quinta-feira, 3 de maio de 2012

Até que a sogra nos separe (RJ)


foto: divulgação

Bom teatro em espetáculo ruim

                “Atéque a sogra nos separe” é uma comédia romântica dessas muitas que se vê na televisão todos os dias, atendendo a um mercado próprio, movimentando a economia, preenchendo os espaços. Tem o seu valor e, como uma obra de arte, merece respeito e admiração. Escrita, dirigida e interpretada por Anderson Oliveira, tem como seu principal ponto positivo a despretensão e pouco deve ser cobrado de quem promete pouco. Uma comédia romântica é um gênero como qualquer outro a guisa dos gostos pessoais de cada um. Quem não gosta do gênero não vá ver uma peça dele. Aqui gosta-se de teatro seja em qual atualização for.
                Estamos dentro do realismo, mais especificamente, fruindo uma de suas muitas variações. Os acordos com o real além da narrativa precisam ser bem amarrados, a peça precisa garantir altíssimos graus de verossimilhanças para que as quebras desses acordos sejam manifestadamente opções estéticas relevantes ao desenvolver da história. A coerência interna é importante, porque é ela quem pode garantir o ritmo rápido que a dramaturgia necessita. Acreditando no visual, o espectador vai prestar a atenção na história. (Não é à toa que José de Alencar gastou quinze páginas descrevendo o rio Paquequer antes de apresentar Peri. Não é por nada que as emissoras de TV investem pesado em cidades cenográficas, direção de arte perfeita e alta tecnologia em qualidade de imagem.) Nesse contexto, o cenário de Luciano Heiras é o pior de todos os equívocos de “Até que a sogra nos separe”. Composto de três mini palcos, a ambientação não garante, em um só centímetro, a adequada relação com o real além da peça. Quando as cortinas se abrem e se vêem painéis grandiosos em madeira bruta, sem pintura, com pregos aparecendo, canos de metal à mostra e samambaias de plástico, encontram-se muito mais motivos para ir embora do que para ficar e assistir à história que será contada ali. No closet, há duas ou três peças de roupas. Na sala, um fundo vermelho de gosto duvidoso e uma mesa auxiliar com uma tolha igualmente vermelha. Na sala de jantar, um fundo laranja, mesa e cadeiras em madeira pesada. Os três ambientes estão separados entre si, a trinta centímetros do chão, de forma que os atores pulam de um estrado a outro, usando ainda a parte externa sem qualquer relação com a história. Nesse contexto visual complicado, fica difícil analisar com eficiência os figurinos, porque sua paleta de cores e variedade de texturas se misturam negativamente com a ambientação de forma infeliz. O mesmo se diz da iluminação.
                Vencendo o desafio de atravessar o grandioso cenário, é possível identificar a história escrita em parceria com Maria Clara Horta e os personagens. Um casal, Carlos Alberto e Bia, encontra-se em crise na iminência da separação. Inicia um flashback, partindo do primeiro encontro no corredor da faculdade (o velho e batido clichê: os dois se esbarram, livros caem.) quando se descobre que ela estuda teatro e ele biologia (Outra falha da direção de arte, Carlos Alberto está com um livro de teatro nas mãos e não faz menção alguma sobre isso. Em outro momento, ele tira o significado de uma palavra em português de um dicionário de inglês) e são, dentro do contexto, opostos que se atraem - ela fuma, bebe, não come carboidratos, é artista. Ele usa óculos, não tem vícios e é filho de uma dona de restaurante italiano. A história avança evidenciando as diferenças entre os dois que não o impedem de seguir adiante no relacionamento no melhor jeito “Eduardo e Mônica” de ser. Desafio após desafio, os dois seguem juntos e a dramaturgia, valorosa nesse aspecto, enche a escalada de momentos fortes: o vestido do casamento escolhido pela mãe de Carlos Alberto e a visita de Maurício, o irmão de Bia, são algumas passagens interessantes. Então, quarenta minutos após a peça ter começado, entra Gioconda, a mãe do marido, a sogra da esposa. A pergunta é: será que eles vão vencer mais esse problema? Com situações bem marcadas, um texto fácil e diálogos superficiais, a dramaturgia atende ao gênero e satisfaz quem acertadamente não esperou por conversas requintadas, frases com segundas intenções e piadas ácidas. O humor de “Até que a sogra nos separe” é rasteiro e isso, deus nos livre do preconceito, não é ruim: palavrões, escracho e malandragem sempre fizeram rir e devem ter respeitado o seu lugar na arte popular. O final é bastante interessante, providenciando à narrativa um novo desafio ainda maior, o que é positivo.
                A direção oferece um olhar equilibrado por sobre a construção dos personagens. Gioconda (Anderson Oliveira, a sogra), Maurício e Juan (André Sobral, respectivamente, o cunhado e o namorado) partiram de estereótipos e conseguem o riso do público com facilidade, estando em Oliveira os melhores momentos da peça pela sua presença vibrante. (Eles são as “quebras” dos acordos com o real de que se falou acima.) Já os protagonistas Bia (Fernanda Zau) e Carlos Alberto (Daniel Müller) são mais próximos do real além da narrativa, com mais marcas de profundidade e, por isso, os responsáveis pela dramaticidade. De um modo geral, todas as interpretações estão adequadas, agregando aspectos positivos à obra.
                A ideia mais sublime de teatro é a de que A interpreta B diante de C. Se o teatro aqui não aparece na sua melhor possibilidade, o grande culpado é um elemento visual, o que faz pensar sobre a distância entre o conceito de teatro e o conceito de espetáculo. “Até que a sogra nos separe” pode não ser um grande espetáculo, mas, sem dúvida, oferece um teatro que pode e deve ser aplaudido.

