Foto: Guga Melgar
Uma homenagem a Harold Pinter
“Pinteresco” tem ótimos diálogos,
excelente direção, ótimos atores, figurinos, iluminação e trilha sonora
impecáveis, mas não agrada totalmente porque nós não temos o mesmo humor que os
ingleses e os americanos têm. Espetáculo a partir de esquetes escritas por
Harold Pinter (1930-2008), a produção dirigida por Ary Coslov e em cartaz no
Solar de Botafogo tem, entre vários méritos, o de resgatar uma dramaturgia rara
de um dos mais importantes dramaturgos do século XX. Destacado o esforço, paira
o constrangimento: essas piadas não nos fazem rir.
Alice Borges, Leonardo Franco,
Marina Vianna e Sávio Moll se revezam nos muitos personagens que compõem a
galeria de pequenas histórias para teatro escritas pelo autor inglês principalmente no início
de sua carreira. Uma atriz que quer chamar a atenção do seu público, dois
torturadores e um torturado, um ministro da cultura e os repórteres, uma fila
de ônibus, duas mulheres em um bar, um patrão e um empregado, uma mulher que
recebe um anúncio de venda de homens... O roll é grande e, em todas as cenas, é
possível identificar as diferentes tensões dos famosos não-ditos que tornaram o
célebre o dramaturgo. O jogo dirigido por Coslov com o elenco é bom: as
sequências, dentro da situação “pinteresca”, é ágil, a edição que justapõe as cenas
é fluente e os detalhes são positivamente dados a ver de forma equilibrada. Na
plateia, o espectador sabe que está diante de textos bons, de ótimos atores e
de uma direção cheia de valores. O problema é que é sem graça, pois falta em
Pinter o deboche, a sensualidade, a ironia que os povos latinos têm, o que não,
de jeito nenhum, o diminui enquanto grande comediante que foi.
Tess (2002), Esse é o seu problema
(1964), Preto e branco (1959), Problemas no trabalho (1959), Ponto de ônibus
(1959), Nova ordem mundial (1991), Oferta especial (1959), O último a sair
(1959), Noite (1969), Coletiva de imprensa (2002), Só isso (1959) e Afora isso
(2006) são cenas que receberam um primoroso trabalho de concepção de figurinos
de Kika Lopes, situando os personagens com elegância, ainda que quando mais humildes.
A iluminação de Aurélio de Simone confere requinte à narrativa, colaborando com
o bom ritmo com que a história é contada. A trilha sonora de Coslov age em boa
parceria com a iluminação. O destaque mais positivo é do elenco que, de forma
sensível, defende o projeto com galhardia. “Pinteresco”é uma homenagem à
Pinter e, por isso, merece ser visto.
*
Ficha
técnica:
Texto:
Harold Pinter
Tradução:
Jacqueline Laurence e Isio Ghelman
Direção:
Ary Coslov
Cenário:
Marcos Flaksman
Figurinos:
Kika Lopes
Iluminação:
Aurélio de Simone
Trilha
Sonora: Ary Coslov
Programação
visual: Isio Ghelman
Divulgação:
Adriana Sanglard
Fotos:
Guga Melgar
Assistência
de Direção: Isio Ghelman e Marcela Andrade
Assistência
de Produção: Bárbara Montes Claros
Direção
de Produção: Celso Lemos
Realização:
Arcos Produções Artísticas Ltda
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