Falta a beleza de Paris
Desde que as luzes se acendem, o espectador sabe que não poderá esperar por muito de “Nós sempre teremos Paris”. Despretenciosa, a nova produção da Barata Comunicações quer ser uma comédia romântica com músicas em francês que ficaram famosas no Brasil e no mundo. A história é sobre um encontro entre um homem e uma mulher de meia idade em um café em Montparnasse, onde lembram de suas vidas desde que estiveram no mesmo lugar vinte anos antes. O espetáculo é isso e nada além ao longo dos seus (apenas) quarenta minutos de narrativa cênica. A questão é que isso é pouco. Menos ainda quando, além de Barata, estão na ficha técnica nomes como Artur Xexéu (que assina o texto), Jacqueline Laurence (a direção) e Tadeu Aguiar e Françoise Forton (no elenco). Frustrante até mesmo para quem esperava pelo pouco prometido.
Artur Xexéu conduz a narrativa de um jeito leve, fluente, ágil. As histórias contadas guardam em si pontos de mudança que surpreendem o espectador e têm o poder de levar a história para outros caminhos que não muito longe (positivamente) dos previstos. Jacqueline Laurence dirige bem a dupla de atores, que expressam a contento o carisma e a tendência para a comédia sofisticada, com nuances nas pausas, nos movimentos de olhar, na forma de dizer o texto. Os figurinos de Valéria Stefani estão de acordo com os personagens e com a proposta: simples, discretos, mas com um toque de elegância.
“Nós sempre teremos Paris” perde uma boa oportunidade de ser comparável em êxito ao “Todos dizem Eu te amo”, filme dirigido por Woody Allen (1996). Tanto a obra cinematográfica como a peça não tinham como intento ser um musical do tipo americano, com grandes vozes, figurinos brilhantes, bailes em escadarias e cenários majestosos. Tadeu Aguiar e Françoise Forton não são grandes cantores como também não o é Woody Allen (É conhecido o fato de que Allen pediu nas filmagens para Goldie Hawn cantar pior para que todos acreditassem que sua personagem era uma pessoa normal, isto é, para que a concepção distante da Broadway se mantivesse amarrada.) e isso, dentro de uma proposta estética, não é um desvalor. O fato é que faltam belezas no espetáculo do trio Barata-Xexéu-Laurence e o repertório, que é bem escolhido, não é suficiente. O cenário de Massimo Exposito é paupérrimo, enfeiando a peça e desvalorizando o público (e o teatro) carioca. Diferente de Aguiar, Forton almeja claramente um registro de voz mais agudo, o que, por não conseguir em diversos momentos, distancia uma concepção de personagem da outra, causando estranheza. Por fim, o repertório, quase completamente cantado em francês e, sem legendas, ainda que bonito teoricamente e plausível nos primeiros minutos, cansa logo em seguida qualquer um que não entenda o idioma, mesmo que concorde ser o francês uma das línguas mais românticas do mundo.
O título “Nós sempre teremos Paris” é uma excelente alusão ao filme “Casablanca”. Paris lá é símbolo de um amor forte e inesquecível vivido entre um casal que, anos depois, se encontra em uma situação completamente diferente. A simbologia é preservada aqui e a produção atual em cartaz no Teatro das Artes do Shopping da Gávea, Rio de Janeiro, faz uma singela, mas bonita homenagem à Cidade Luz. No entanto, não se sai do audiência com um “gostinho de quero mais”, mas com uma vontade de um pouco mais de beleza.
*
FICHA TÉCNICA
Texto: Artur Xexéo
Direção: Jacqueline Laurence
Elenco: Françoise Forton e Tadeu Aguiar
Músicos: Roberto de Brito - Violão / Baixo
Talita Pereira - Percussão
Priscilla Azevedo - Piano / Acordeon
Direção musical: Marcelo Nogueira
Assistência de direção musical: Camila Dias
Preparação vocal: Danilo Timm
Figurinos: Valéria Stefani
Cenografia: Massimo Esposito
Iluminação: Adriana Ortiz
Fotos: Nana Moraes
Programação Visual e Vídeo: Luiz Stein Design
Equipe Barata Comunicação:
Coordenação de produção – Elaine Moreira
Produção Executiva – Bruno Luzes
Assistente de produção - Luisa Viotti
Imprensa – Priscilla Santos
Produção e Assessoria de imprensa: Barata Comunicação
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Bem-vindo!