quinta-feira, 3 de maio de 2012

Eclipse (MG)


Foto: divulgação

 Uma produção rara

                “Eclipse” é o novo espetáculo do célebre grupo teatral mineiro Galpão, a segunda produção resultante do projeto “Viagem a Tchékhov”, que também desencadeou o espetáculo “Tio Vânia (Aos que vierem depois de nós)”, ambos em 2011. Dirigido por russo Jurij Alschitz, a dramaturgia é resultante da análise de 150 contos do dramaturgo Antón Tchékhov (1860-1904) e se constitui em um espetáculo adramático, estando, assim, no “meio do caminho” entre os Diálogos de Platão, que ocupa um dos extremos, e as peças de Samuel Beckett, que estão em outra ponta. Algumas marcas justificam essa leitura: a ausência de personagens, a negação do tempo e a indefinição do espaço. (Nesse sentido, a produção se afasta do teatro do absurdo em que há personagens, tempo e espaço bem definidos, embora constantemente autosubstituídos sem lógica aparente na constituição do próprio drama.) Em cena, figuras dialogam sem que seja possível identificar alguma curva dramática, norma, autorreferenciação ou coerência. O espectador deve se preparar para um tempo alargado, convite aberto para a monotonia e a sonolência nesse contexto de reflexões filosóficas, abstrações apuradas e significados aparentemente sem significantes.
                O caráter da arte, a constituição dos valores, a importância da fé, a humanização do ser humano são assuntos na pauta das figuras que pairam entre um eclipse solar. Algumas histórias são contadas, um ovo de gaivota aparece, vem a neve: de forma divergente, os acontecimentos surgem, as palavras são trocadas, o bom teatro aparece nesse raro e apurado tipo de obra. Em termos estéticos, o Grupo Galpão, que assina espetáculos conhecidos mundialmente como “Romeu e Julieta” e “Na Rua da Amargura”, entre vários outros de seu repertório constituído há 30 anos, não decepciona. Chico Pelúcio, Inês Peixoto, Julio Maciel, Lydia Del Picchia e Simone Ordones apresentam discursos verbais com excelentes oratórias, desenhando visualmente movimentações que contribuem para o todo positivamente: marcas limpas, ritmo regular, foco organizado de forma harmônica. Cenário e figurino, também assinados por Alschitz, utilizam o preto e o amarelo e as cores da bandeira russa (branco, azul e vermelho), tons bastante significativos para o autor russo celebrado. A iluminação de Chico Pelúcio e de Bruno Cerezoli é responsável por boa parte dos momentos mais belos da encenação, dividindo o pódio com as projeções em vídeo de André Amparo, Chico de Paula e Bruno Cardieri.
                Oferecendo mais uma obra de qualidade ao teatro brasileiro, o Grupo Galpão providencia ao seu público o resultado de um trabalho sério de pesquisa em linguagem teatral, além de um sólido conhecimento acerca da obra de um dos dramaturgos universais mais importantes.

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Ficha técnica:

Elenco: Chico Pelúcio, Inês Peixoto, Julio Maciel, Lydia Del Picchia e Simone Ordones
Direção, Dramaturgia, Cenografia, Figurino e Treinamento: Jurij Alschitz
Assistência de Direção e Preparação Vocal: Olga Lapina
Assistência de Direção e Pesquisa de Figurino: Diego Bagagal
Direção Musical e Arranjos: Ernani Maletta
Iluminação: Chico Pelúcio e Bruno Cerezoli
Vídeo Projeção: André Amparo, Chico de Paula e Bruno Cardieri
Sonoplastia: Ricardo Garcia
Caracterização: Mona Magalhães
Coreografia: Jomar Mesquita
Tradução: Eloquent Words
Revisão de textos: Eduardo Moreira e Arildo de Barros
Assistência de Cenografia: Amanda Gomes
Cenotécnica: Helvécio Izabel
Construção de Adereços: Tião Vieira e Glauber Apicela
Fotos: Guto Muniz, Miguel Aun e Bianca Aun
Projeto Gráfico: Laura Bastos
Assessoria de Comunicação: Beatriz França
Estagiários de Comunicação: João Luis Santos e Jussara Vieira
Assistência de Produção: Evandro Villela
Produção Executiva: Anna Paula Paiva e Beatriz Radicchi
Coordenação de Produção: Gilma Oliveira
Apoio Institucional: Instituto Unimed-BH
Patrocínio: Petrobras 

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