sábado, 6 de outubro de 2012

Pinteresco (RJ)


Foto: Guga Melgar

Uma homenagem a Harold Pinter


            “Pinteresco” tem ótimos diálogos, excelente direção, ótimos atores, figurinos, iluminação e trilha sonora impecáveis, mas não agrada totalmente porque nós não temos o mesmo humor que os ingleses e os americanos têm. Espetáculo a partir de esquetes escritas por Harold Pinter (1930-2008), a produção dirigida por Ary Coslov e em cartaz no Solar de Botafogo tem, entre vários méritos, o de resgatar uma dramaturgia rara de um dos mais importantes dramaturgos do século XX. Destacado o esforço, paira o constrangimento: essas piadas não nos fazem rir.
            Alice Borges, Leonardo Franco, Marina Vianna e Sávio Moll se revezam nos muitos personagens que compõem a galeria de pequenas histórias para teatro escritas pelo autor inglês principalmente no início de sua carreira. Uma atriz que quer chamar a atenção do seu público, dois torturadores e um torturado, um ministro da cultura e os repórteres, uma fila de ônibus, duas mulheres em um bar, um patrão e um empregado, uma mulher que recebe um anúncio de venda de homens... O roll é grande e, em todas as cenas, é possível identificar as diferentes tensões dos famosos não-ditos que tornaram o célebre o dramaturgo. O jogo dirigido por Coslov com o elenco é bom: as sequências, dentro da situação “pinteresca”, é ágil, a edição que justapõe as cenas é fluente e os detalhes são positivamente dados a ver de forma equilibrada. Na plateia, o espectador sabe que está diante de textos bons, de ótimos atores e de uma direção cheia de valores. O problema é que é sem graça, pois falta em Pinter o deboche, a sensualidade, a ironia que os povos latinos têm, o que não, de jeito nenhum, o diminui enquanto grande comediante que foi.
            Tess (2002), Esse é o seu problema (1964), Preto e branco (1959), Problemas no trabalho (1959), Ponto de ônibus (1959), Nova ordem mundial (1991), Oferta especial (1959), O último a sair (1959), Noite (1969), Coletiva de imprensa (2002), Só isso (1959) e Afora isso (2006) são cenas que receberam um primoroso trabalho de concepção de figurinos de Kika Lopes, situando os personagens com elegância, ainda que quando mais humildes. A iluminação de Aurélio de Simone confere requinte à narrativa, colaborando com o bom ritmo com que a história é contada. A trilha sonora de Coslov age em boa parceria com a iluminação. O destaque mais positivo é do elenco que, de forma sensível, defende o projeto com galhardia. “Pinteresco”é uma homenagem à Pinter e, por isso, merece ser visto.

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Ficha técnica:
Texto: Harold Pinter
Tradução: Jacqueline Laurence e Isio Ghelman
Direção: Ary Coslov
Cenário: Marcos Flaksman
Figurinos: Kika Lopes
Iluminação: Aurélio de Simone
Trilha Sonora: Ary Coslov
Programação visual: Isio Ghelman
Divulgação: Adriana Sanglard
Fotos: Guga Melgar
Assistência de Direção: Isio Ghelman e Marcela Andrade
Assistência de Produção: Bárbara Montes Claros
Direção de Produção: Celso Lemos
Realização: Arcos Produções Artísticas Ltda
            

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