, devido ao estigma da não comercialidade. Perde quem não paga para ver: os movimentos no palco impõem um estudo corporal e proxêmico (relação espacial) que é sólido, as palavras mas sobretudo as entonações, os volumes, as pausas e as intenções deixam ver uma concepção que é convergente, os signos outros (cores dos figurinos e dos objetos, suas texturas, dimensões e localidadades, as músicas e os movimentos de luz) estão igualmente bem articulados de forma que manifestam-se como os argumentos que defendem (bem) a tese. Apesar de não se movimentarem como os homens, as plantas ocupam o espaço e o tempo de forma a compensar com isso sua existência ao nosso lado.
Os figurinos de Antônio Guedes, principalmente em Helena Bittencourt e em Fabrício Boliveira, acrescentam porque ratificam o clima sóbrio de conferência/palestra sobre um tema, mas também retificam quaisquer hipótese sobre previsibilidade do comportamento humano (a sunga de tigre). O cenário de Olivia Ferreira e de Pedro Garavaglia ocupam o espaço, oferecendo lugares cênicos que, não usados em cena alguma, podem se tornar depósito de reflexões da fruição. O texto organizado por Gabriel Pardal age enquanto forma no mesmo sentido que conteúdo: existe, mas não se impõe, no que é bastante positivo.
Em “Philodendrus”, todos os intérpretes estão em grandes momentos, o que amplia a potencialidade da obra. Enquanto olha-se para um, perde-se o outro e a responsabilidade pelas escolhas é do público. Nesse contexto, a peça marca-se como excelente metáfora para o tema que desenvolve: a relação sistêmica entre todas as coisas. Exuberante!
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Idealização: Coletivo Planta
Direção: Cristina Moura
Criação: Cristina Moura, Fabricio Boliveira, Felipe Abib, Luciana Paes, Goos Meeuwsen, Helena Bittencourt e Thiare Maia
Interpretação: Cristina Moura, Felipe Abib, Fabricio Boliveira, Goos Meeuwsen, Helena Bittencourt e Thiare Maia
Assistente de Direção: Thiare Maia
Iluminação: Francisco Rocha
Cenário: Estúdio Radiográfico
Figurino: Antonio Guedes
Música original: Rabotnik
Videos: Paola Barreto
Direção de produção: Carla Mullulo
Produção Executiva: Lia Sarno
Administração: Carla Mullulo
Belíssimamente sensata a crítica, é necessário muito conhecimento, percepção e sensibilidade para entender a linguagem teatral expressa em Philodendrus. Eu assisti e fiquei maravilhada, saí do teatro me perguntando: afinal quem sou eu e onde estou? Parabéns a todos que produziram e encenam. Fica aqui a dica: Vale a pena assistir.
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