sábado, 5 de maio de 2012

Super Coffin ou Sonho de uma Noite de Velório (RJ)


Foto: divulgação

Teatro popular de qualidade

                “Super Coffin ou Sonho de uma Noite de Velório” está há 13 anos no repertório de OsCiclomáticos Companhia de Teatro, grupo que, neste ano, assumiu a gestão do Teatro Municipal Ziembinski, no bairro Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro. Escrito por Odir Ramos da Costa, o texto consiste em uma farsa bem aos moldes de Moliére, Martins Pena e Ariano Suassuna. Os personagens se apresentam com marcas bastante fortes que os distanciam uns dos outros pela oposição, reconhecendo-se, assim, no contexto da trama que evolui de forma clara e ágil. Na história, Benvindo Seja da Silva é o dono da representação brasileira da multinacional Super Coffin, uma empresa do ramo funerário que, então, completa 25 anos no Brasil. Quis o destino que, na mesma data, a funerária estivesse na iminência de vender o seu 50.000º caixão, um número simbólico. Para comemorar o feito, Benvindo contrata um publicitário (Azevedo) para criar e executar uma campanha a fim de estimular as vendas. Apesar de irresistíveis promoções, ocorre que o 50.000º defunto não surge, obrigando Benvindo a questionar as propagandas que têm sido veiculadas a respeito da sua empresa. Enquanto isso, na fábrica de caixões, um antigo funcionário falece, mas deixa como último pedido não ser enterrado em um caixão da Super Coffin. Valores morais e religiosos entram em jogo na decisão da viúva: ser fiel à vontade do marido ou vender-se às promessas do patrão.
                Dirigido por Renato Neves, a comédia tem um ritmo rápido, que providencia à narrativa a agilidade que ela requer. Construídos superficialmente, os personagens são apresentados ao público pela ratificação de marcas, facilitando a identificação e possibilitando a auto-referenciação ao longo da peça. O cunho popular, que caracteriza o gênero em sua raiz, está exposto nas piadas de cunho sexual, na crítica ao fanatismo religioso, na malandragem, na corrupção e no deboche. O palco está quase o tempo inteiro limpo de forma que a movimentação acontece a contento. De um modo geral, as interpretações garantem um discurso fluído, com boas dicções, corpos ágeis e olhares irônicos capazes de transformar cenas simples em grandes momentos cômicos. Talvez o maior valor da direção seja o fato de manter constante o surgimento de “surpresas”, vencendo o desafio da monotonia de forma bastante criativa. Há, no entanto, alguns problemas. Um deles é a divisão do foco. Em várias cenas, a atenção está dividida em duas ou três partes, de forma que o texto está sendo dito em um lado do palco e, em outros dois, outras situações estão concorrendo com ela de forma gratuita e, por isso, negativa. Outra questão é a sustentabilidade do ápice. Em determinado momento da história, há uma cena que se repete três vezes, cada uma, de forma diferente. A forma como a sequência acontece dá a ver a sua eleição como o ponto alto da peça, de forma que tudo o que vem depois dela constitui o desfecho. “Super Coffin” é um espetáculo tradicional e que apresenta, como já se disse, uma estrutura aristotélica. Logo, espera-se que as resoluções aconteçam rapidamente, encerrando a fruição no momento alto. Infelizmente não é o que acontece. As cenas finais são longas, havendo um epílogo maior ainda. Como não poderia deixar de ser, o ritmo cai vertiginosamente.
                O elenco é composto por um grupo afinado e criativo. Fabio Alavez (Benvindo), Getúlio Nascimento (Basofia) e Júlio César Ferreira (Macadame) são as melhores participações, porque apresentam interpretações vivas com marcas fortes de espontaneidade. Sem dizerem uma só palavra, Fernanda Dias, Juliana Santos, Carla Meireles (Coffin Girls) e, sobretudo, Mauro Carvalho (a Secretária) se tornam essenciais na narração pela forma pontual com que ampliam as potencialidades cômicas da produção. É difícil de se compreender o que diz Nívea Nascimento (a Crente Nanete) na primeira metade do espetáculo, assim como há que se observar que o ritmo cai nas cenas em que atua Fabíola Rodrigues (Dona Emerenciana), talvez, em função da voz escolhida. Há um excesso de histrionismo no trabalho de interpretação de Ribamar Ribeiro (Azevedo) que é igualmente prejudicial.
                Os aspectos visuais de “Super Coffin ou Sonho de uma Noite de Velório” são positivos dentro da função que executam. O ponto alto do cenário de André Vital está na presença da estátua de São Jorge sempre iluminada a contrastar com a forte presença da personagem evangélica. Os figurinos, também assinados por Vital, são ricos, elevando o resultado estético da produção, sobretudo quando, na segunda parte da peça, exploram-se variações do roxo, cor litúrgica da penitência e, simbolicamente, da espiritualidade. A opção pela discomusic, na trilha sonora, é coerente com a concepção do espetáculo que localiza a história nos anos 70, mas oferece um grave problema à fruição da peça: o volume da operação é desreguladamente altíssimo.
                Em cartaz no Teatro Municipal Ziembinski, “Super Coffin ou Sonho de uma Noite de Velório” acontece em paralelo à exposição “Os Ciclomáticos Companhia de Teatro 16 anos de Vivência”. O grupo, pelo espetáculo e por chegar nesta etapa de sua história, merece aplausos.

*
Ficha técnica:
Autor: Odir Ramos da Costa
Direção: Renato Neves

Elenco:
Fabio Alavez - Senhor Benvindo
Mauro Carvalho - Secretaria
Ribamar Ribeiro - Azevedo
Fabiola Rodrigues - Dona Emerenciana
Getulio Nascimento - Basofia
Julio Cesar Ferreira - Macadame
Nívea Nascimento - Nanete
Carla Meirelles - Coffin Girl 
Juliana Santos - Coffin Girl
Fernanda Dias - Coffin Girl

Cenografia, Figurinos e Maquiagem: André Vital
Sonoplastia: Renato Neves
Iluminação: Mauro Carvalho
Produção: Ribamar Ribeiro
Realização: Os Ciclomáticos Companhia de Teatro

2 comentários:

  1. Amigos: o crítico Rodrigo Monteiro escreveu sobre a peça "Super Coffin ou Sonho de uma noite de velório", em cartaz no Teatro Ziembinski (Tijuca/RJ), encenação de Os Ciclomáticos.

    Att
    Odir Ramos da Costa

    ResponderExcluir
  2. Sr.Odir,gostaria de ter uma cópia do seu texto sonho de uma noite de velório,para trabalhar com meus alumos de uma escola estadual de Praia Grande -SP.
    Lenilton Barros
    lenilton06@yahoo.com.br

    ResponderExcluir

Bem-vindo!