domingo, 21 de outubro de 2012

Ensina-me a viver (RJ)

Foto: Marco Antônio Gambôa 

É preciso assistir e assistir de novo

Ensina-me a viver” encerra agora sua última temporada de sucesso depois de exatos cinco anos da estreia. Com direção de João Falcão, a peça é a adaptação para teatro feita pelo australiano Collin Higgins (1941-1988), autor do roteiro do filme que antecedeu a versão teatral chamado “Harold and Maude”. Glória Menezes, que completou 78 anos de vida e 53 anos de carreira no palco no dia da reestreia, interpreta Maude ao lado do ator e produtor Arlindo Lopes, que dá vida a Harold. Sucesso de público e de crítica, a produção já ganhou 4 prêmios Qualidade Brasil (Melhor Espetáculo Drama, Melhor Diretor, Atriz e Ator Drama), o Prêmio Contigo de Melhor Atriz para Glória Menezes e o de Melhor Produção no Prêmio APTR de Teatro em que foi recordista de indicações. De volta a cartaz, é um dos melhores espetáculos na programação teatral carioca, fazendo parte da reinauguração do belo Centro Cultural João Nogueira – Teatro Imperator, no Méier, zona norte do Rio de Janeiro. 

A narrativa é contada de um jeito ágil, jovial alegre em termos de ritmo ao mesmo tempo que os elementos visuais ilustram positivamente o clima dark do personagem Harold, que conduz a narrativa. Sensível, inteligente e rico, Harold, 20 anos, não conheceu o pai, convivendo apenas com a mãe (Ilana Kaplan), essa indiferente e autoritária. Porque a relação entre os dois é desprovida de qualquer contato afetuoso, o atormentado Harold tenta chamar a atenção da mãe simulando tragicômicas tentativas de suicídio, enquanto se diverte frequentando velórios e enterros de pessoas desconhecidas. Num deles, conhece a quase octogenária Maude. Ao contrário de Harold, Maude tem uma paixão incomparável pela vida, aproveitando cada segundo de sua existência como se fosse o último. O contato entre esses dois não poderia ser mais inusitado e improvável, modificando definitivamente a vida e a morte da dupla. Maude, cheia de alegria e positividade, ensina ao deslocado Harold os prazeres da vida e da liberdade. Harold presenteia Maude com um fim pra lá de especial. Collin Higgins faz rir e faz emocionar, proporcionando reflexão e entretenimento de altíssima qualidade. A direção de João Falcão age positivamente no mesmo sentido. 

A encenação é vibrante, inteligente e nobre. As cenas são rápidas, o ritmo corre na medida certa, as trocas de cenário, caraterizadas não apenas pela mudança do excelente desenho de luz de Renato Machado, mas pela “dança” das bambolinas (pernas serlianas, coxias), são feitas pelo ótimo elenco de apoio, formado por Verônica Valentim, Guilherme Siman, Walisson de Souza e Jamil Pedro. Assistido por Duda Maia, João Falcão dirigiu o elenco em duas concepções que garantem positivamente a narrativa em termos de forma, mas também de conteúdo. De um lado, temos Menezes e Lopes com interpretações realistas. De outro, Ilana Kaplan, Antônio Fragoso (Tio Vitor, Dr. Matias, Padre Finney, Inspetor Marcos e Caçapa ) e Elisa Pinheiro (Silvia Gazela, Nancy e Dora Alegria) sustentam construções que garantem o lado cômico da história com muita graça e carisma. Enquanto Maude e Harold estão interessados na vida de verdade, o resto do mundo vive das superficiais aparências. Todos no elenco oferecem excelente resultado estético e são dignamente merecedores do sucesso estrondoso que essa temporada de encerramento coroa. A sensibilidade expressada pela total entrega de Arlindo Lopes é comovedora e, por isso, tão cheia de êxito. Com os tempos bem usados e as entonações na medida, a jovialidade de Glória Menezes encanta o público. O fleumatismo exagerado de Kaplan, o excelente uso da voz de Fragoso e e o universo criativo potencial nas construções de Pinheiro são alvos de aplausos agradecidos. 

Kika Lopes exibe um trabalho de altíssima qualidade em todos os figurinos, sobretudo no movimento da palheta de cor das roupas usadas por Harold e no vestido final de Maude, além das roupas das personagens de Elisa Pinheiro. A cenografia de Sérgio Marimba, principalmente nos objetos da casa de Maude, garante ótimo resultado estético. Os efeitos especiais das tentativas falsas de suicídio de Harold são méritos de André Fuentes. A trilha sonora, que encerra positivamente com Beirut, é uma participação meritosa de Rodrigo Penna. Na união de todos esses elementos, Maria Siman está de parabéns. 

Como narra a peça, um sábio persa escrevia em cabeças de alfinetes frases como “Isso também passará”. Se Harold e Maude passarão, assim como nós, o teatro continua nos ensinando a viver. É preciso, no entanto, assistir ou assistir de novo à peça para ter a chance e o privilégio de aplaudir. 

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Ficha técnica

Texto: Colin Higgins
Tradução: Millôr Fernandes
Direção: João Falcão
Elenco: Glória Menezes, Arlindo Lopes, Ilana Kaplan, Antonio Fragoso e Elisa Pinheiro
Elenco de Apoio: Verônica Valentim, Guilherme Siman, Walisson de Souza e Jamil Pedro
Assistente de Direção e Direção de Movimentos: Duda Maia
Cenografia: Sérgio Marimba
Figurinos: Kika Lopes
Iluminação: Renato Machado
Trilha Sonora: Rodrigo Penna
Efeitos especiais: André Fuentes
Designer gráfico: Dulce Lobo
Designer gráfico assistente: Tatiana Souza
Fotos Projeto Gráfico
Capa: Guilherme Maia
Internas: Marco Antônio Gambôa
Assistentes de cenografia: Ester Cotrim e Vanessa Couto
Cenotécnico: Alceu Reinaldo dos Santos
Assistentes de Figurinos: Letícia Ponzi e Masta Ariane
Costureira: Nena Rocha
Dora Alegria veste Ronaldo Fraga
Preparação Corporal: Walisson de Souza
Preparação Corporal Arlindo Lopes: Monnica Emílio
Professor de Banjo Arlindo Lopes: César Rebechi
Operador de som: Vitor Osório
Produtor Executivo de frente e Administração: Luciano Marcelo
Idealização do projeto: Arlindo Lopes
Gerenciamento de projetos: Paula Salles
Direção de Produção: Maria Siman
Realização: Primeira Página Produções Culturais
Produtores Associados: Arlindo Lopes, Glória Menezes e Maria Siman

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