sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Cálculo ilógico (RJ)

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Foto: divulgação
Jéssika Menkel

                                       

Bom monólogo abre a Mostra Palco do 13º Niterói em Cena

“Cálculo ilógico” foi a primeira peça da Mostra Palco do 13º Niterói em Cena, a parte do festival em que as apresentações aconteceram presencialmente dentro do Teatro Popular Oscar Niemeyer. Cumprindo rigorosamente todas as exigências sanitárias contra a propagação da Covid-19, o evento – com segurança – ofereceu ao público o bom monólogo escrito e interpretado por Jéssika Menkel que tem direção de Daniel Herz. Na história, uma mulher lida com o falecimento do irmão, liberando um fluxo de pensamento poético cheio de conceitos matemáticos. Com inspiração autobiográfica, o espetáculo estreou no outono de 2019 na zona sul do Rio de Janeiro. 

A dramaturgia se dá a ver aos poucos. De início, conhece-se um casal de irmãos e a boa relação que há entre eles. Aparecem também a mãe e o pai dos dois: quatro personagens que se metaforizam como quatro cantos de um cubo. A personagem-narradora, em sucessivas associações mentais relacionadas à aritmética e à geometria, deixa ver que há algo de errado então. A linguagem organiza o pensamento, mas, nesse caso, o fluxo mental dá acesso a um cálculo que é ilógico. E é aí que o público vai sentindo o conflito: Douglas, o irmão da personagem, morrera num acidente de trânsito. 

Há lirismo no modo metafórico como o panorama é construído diante do espectador. No entanto, é frustrante reparar que o drama não se desenvolve. Em outras palavras, o texto de “Cálculo ilógico” pincela aos poucos uma paisagem fixa, mas ela não se movimenta depois de completa. Dito ainda de outra forma, a floresta se movimenta em direção a Macbeth, mas, depois que há o encontro, o Rei Macbeth não é vencido conforme fora predito. 

A direção de Daniel Herz, assistido por Gabriela Checchia e por Tiago Herz, dá movimento para a sucessão de conceitos matemáticos sobre os quais se apoiam a dramaturgia. Jéssica Menkel transporta, de um lado a outro do palco, quase sem pausa, cubos de madeira, durante toda a encenação. Assim, interagindo com eles, ela procurar dar-lhes alguma vida estética. Como o tema da peça é a morte e isso é algo sensível a qualquer ser minimamente consciente de sua humanidade, há carisma no espetáculo até por vias de um certo de respeito. No entanto, as qualidades estéticas se mostram medianas ao final. O desenho de luz de Aurélio de Simoni e o figurino de Thanara Schonardie também se esforçam, como Menkel, na sustentação do argumento com relativa galhardia, mas, até aqui, pouco é realmente relevante. 

O aspecto realmente forte de “Cálculo ilógico” é o que está por trás da peça e que não está dito nela. De fato, quando a autora e atriz Jéssika Menkel tinha dez anos de idade, seu irmão Douglas, que na ocasião tinha 21 anos, falecera vítima de um atropelamento por um ônibus. Ou seja, o aspecto documental e o traço psicodramático da narrativa são os elementos mais hábeis na defesa da obra. E conhecê-los muda completamente a abordagem da audiência, mas aí teríamos outra peça para analisar. 

Em resumo, como está, trata-se de um bom espetáculo: honesto, criativo, fruto de empenho e de boas intenções. E tudo isso é elogiável. Merece aplausos ao fim. 

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Ficha Técnica
​Autor: Jéssika Menkel
Direção: Daniel Herz
Elenco: Jéssika Menkel
Direção de produção: Maria Siman
Assistente de direção: Gabriela Checchia e Tiago Herz
Cenário e Figurino: Thanara Schonardie
Iluminação: Aurélio de Simoni
Preparação Vocal: Jane Celeste
Trilha Sonora: Éric Camargo
Produção Executiva: Fernanda Silva
Produtores associados: Jessika Menkel e Primeira Página Produções

Classificação Indicativa: 10 anos​
Duração: 55 min.
Link: @primitivosgrupoteatral

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