sábado, 1 de setembro de 2012

Meu caro amigo (RJ)

Foto: divulgação

A volta de um grande espetáculo


Mais. Mais. Mais! Quando “Meu caro amigo” termina, o que se quer é ouvir e ver mais. Mais de Chico Buarque, mais de Kelzy Ecard, mais de Felipe Barenco e de Joana Lebreiro e de toda a ficha técnica de altíssima qualidade. Esse sucesso, que estreou em fevereiro de 2009, volta felizmente agora ao Teatro do Sesc Tijuca, garantindo, assim, a oportunidade para quem ainda não viu conferir. Em cena, descobrirá quem é o “meu caro amigo” de que fala o texto, sendo convidado aí pensar nos seus. Todos, afinal, temos um. 

A Professora Norma (a diva Kelzy Ecard) recebe o público para contar-lhes a sua história, a sua vida compartilhada ao som de Chico Buarque. Conta, também, a história do país entre 1964 e 1998 e aí começa-se a identificar a habilidade de Felipe Barenco (autor) e de Marcelo Alonso Neves (diretor musical) em construir dramaturgicamente esse monólogo-musical. O normal é esperar uma evolução perigosamente cansativa: ano após ano, década após década, da infância de Norma até a sua adultez. Porém, os fatos, ainda que seguem uma certa linearidade, se desorganizam e o discurso corre fluente, mais próximo do além da narrativa, o que acaba por ser mais sensível. 21 canções de Chico Buarque participam de “Meu Caro Amigo”, sendo 10 delas interpretadas por João Bittencourt ao teclado e cantadas ao vivo por Kelzy Ecard. Não faltam no repertório nem clássicos nem menos populares, mas sobram coerência narrativa e muito talento e uso de técnica na execução. 

Kelzy Ecard interpreta o texto e as letras com emoção, verdade, força e com grande sensibilidade. A direção de Joana Lebreiro dá agilidade ao ritmo, sem tirar-lhe a delicadeza. A história de Norma pode ser a história de qualquer um de nós que, em algum momento, nos sentimos identificados com as canções de Chico ou com os diálogos/situações de Barenco. À flor da pele, parecem estar as emoções durante quase todo o período da encenação, tanto aquelas que embalam os momentos mais cômicos, como aquelas que servem às horas mais dramáticas. 

Com iluminação de Paulo César de Medeiros e com cenário e figurino de Ney Madeira, “Meu Caro Amigo” é melancólico porque parte de um tempo que já passou. Nos anos 90, afinal, ficaram as cartas, os discos, as fitas cassetes, o Canecão. Ecard veste um vestido de veludo vermelho que a deixa ainda mais viva no espaço coberto de LPs. Sendo a melancolia aquela saudade de algo que não foi vivido, está no espectador a tarefa de se juntar à Norma e contar a sua própria para ela enquanto ouve dela a sua vida. A agulha corre na vitrola e Chico Buarque segue sendo atual em todas as gerações. Um excelente espetáculo. 


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Ficha técnica:

Ideia original – Kelzy Ecard
Texto – Felipe Barenco
Direção – Joana Lebreiro
Direção Musical – Marcelo Alonso Neves
Atriz – Kelzy Ecard
Pianista – João Bittencourt
Produção – Monica Farias – Aruanda Eventos
Iluminação – Paulo Cesar Medeiros
Cenário e Figurino – Ney Madeira
Programação visual original - Leonardo Miranda
Programação visual da temporada - Jaime de Souza
Assessoria de Imprensa – Paulo Gramado, SESC Rio

3 comentários:

  1. Puxa, adorei seu comentário sobre a peça. Eu assisti 3 vezes e vou de novo ao Rio assistir pela 4a. vez. A Kelzy é demais, a gente chora, se identifica com ela, com o passado, as músicas são lindas e toda uma emoção reprimida vem a tona, não tem como chorar. Linda é a parceria de Kelzy com o pianista, novo ainda joão Bittencourt é um mestre no piano, já participou de Gota Dágua, ópera do Malandro e muitos outros espetáculos, foi sugerido para o premio shell. A Kelzy vai concorrer ao premio shell deste semestre. Foi a peça mais emocionante que assisti. O Felipe Barenco escreveu esta peça numa noite, é um menino ainda, nunca vi coisa igual, tudo lindo. Vou ao teatro e me sinto em casa.
    Ligia

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  2. A peça mais emocionante que já vi, chorei muito, a Kelzy é maravilhosa e seu parceiro pianista é maravilhoso também. Ele participou de Gota dágua, Ópera do Malandro e muitas outras, ele é fabuloso. Eu queria muito que o Chico Buarque parecesse na peça, até gostaria de pedir isso a ele porque a Kelzy tb o adora e tem uma hora na peça que os refletores ficam procurando por ele. Já assisti 3 vezes e vou ao Rio novamente assistir. A equipe toda é muito muito jovem, são excelentes profissionais, mas o que mais mexe com meu coração e a dupla João Bittencourt (pianista) e Kelzy Ecard, vale a pena assistir.

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