Foto: divulgação
Teatro popular de qualidade
“Super
Coffin ou Sonho de uma Noite de Velório” está há 13 anos no repertório de OsCiclomáticos Companhia de Teatro, grupo que, neste ano, assumiu a gestão do
Teatro Municipal Ziembinski, no bairro Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro.
Escrito por Odir Ramos da Costa, o texto consiste em uma farsa bem aos moldes
de Moliére, Martins Pena e Ariano Suassuna. Os personagens se apresentam com
marcas bastante fortes que os distanciam uns dos outros pela oposição, reconhecendo-se,
assim, no contexto da trama que evolui de forma clara e ágil. Na história, Benvindo
Seja da Silva é o dono da representação brasileira da multinacional Super
Coffin, uma empresa do ramo funerário que, então, completa 25 anos no Brasil.
Quis o destino que, na mesma data, a funerária estivesse na iminência de vender
o seu 50.000º caixão, um número simbólico. Para comemorar o feito, Benvindo
contrata um publicitário (Azevedo) para criar e executar uma campanha a fim de
estimular as vendas. Apesar de irresistíveis promoções, ocorre que o 50.000º
defunto não surge, obrigando Benvindo a questionar as propagandas que têm sido
veiculadas a respeito da sua empresa. Enquanto isso, na fábrica de caixões, um
antigo funcionário falece, mas deixa como último pedido não ser enterrado em um
caixão da Super Coffin. Valores morais e religiosos entram em jogo na decisão
da viúva: ser fiel à vontade do marido ou vender-se às promessas do patrão.
Dirigido
por Renato Neves, a comédia tem um ritmo rápido, que providencia à narrativa a
agilidade que ela requer. Construídos superficialmente, os personagens são
apresentados ao público pela ratificação de marcas, facilitando a identificação
e possibilitando a auto-referenciação ao longo da peça. O cunho popular, que
caracteriza o gênero em sua raiz, está exposto nas piadas de cunho sexual, na
crítica ao fanatismo religioso, na malandragem, na corrupção e no deboche. O
palco está quase o tempo inteiro limpo de forma que a movimentação acontece a
contento. De um modo geral, as interpretações garantem um discurso fluído, com
boas dicções, corpos ágeis e olhares irônicos capazes de transformar cenas
simples em grandes momentos cômicos. Talvez o maior valor da direção seja o
fato de manter constante o surgimento de “surpresas”, vencendo o desafio da
monotonia de forma bastante criativa. Há, no entanto, alguns problemas. Um
deles é a divisão do foco. Em várias cenas, a atenção está dividida em duas ou
três partes, de forma que o texto está sendo dito em um lado do palco e, em outros
dois, outras situações estão concorrendo com ela de forma gratuita e, por isso,
negativa. Outra questão é a sustentabilidade do ápice. Em determinado momento
da história, há uma cena que se repete três vezes, cada uma, de forma
diferente. A forma como a sequência acontece dá a ver a sua eleição como o
ponto alto da peça, de forma que tudo o que vem depois dela constitui o
desfecho. “Super Coffin” é um espetáculo tradicional e que apresenta, como já
se disse, uma estrutura aristotélica. Logo, espera-se que as resoluções
aconteçam rapidamente, encerrando a fruição no momento alto. Infelizmente não é
o que acontece. As cenas finais são longas, havendo um epílogo maior ainda.
Como não poderia deixar de ser, o ritmo cai vertiginosamente.
O
elenco é composto por um grupo afinado e criativo. Fabio Alavez (Benvindo), Getúlio
Nascimento (Basofia) e Júlio César Ferreira (Macadame) são as melhores
participações, porque apresentam interpretações vivas com marcas fortes de
espontaneidade. Sem dizerem uma só palavra, Fernanda Dias, Juliana Santos,
Carla Meireles (Coffin Girls) e, sobretudo, Mauro Carvalho (a Secretária) se
tornam essenciais na narração pela forma pontual com que ampliam as
potencialidades cômicas da produção. É difícil de se compreender o que diz
Nívea Nascimento (a Crente Nanete) na primeira metade do espetáculo, assim como
há que se observar que o ritmo cai nas cenas em que atua Fabíola Rodrigues (Dona
Emerenciana), talvez, em função da voz escolhida. Há um excesso de histrionismo
no trabalho de interpretação de Ribamar Ribeiro (Azevedo) que é igualmente
prejudicial.
Os
aspectos visuais de “Super Coffin ou Sonho de uma Noite de Velório” são
positivos dentro da função que executam. O ponto alto do cenário de André Vital
está na presença da estátua de São Jorge sempre iluminada a contrastar com a
forte presença da personagem evangélica. Os figurinos, também assinados por
Vital, são ricos, elevando o resultado estético da produção, sobretudo quando,
na segunda parte da peça, exploram-se variações do roxo, cor litúrgica da
penitência e, simbolicamente, da espiritualidade. A opção pela discomusic, na
trilha sonora, é coerente com a concepção do espetáculo que localiza a história
nos anos 70, mas oferece um grave problema à fruição da peça: o volume da
operação é desreguladamente altíssimo.
Em
cartaz no Teatro Municipal Ziembinski, “Super Coffin ou Sonho de uma Noite de
Velório” acontece em paralelo à exposição “Os Ciclomáticos Companhia de Teatro
16 anos de Vivência”. O grupo, pelo espetáculo e por chegar nesta etapa de sua
história, merece aplausos.
*
Ficha técnica:
Autor: Odir Ramos da Costa
Direção: Renato Neves
Elenco:
Fabio Alavez - Senhor Benvindo
Mauro Carvalho - Secretaria
Ribamar Ribeiro - Azevedo
Fabiola Rodrigues - Dona
Emerenciana
Getulio Nascimento - Basofia
Julio Cesar Ferreira - Macadame
Nívea Nascimento - Nanete
Carla Meirelles - Coffin
Girl
Juliana Santos - Coffin Girl
Fernanda Dias - Coffin Girl
Cenografia, Figurinos e
Maquiagem: André Vital
Sonoplastia: Renato Neves
Iluminação: Mauro Carvalho
Produção: Ribamar Ribeiro
Realização: Os Ciclomáticos
Companhia de Teatro
Amigos: o crítico Rodrigo Monteiro escreveu sobre a peça "Super Coffin ou Sonho de uma noite de velório", em cartaz no Teatro Ziembinski (Tijuca/RJ), encenação de Os Ciclomáticos.
ResponderExcluirAtt
Odir Ramos da Costa
Sr.Odir,gostaria de ter uma cópia do seu texto sonho de uma noite de velório,para trabalhar com meus alumos de uma escola estadual de Praia Grande -SP.
ResponderExcluirLenilton Barros
lenilton06@yahoo.com.br