Foto: divulgação
“Eclipse”
é o novo espetáculo do célebre grupo teatral mineiro Galpão, a segunda produção
resultante do projeto “Viagem a Tchékhov”, que também desencadeou o espetáculo “Tio
Vânia (Aos que vierem depois de nós)”, ambos em 2011. Dirigido por russo Jurij
Alschitz, a dramaturgia é resultante da análise de 150 contos do dramaturgo
Antón Tchékhov (1860-1904) e se constitui em um espetáculo adramático, estando,
assim, no “meio do caminho” entre os Diálogos de Platão, que ocupa um dos
extremos, e as peças de Samuel Beckett, que estão em outra ponta. Algumas
marcas justificam essa leitura: a ausência de personagens, a negação do tempo e
a indefinição do espaço. (Nesse sentido, a produção se afasta do teatro do
absurdo em que há personagens, tempo e espaço bem definidos, embora
constantemente autosubstituídos sem lógica aparente na constituição do próprio drama.)
Em cena, figuras dialogam sem que seja possível identificar alguma curva
dramática, norma, autorreferenciação ou coerência. O espectador deve se
preparar para um tempo alargado, convite aberto para a monotonia e a sonolência
nesse contexto de reflexões filosóficas, abstrações apuradas e significados aparentemente
sem significantes.
O
caráter da arte, a constituição dos valores, a importância da fé, a humanização
do ser humano são assuntos na pauta das figuras que pairam entre um eclipse
solar. Algumas histórias são contadas, um ovo de gaivota aparece, vem a neve:
de forma divergente, os acontecimentos surgem, as palavras são trocadas, o bom
teatro aparece nesse raro e apurado tipo de obra. Em termos estéticos, o Grupo
Galpão, que assina espetáculos conhecidos mundialmente como “Romeu e Julieta” e
“Na Rua da Amargura”, entre vários outros de seu repertório constituído há 30
anos, não decepciona. Chico Pelúcio, Inês Peixoto, Julio Maciel, Lydia Del
Picchia e Simone Ordones apresentam discursos verbais com excelentes oratórias,
desenhando visualmente movimentações que contribuem para o todo positivamente:
marcas limpas, ritmo regular, foco organizado de forma harmônica. Cenário e
figurino, também assinados por Alschitz, utilizam o preto e o amarelo e as cores da
bandeira russa (branco, azul e vermelho), tons bastante significativos para o autor
russo celebrado. A iluminação de Chico Pelúcio e de Bruno Cerezoli é
responsável por boa parte dos momentos mais belos da encenação, dividindo o
pódio com as projeções em vídeo de André Amparo, Chico de Paula e Bruno
Cardieri.
Oferecendo
mais uma obra de qualidade ao teatro brasileiro, o Grupo Galpão providencia ao
seu público o resultado de um trabalho sério de pesquisa em linguagem teatral,
além de um sólido conhecimento acerca da obra de um dos dramaturgos universais
mais importantes.
*
Ficha técnica:
Elenco: Chico Pelúcio, Inês
Peixoto, Julio Maciel, Lydia Del Picchia e Simone Ordones
Direção, Dramaturgia, Cenografia,
Figurino e Treinamento: Jurij Alschitz
Assistência de Direção e
Preparação Vocal: Olga Lapina
Assistência de Direção e Pesquisa
de Figurino: Diego Bagagal
Direção Musical e Arranjos: Ernani
Maletta
Iluminação: Chico Pelúcio e
Bruno Cerezoli
Vídeo Projeção: André
Amparo, Chico de Paula e Bruno Cardieri
Sonoplastia: Ricardo Garcia
Caracterização: Mona
Magalhães
Coreografia: Jomar Mesquita
Tradução: Eloquent Words
Revisão de textos: Eduardo
Moreira e Arildo de Barros
Assistência de Cenografia: Amanda
Gomes
Cenotécnica: Helvécio Izabel
Construção de Adereços: Tião
Vieira e Glauber Apicela
Fotos: Guto Muniz, Miguel
Aun e Bianca Aun
Projeto Gráfico: Laura
Bastos
Assessoria de Comunicação: Beatriz
França
Estagiários de Comunicação: João
Luis Santos e Jussara Vieira
Assistência de Produção: Evandro
Villela
Produção Executiva: Anna
Paula Paiva e Beatriz Radicchi
Coordenação de Produção: Gilma
Oliveira
Apoio Institucional: Instituto
Unimed-BH
Patrocínio: Petrobras
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