A homenagem do teatro ao Rei do Baião
“Gonzagão – A Lenda”, o novo musical de João Falcão, deixa a gente com orgulho de ser brasileiros. Com um excelente grupo de músicos e de atores, a encenação é ágil, o espetáculo é bonito de se ver, a trilha sonora é bem executada, o tempo flui. O tema, a celebração da vida de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião (1912-1989), é tratado como uma forma de homenagear com o teatro um dos artistas mais importantes da cultura popular do Brasil.
Com um cenário discreto, mas muitas cores nos figurinos de Kika Lopes, muitas formas nos objetos cênicos de Sérgio Marimba e, sobretudo, muito jogo de cena, o palco se enche de vida logo nos primeiros minutos de espetáculo bem iluminado por Renato Machado. Utilizando sanfonas cenográficas, uma alusão inteligente, rica e engraçada ao instrumento que popularizou Luiz Gonzaga e o Baião, o elenco composto por Adrén Alves, Alfredo Del Penho, Eduardo Rios, Fabio Enriquez, Laila Garin, Marcelo Mimoso, Paulo de Melo, Renato Luciano e Ricca Barros canta, dança e oferece excelentes resultados de interpretação. Com positivo para destaque para Penho e Barros, mas, principalmente, para Garin, Mimoso e Alves, o que se vê é teatro de altíssima qualidade. Executadas ao vivo por Beto Lemos (Viola e Rabeca), Hudson Lima (Cello), Rick De La Torre (Percussão) e Rafael Meninão (Acordeon), as canções foram bem escolhidas e receberam arranjos que organizam a narrativa de um jeito pujante, mas não menos denso.
Assinado pelo diretor João Falcão, o roteiro é o único elemento não totalmente positivo de “Gonzagão – A Lenda”. Com mais de cinquenta músicas mencionadas na trilha sonora, a história não é contada uniformemente, ou seja, a concepção dramatúrgica não é clara. Disposto mais a celebrar o mito Luiz Gonzaga do que oferecer dados biográficos, a narrativa, que assim se anuncia no release, não cumpre totalmente o que promete. Temos um grupo teatral formado apenas por homens a vagar em um lugar e um tempo não determinado, mas com claras referências nordestinas. Eles começam a apresentar a história do Rei do Baião quando se descobre, entre os integrantes do grupo, uma atriz que se diz tão valorosa quanto os homens, exigindo, por isso, o seu direito de permanecer mesmo sendo mulher. O líder do grupo quer expulsá-la, mas prefere refletir melhor. Enquanto isso, o temido mal acontece: ela desperta as paixões dos homens, pondo o grupo em conflito. Tudo isso é contado em paralelo aos fatos da vida de Luiz Gonzaga sem que estejam claras as relações entre um lado e outro dessa dramaturgia. Além disso, na parte em que Gonzaga tem espaço, são valorizados detalhes como quando, onde e o que aconteceu com o homenageado no início da peça que, depois, se perdem, sendo substituídos pela simples citação das músicas. Fluído demais em relação a abertura, o fim é discordante, o que não é de todo negativo, mas diferente. A agilidade da interpretação garante, no entanto, um final apoteótico como se espera em todos os musicais, inclusive os brasileiros.
No ano em que se celebra os 100 anos de Luiz Gonzaga, muitas homenagens estão acontecendo. Eis aqui uma delas maior do que João Falcão e seu grupo. É o teatro, através de tão excelente uso do idioma, quem fala em “Gonzagão – A Lenda”. E fala muito bem!
FICHA TÉCNICA
Texto e direção: João Falcão
Elenco:
Apresentando – Marcelo Mimoso
Atriz Convidada – Laila Garin
e
Adrén Alves, Alfredo Del Penho, Eduardo Rios, Fabio Enriquez, Paulo de Melo, Renato Luciano e Ricca Barros
Músicos:
Beto Lemos – Viola e Rabeca
Hudson Lima – Cello
Rick De La Torre – Percussão
Rafael Meninão / Marcelo Guerini – Acordeon
Direção musical: Alexandre Elias
Direção de movimento: Duda Maia
Direção de produção e Idealização: Andréa Alves
Cenografia e Adereços: Sergio Marimba
Figurinos: Kika Lopes
Iluminação: Renato Machado
Preparação vocal: Carol Futuro
Assistente de Direção: João Vancine
Assistente de Direção musical: Carol Futuro
Assessoria de Imprensa: Daniella Cavalcanti
Programação Visual: Gabi Rocha
Fotos: Silvana Marques
Assistente de Assessoria de Imprensa: Bruna Amorim
Coordenação de Produção: Janaína Santos
Produção Executiva: Regiane Sobral e Thalita Mendes
Estagiária de Produção: Andreza Lima
Coordenação de Planejamento: Mariana Sacramento
Assistente de Planejamento: Clarissa Verdial
Financeiro e Administrativo: Luciana Verde
Prestação de Contas: Ana Caroline Araújo
Apoio de Produção e Administração: Carlos Henrique
Produção e Realização: Sarau Agência de Cultura Brasileira
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