sábado, 15 de setembro de 2012

Artaud - a realidade é doida varrida (R)

foto: divulgação

Um bom Artaud

É menos difícil de assistir ao texto de Antonin Artaud (1896-1948) na excelente interpretação de Marcos Fayad. “Artaud – a realidade é doida varrida”, que estreou em 2011, é o espetáculo de comemoração dos 25 anos de carreira do ator goiano. Ao longo de setenta minutos, no palco no Galpão das Artes do Teatro Tom Jobim, o ator celebra um dos encenadores mais celebrados do século XX em uma bela homenagem ao ato de interpretar. Sua excelente dicção, uma das características fundamentais do bom ator, ao lado de pausas bem postas e de corpo inteligente, motiva o espectador a adentrar e permanecer no universo complexo de Artaud. 

A dramaturgia se organiza com trechos de obras do autor, mas também situa o espectador dentro de sua biografia. É Artaud quem está em cena, em um dos hospitais psiquiátricos onde ele esteve internado no fim de sua vida, falando sobre (1) o teatro, sobre (2) sua forma de ver o mundo e a psiquiatria e sobre (3) Van Gogh, a loucura e a liberdade. Sem a esquizofrênica junção de frases soltas, tão comuns em montagens sobre o autor, neste espetáculo há uma linha lógica que, bem dita, torna-se adequadamente fruível. O teatro de que fala Artaud não é, afinal, o teatro como tal o conhecemos e vulgarmente falamos. O que ele chama de teatro é, antes de tudo, o jogo discursivo em que se envolve os membros da comunicação. Por isso, o seu teatro está longe da narrativa, do palco, da relação atores e público, mas na vida, na liberdade, no acontecer momentâneo do existir. Quando Artaud morreu, logo depois da Segunda Guerra, a psicanálise estava no auge, mas o estruturalismo, que depois foi ser base para a teoria da comunicação, ainda engatinhava. Daí o sucesso de “Artaud – a realidade é doida varrida”: a encenação não imita o seu dramaturgo, mas o homenageia. 

Marcos Fayad tem uma atuação nobre. Seu olhar expressa o peso e a importância do tema, com delicadeza, profundidade e carisma. Preso ao cenário que reproduz uma jaula, seu Artaud é mais livre do que parece ser. O texto é dito com altas doses de realismo, de forma que sua retórica, bastante próxima do real além da narrativa, é convidativa, é crível. O corpo age em prol da construção: os níveis são bem utilizados, havendo equilíbrio no uso do espaço. O figurino, a trilha sonora e a iluminação são simples e eficientes, apontando para o texto toda a responsabilidade da fruição. 

“ARTAUD - a realidade é doida varrida” é o mesmo texto da peça “Artaud!”, roteirizado e encenado pela lendária dupla de sócios do Teatro Ipanema do Rio de Janeiro, o ator Rubens Corrêa (1931-1996) e o diretorIvan de Albuquerque (1932-2001) no final dos anos 1980. De volta a cena, um espetáculo para apreciadores de bom teatro. 

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Ficha Técnica

Textos de Antonin Artaud compilados por Rubens Corrêa e Ivan de Albuquerque
Direção, Interpretação, Cenário, Figurino, Músicas: Marcos Fayad
Iluminação: Alexandre Corecha
Programação Visual e Fotos: Josemar Callefi
Sonoplastia: Thiago Marques
Produção: Cia.Teatral Martim Cererê
Assessoria de Imprensa: João Pontes & Stella Stephany

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