quarta-feira, 5 de junho de 2013

Valsa n.6 (RJ)

Carlos Lafert apresenta belíssimo
trabalho de iluminação
Foto: Tomás Rangel

Comportado

Beatrice Sayd interpreta com méritos a difícil Sônia no monólogo “Valsa n.6”, escrito por Nelson Rodrigues e, agora, dirigido por Marcus Alvisi. Em 1951, o texto estreou no Teatro Serrador, o mesmo lugar onde hoje volta a cartaz, o que é célebre sobretudo pela continuidade da celebração do centenário do nascimento do autor. Feito especialmente para lançar como atriz a irmã do dramaturgo, Dulce Rodrigues, a peça pode ser entendida como um exercício formal do autor (este é seu único monólogo) em temas que lhe são recorrentes: a morte, o autoconhecimento, a loucura. Na atual produção, o grande destaque é para a iluminação de Carlos Lafert, sem dúvida, um trabalho riquíssimo. 

Sônia tem quinze anos e morreu com uma facada nas costas. Ela não sabe quem foi o assassino quando acorda ainda sem saber que já não pertence ao mundo dos vivos. As lembranças vêm aos poucos, embaralhadas pela nova realidade: a jovem se apresenta para si mesmo como desculpa para se apresentar para nós. Sônia, meio sensual, meio ingênua, age por impulso, mas o resultado de suas ações têm contornos cheios de causas e de consequências sem que a jovem seja a responsável por isso. Ou seja, mais uma vez, temos em Nelson uma personagem realista naturalista em um roteiro melodramático (Há quem diga que Nelson “não engolia” o sucesso de Pedro Bloch com suas peças melodramáticas na época.). 

Marcando o ritmo basicamente pela interpretação da “Valsa em Ré Bemol Maior” (Op. 64 n.1), de Frédéric Chopin, Sayd percorre repetidamente o palco expressando com o corpo as voltas que suas falas dão. Tonta, Sônia vive o redemoinho em busca de si mesmo, das causas que lhe trouxeram para o hoje e de como é esse agora que ela ainda está conhecendo. Com poucos movimentos de voz, a atriz reage pouco às descobertas que vai fazendo, preferindo um tom mais linear, e um tanto quanto adulto, que é coerente com suas ações, o que manifesta uma estrutura coesa de concepção do espetáculo. É possível dizer que a direção de Alvisi, assistido por Letícia Paiva, é discreta e comportada, explorando pouco o texto rodrigueano (ou expressando erroneamente uma tragicidade que ele, de fato, não tem), esse tão profundo. Apesar do pouco heroísmo, a interpretação de Sayd é positivamente viva, porque vibrante em alguns momentos. 

Com um belo figurino de Fafi Vasconcellos, o espetáculo ganha verdadeiro brilho na qualidade do desenho de luz de Carlos Lafert. Cheio de pontos fechados, jogos de sombras e de luzes, boa utilização dos efeitos de cor, a evolução da ambientação permite contemplar o melodrama de que parece querer tanto Alvisi como Sayd. 

Uma das pérolas de nosso dramaturgo maior, “Valsa n.6” vale a pena ser vista, considerando sobretudo a forma coerente com que o espetáculo se auto-apresenta. 

*

FICHA TÉCNICA
Autor: Nelson Rodrigues
Interpretação: Beatrice Sayd
Direção: Marcus Alvisi
Assistente de Direção: Letícia Paiva
Iluminação: Carlos Lafert
Operador de Luz: Edmar Rocha
Figurino: Fafi Vasconcellos
Visagismo: Josef Chasilew
Preparação Vocal: Rose Gonçalves
Preparação Corporal: Maira Mattar
Fotografia: Tomás Rangel
Design: modesign / Mariana Ochs e Rodrigo Moura
Assessoria Jurídica: Dain Gandelman e Lacê Brandão Advogados Associados / Deborah Fisch Nigri
Produzido por: Beatrice Sayd e Letícia Paiva
Mecenas: Nerzita M. de Carvalho Sayd
Realização e Divulgação: Pataca

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