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Ficha técnica:
Texto: Anderson Oliveira e Maria Clara Horta
Direção: Anderson Oliveira
Elenco: Anderson Oliveira, Fernanda Zau, Daniel Müller, André Sobral
Cenário: Luciano Heiras
Gerente de Produção e Designer: Domingos Santana
Ass. de Produção: Fabrício Neri e Ronize Carrilho
Diretor de Produção: Leandro Barbalho
Assessoria de Imprensa: Fábio Amaral - Minas de Idéias
Operador de Som: Marcos Ribas
Operador de Luz: Anderson Schinaider
Produção e Realização: BKL PRODUÇÕES E R&A PRODUÇÕES

13 comentários:

  1. Só saber que há palavrões já perdi a vontade de assistir.
    Teatro é meio de cultura. Palavrão já se escuta muto no nosso dia-a-dia.

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    1. Pensei o mesmo antes de ir assistir, mesmo tendo alguns palavrões é muito boa, na minha concepção, além de ser cultura, teatro tem que mostrar um pouco de nossa realidade, eles não podem fantasiar, e sei que essa história realmente acontece nas famílias (inclusive, aconteceu na minha) e por isso (também) que gostei muito.

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  2. Bem divertida!! Vale a pena ser assistida!!!!!!!!!!!

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  3. O mais divertido espetáculo, atualmente, em cartaz no Rio. Eu não tinha idéia do quanto eu riria,quando saí de casa. Lembra-nos Jorge Dória e Carvalhinho nos bons tempos de comédia. Recomendadíssimo.

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  4. eu gostei muito!!!! fui com meu marido e rimos horrores!!! Os palavrões não são em vão tem um contexto. Eu recomendo!!!

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  5. Para quem precisa desopilar o fígado e a mente, a peça é recomendadíssima. Valeu o ingresso!

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  6. Muito bom, vale a pena, um texto simples e com grandes piadas, ideal para um domingo à noite. Parabéns Anderson Oliveira. Recomendadíssima!!!!!!!

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  7. Eu adorei , valeu apena eu ri o tempo todo o Andre Sobral é o cara ...

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  8. Recomendo.....RI muito .......vale muit a pena.

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  9. muito boa a peça, recomendo a todos pq faz parte do dia a dia de muita gente.

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  10. Amei! Ri do início ao fim! Fazer teatro não é fácil, o cenário era legal, figurino também, aqui não é Broadway! Os palavrões são poucos, nada agressivo, encaixa bem. Texto descontraído, para pessoas de bom humor. Anderson Oliveira arrasa de sogra!!!! Adorei!

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  11. Assisti a peça no sesc Campos e foi muito bom!

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  12. A melhor peça de comédia que já vi, assisti várias vezes e não me canso de assistir, parabéns Anderson Oliveira !!!!!!!!

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