sábado, 17 de outubro de 2015

A noiva do condutor (RJ)

Rodrigo Fagundes, Marcelo Nogueira e Izabella Bicalho
Foto: Janderson Pires


Uma opereta de Noel Rosa em cartaz

“A Noiva do Condutor” é o novo espetáculo produzido e protagonizado por Marcelo Nogueira. Em cartaz no Teatro dos Correios, no centro do Rio, o musical tem canções compostas por Noel Rosa (1910-1937) e sua dramaturgia se baseia na opereta radiofônica de mesmo título escrita em 1935. A montagem, com direção de Djalma Thürler e com direção musical de Glória Calvente, tem ainda, no elenco, Izabella Bicalho e Rodrigo Fagundes, também em ótimos trabalhos. A produção homenageia o sambista enquanto se apresenta como um espetáculo divertido e caprichado para o deleite da programação teatral carioca. Fica em cartaz até o dia 8 de novembro.

Os 80 anos da opereta de Noel Rosa
A opereta “A noiva do condutor” foi apresentada pela primeira vez no programa "Como se as óperas célebres do mundo houvessem nascido aqui no Rio", da Rádio Clube do Brasil. Boa parte das dez canções foi escrita em parceria com o maestro húngaro Arnold Glückmann. "O Barbeiro de Niterói", uma paródia ao "O Barbeiro de Sevilha", e "Ladrão de galinha", uma revista composta por melodias de sucesso na época, também foram compostas por Noel Rosa para esse programa. Cinquenta anos depois, pela primeira vez, a obra foi finalmente gravada em disco por Carlos Didier (Joaquim), Marília Pera (Helena), Grande Otelo (Dr. Henrique) e pelo conjunto Coisas Nossas. No teatro, a primeira montagem foi dirigida por Neyde Veneziano há dois anos. A versão de Marcelo Nogueira surge para comemorar os oitenta anos da primeira estreia dessa bela obra.

Na história, Helena é uma jovem de Cascadura, no subúrbio do Rio, que, há dois meses, namora com Joaquim sem saber dele o sobrenome, nem a profissão. Para ganhar sua mão, ele mente ser um advogado. Um dia, porém, Helena e seu pai descobrem que Joaquim é um condutor de bonde sem eira nem beira e o noivado é então desfeito. Noel Rosa, no entanto, guarda para o final nova reviravolta.

A peça remonta as comédias de capa e espada do século de ouro espanhol. Nelas, de princípio, o tom cômico surge pela inverossímil relação entre pessoas de classes sociais diferentes. A situação improvável, que na contemporaneidade revela uma crítica à sociedade, é resolvida. Ao final, destaca-se o papel do pai como elemento onde toda a questão se tematiza.

O texto dessa montagem de “A noiva do condutor” apresenta alguns aspectos da vida de Noel Rosa, bem como reflexões acerca de suas composições. Aí se revela também a importância dele para a história da música brasileira. Nesse sentido, o espetáculo, em diálogo franco com a plateia, oferece um clima pronto para a celebração, mas também para o divertimento. Destaca-se a participação do público, cantando junto com o elenco algumas canções mais conhecidas. Uma festa!

Entre a ficção e a realidade, a homenagem ao compositor
Um dos aspectos mais interessantes da encenação de “A noiva do condutor” é o modo como os atores e o público estabelecem e defendem o contrato de narrativa. Marcelo Nogueira, Izabella Bicalho e Rodrigo Fagundes, ao lado dos músicos Rodrigo Bahal (piano), Andrey Cruz (sopros) e Nilton Vilela (percussão), atuam em um lugar sensível entre o que é ficção (a história narrada) e o que não é (o momento presente). Para longe da ópera, a opereta, de fato, jogava com o público justamente esse jogo debochado: a classe mais baixa, com enfim possibilidade de acessar os teatros, ria do gênero considerado “sério”. Nesse sentido, a direção de Djalma Thürler, providenciando clima leve para o alegre entretenimento, é bastante positivo.

As interpretações são bastante positivas e isso fica claro pelo modo como palco e plateia parecem estar unidos. Marcelo Nogueira e Izabella Bicalho, com excelentes vozes, se destacam na viabilização das canções e na defesa dos personagens apaixonados enquanto Rodrigo Fagundes concentra a crítica, as melhores piadas e o avançar da narrativa.

O cenário de José Dias tem bons momentos no painel de fundo, nas bandeirolas e no bondinho que passa pelo proscênio, contribuindo para o aspecto lúdico da encenação positivamente. Por outro lado, a presença dos músicos, de livros e de cadeiras permanentemente em cena polui o ambiente, atrasando os elogios mais efusivos. O figurino de Carol Lobato, atuando nessa zona entre ficção e realidade, apresenta resultados esteticamente positivos pela forma como contribui para a unidade.

“A noiva do condutor”, uma pérola da música nacional, merece ser assistida por vários motivos. Eis um belo trabalho em cartaz na programação teatral do Rio de Janeiro.

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Ficha técnica:
Texto e Músicas: Noel Rosa
Direção: Djalma Thürller
Direção Musical: Glória Calvente
Elenco: Izabella Bicalho, Marcelo Nogueira e Rodrigo Fagundes
Cenário: José Dias
Figurinos: Carol Lobato
Realização: Arte Mestra Produções
Direção de Produção e idealização: Marcelo Nogueira
Produção executiva: Lúdico Produções
Assessoria de Imprensa: Duetto Comunicação