sábado, 1 de setembro de 2012

Michael e Eu (RJ)

Foto: divulgação

O bom trabalho de Ivan Sugahara

“Michel e Eu” é um bom espetáculo, porque, de um modo geral, a direção de Ivan Sugahara melhora o texto frágil de Marcelo Pedreira. Em cartaz na Sala Marília Pêra do Teatro Leblon, a peça trata do amor que um fã sente por seu ídolo. Eis aí um bom motivo cênico para homenagear Michael Jackson (1958-2009), o Rei do Pop, um dos maiores artistas da história. Com Bruno Garcia e Pedro Henrique Monteiro no elenco, a produção tem duas participações bastante especiais: Nikki Goulart e Ryan Alves, interpretando MJ adulto e criança. O resultado final expressa a habilidade do diretor em identificar os pontos mais problemáticos do material que tem em mãos e fazer, a partir disso, uma obra de qualidade que mereça, e merece, aplausos. 

A ação se passa quase toda em um consultório. O terapeuta Doc (Bruno Garcia) tem como paciente Léo (Pedro Henrique Monteiro), um fã incondicional de Michael Jackson. (O personagem de Léo foi inspirado em Léo Lapagesse, dono do maior acervo relacionado a MJ na América Latina.) A fragilidade começa com a fragilidade dos personagens. Não há entre eles conflitos internos que lhes deem profundidade. Enquanto Léo está convicto de sua sanidade mental, tendo sido enviado à terapia por sua família, Doc parece estar igualmente convicto de que o apego de seu paciente por seu ídolo não é nada além de uma bobagem um tanto quanto ridícula. O terapeuta debocha do paciente mais de uma vez em cena e não se entende exatamente o porquê de Léo permanecer frequentando o consultório dia após dia. Aparece, então, o conflito externo: Léo propõe fazer Doc compreender a grandeza de Michael Jackson, o paciente tentando, assim, salvar o terapeuta. A fragilidade dramatúrgica permanece nesse ponto, porque a resposta para isso é óbvia: todos sabemos da importância de Michael no cenário contemporâneo e uma prova disso é que um espetáculo teatral está sendo produzido para homenageá-lo. 

As interpretações de Garcia e de Monteiro são igualmente frágeis, mas, felizmente, em sentidos opostos, o que garante um bom equilíbrio. Enquanto Bruno Garcia preenche o seu personagem de gags que servem apenas para fazer rir, é possível encontrar nele uma força cênica elogiável. Há excelente dicção, intenções claras, nuances precisas no modo de conduzir a narrativa. Por outro lado, Pedro Henrique Monteiro constrói positivamente um personagem sensível quase infantil, cheio de doce humanidade. No entanto, sua performance apresenta-se mal articulada, com voz baixa e um discurso quase monocórdio. 

O espetáculo é bem temperado com projeções bastante bem editadas por Caco Moraes que conferem a obra como um todo excelentes resultados. Tomás Ribas, por sua vez, constrói um espaço iluminado quase como num show, o que também é bastante positivo no cenário igualmente bom de Aurora dos Campos. O figurino de Thanara Schonardie e a trilha sonora de Leo Lapagesse ilustram bem os personagens e as situações, valorizando a oposição entre as duas figuras principais em cena, além das participações especiais. 

Os quinze minutos finais de “Michael e Eu” são os melhores momentos da encenação. Depois das boas participações virtuais de Lúcio Mauro Filho e de Elisa Pinheiro, Nikki Goulart e Ryan Alves aparecem para conferir à narrativa o ápice de que ela precisa para se tornar realmente boa. E consegue. Quem for, não tenha dúvidas de que vai se divertir, deixando para o final uma certa dose de emoção. Quem não tem ídolos que atire a primeira pedra. E quem tem que puxe primeiro o aplauso final. 

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FICHA TÉCNICA

Dramaturgia: Marcelo Pedreira
Direção: Ivan Sugahara
Produção: Marcelo Chaffin
Elenco (Léo): Pedro Henrique Monteiro
Elenco (Doc): Bruno Garcia
Participação: sósia 1: Nikki Goulart / sósia 2: Ryan Alves
Iluminação: Tomas Ribas
Cenografia: Aurora dos Campos
Figurino: Thanara Schonardie
Videografismo: Caco Moraes
Direção Musical: Léo Lapagesse
Fotografia: Dalton Valério
Assessoria Imprensa: Daniella Cavalcanti
Ass. Jurídica: Marcelo Salomão
Identidade Visual: Romulo Araújo

Um comentário:

  1. Gostei da peça, muito, mas senti falta do Nikki Goulart. Não sei se foi só no último dia que ele não participou, mas quebrou uma expectativa grande que eu tinha.

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