sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A Revista do Ano - O Olimpo Carioca (RJ)

Foto: divulgação

O melhor espetáculo musical do ano


           “A Revista do Ano – O Olimpo Carioca” é o melhor espetáculo musical do ano no Rio de Janeiro. É engraçado e ágil, faz uma crítica oportuna, tem excelentes intérpretes, grandes cantores e um figurino belíssimo. É puro divertimento para toda a família e uma produção que honra o país, a sua cultura e sobretudo faz jus ao público de teatro da Cidade Maravilhosa. Com supervisão de João Fonseca, a peça tem direção de Sérgio Módena, direção musical de Marcos Pereira e dramaturgia de Tânia Brandão. Em cartaz no Teatro Clara Nunes, do Shopping da Gávea, eis aí um programa imperdível e uma pauta obrigatória. Enfim, o verdadeiro Teatro Brasileiro aparece com toda a sua potência e dignidade. Que seja bem-vindo com as plateias cheias que ele merece. 

Uma “revista” é , antes de tudo, uma revisão dos fatos mais importantes que marcaram o ano. Com uma história tola, cujo único objetivo é ser base de ligação para os fatos revisitados, a narrativa deve correr veloz como o ritmo da comédia assim o pede. Músicas conhecidas do universo popular ganham novas letras, ratificando o tom da crítica ácida. Em todos os elementos de sua estrutura devem pairar, eis a brasilidade que separa a comédia burlesca americana da revista brasileira, a malícia, a chanchada, o apelo sensual e o tom pessimista sempre ricamente embalado em uma terna declaração de amor ao país. “A Revista do Ano – O Olimpo Carioca” tem tudo isso e partem daí os motivos para os elogios que abriram a análise. 

Fugindo do Olimpo, os deuses Hefaísto e Dionísio (Rogério Freitas e Alcemar Vieira) e a musa Labareda (Helga Nemeczyk) escolhem a capital carioca para morar, lugar onde também faz calor, mas onde o povo não se importa muito com isso. Tão logo chegam, se perdem, pois Hefaísto (Freitas) acaba indo parar no subúrbio, enquanto Dionísio e Labareda (Vieira e Nemeczyk) o procuram na zona sul. A trama é lugar potente para o encontro de vários personagens. Aparecem a República (Stela Maria Rodrigues) e o Brasil (Celso André), tomando banho de sol nas areias de Copacabana; o Escândalo (Milton Filho), sempre de olho nos acontecimentos mais vendáveis; além da Lei Seca (Vera Novello), constantemente de olho nos pontos da carteira, inclusive quando o veículo em questão é uma bicicleta laranja. Em busca de Hefaísto, Dionísio e Labareda se encontram também com o agradecido Mosquito da Dengue e a chorosa Perimetral (Cilene Guedes, substituindo Ana Carbatti), com o rejuvenescido Micróbio da Gripe e a legalizada Cidade do Samba (Marta Metzler), com os índios do Rio+20 e com o FDP – Futuro Do Prefeito (Édio Nunes), e com a Colombiana preocupada em decorar as novas regras da sustentabilidade (Ana Velloso). Tudo isso, em meio às explosões de bueiros, às marchas de todos os tipos, à revitalização do Cais do Porto e da Lapa e aos discursos políticos. Recheada com números musicais, as cenas são rápidas e divertidas, as canções bem interpretadas e executadas ao vivo por um conjunto de sete músicos (Itamar Assiere, Nando Duarte, Ricardo Rente, Humberto Araújo, Pedro Mann, Carlos César Motta e Firmino). O malandro carioca e o misticismo religioso, marcas identitárias desse povo amado pelo país, está presente nas devidas pompas e circunstâncias. 

Assistido por Erika Riba, Sérgio Módena tem o mérito de construir um espetáculo em que o grupo tenha destaque como um todo, mesmo que alguns chamem mais a atenção positivamente. Rogério Freitas, mas sobretudo Helga Nemeczyk e e Alcemar Vieira estão excelentes nos papéis protagonistas. Ana Velloso (Colombiana), Édio Nunes (Cais do Porto) e principalmente Milton Filho (Escândalo) se destacam também. Não há uma só participação negativa no grupo que teve vital direção de movimento e ágeis coreografias assinadas por Sueli Guerra. 

Com bom cenário e desenho de luz, o espetáculo tem como grande valor a concepção dos figurinos de Ronald Teixeira e de Flávio Graff. Em uma narrativa cujos personagens são figuras representativas (a Perimetral a ser demolida, a Cidade do Samba e sua relação com o jogo do bicho, Copacabana e seus moradores idosos, além do número de abertura no Olimpo), as roupas, além de apresentar rapidamente o personagem, precisam corroborar com o todo também estabelecendo a crítica. A dupla Teixeira e Graff atinge o alvo em cheio, oferecendo um belíssimo trabalho. 

Idealizado por Marta Metzler e por Marco Pereira, “A Revista do Ano – O Olimpo Carioca” é uma declaração de amor ao Teatro Brasileiro com letras maiúsculas de galhardia. Vida longa ao melhor espetáculo musical do ano! 

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FICHA TÉCNICA

Dramaturgia e Roteiro Musical: Tania Brandão
Direção: Sérgio Módena
Direção Musical: Marco Pereira
Supervisão: João Fonseca

Elenco:
Helga Nemeczyk - Mulher Labareda
Alcemar Vieira - Dionísio
Rogério Freitas - Hefaísto
Ana Carbatti - Yabá Neuza / Assessora / Mosquita da Dengue / Índia / Teatro Carlos Gomes / Perimetral
Ana Velloso - Filha de Santo / Político / Dona de Casa (Rio +20) / Lapa / Bueiro da Laite / Dinheiro da Merenda
Marta Metzler - Filha de Santo / Assessora / Microbio da Gripe / Espaço Sesc / Imprensa / Cidade do Samba
Stella Maria Rodrigues - República / Teatro Clara Nunes
Vera Novello - Estudante / Lei Seca / Vovó Copacabana / Político / Índio / Bueiro da Segue / Dinheiro da Mala
Celso Andre - Miliciano / Brasil / Teatro Municipal
Édio Nunes - Miliciano / Concierge / Cacique / Bandido / Futuro do Prefeito / Cais do Porto
Milton Filho - Escândalo / Bandido / Dinheiro na Cueca

Ator Convidado:
Marcelo Capobiango - Político / Povo / Índio / Bombeiro / Passeata / Hefaísto (stand in)

Elenco / Stand In:
Cilene Guedes - Musa do Olimpo / Estudante / Mulher da Praia
Mona Villardo - Musa do Olimpo / Estudante / Cantora Lírica / Passeata
Thiago Pach - Político / Índio / Bombeiro / Passeata

Músicos:
Itamar Assieri (piano)
Pedro Mann (baixo)
Carlos Cesar Motta (bateria)
Nando Duarte (violão)
Firmino (percussão)
Ricardo Rente (flauta em dó / sax alto e sax soprano)
Humberto Araújo (flauta em dó / flauta em sol e sax tenor)

Cenários e Figurinos: Ronald Teixeira e Flávio Graff
Direção de Movimento e Coreografia: Suely Guerra
Iluminação: Renato Machado
Preparação Vocal: Debora Garcia
Fotos: Eduardo Alonso
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany

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