Foto: divulgação
Uma história monótona contada dignamente
Escrito
há dez anos pelo inglês Sir David Hares (1947), “Sopro de vida” (The Breath of
Life) estreou em Londres tendo Dame Judy Dench e Dame Maggie Smith nos papéis
de Francês Beagle e Madeleine Palmer respectivamente. Na produção dirigida por
Naum Alves de Souza, é Rosamaria Murtinho e Natália Timberg quem estão no palco.
Na história, vemos Frances visitando Madeleine com o objetivo de escrever um
romance. Aos poucos, o diálogo deixa ver o que as une: Martin, o ex-marido de
Frances, foi amante de Madeleine. A partir daí, esse é o aspecto negativo da
dramaturgia, todos já sabem o que vai acontecer: as duas vão conversar até que
os detalhes das relações estejam revelados uma para a outra. Porque paira a
possibilidade (remota) de surpresas, é preciso assistir ao espetáculo para
averiguar se elas acontecem ou não. Aqui vale dizer que Natália Timberg,
Rosamaria Murtinho e Naum Alves de Souza têm suas marcas suficientemente postas
na história do teatro brasileiro para que seus trabalhos sejam vistos por
multidões.
Traduzido
por Naum Alves de Souza e Nathalia Timberg, o texto deixa ver muitas frases
profundas e pouco movimento. Lento do início ao fim, o ritmo avança quando
detalhes na relação entre Martin e Madeleine (Timberg) são expostos por Frances
(Murtinho), mas, mesmo aí, a curva dramática é sutil demais, fazendo com que os
méritos, não muitos, não estejam na dramaturgia, mas nos signos visuais.
O
cenário de Celina Richers e a iluminação de Wilson Reiz garantem à plateia a
chance de encontrar no palco algo que se aproxime do real além da narrativa. Rico
em detalhes, os trabalhos de Richers e Reiz são valorosos à fruição que não
encontra entraves no estabelecimento da verossimilhança, fator indispensável
num drama realista como é o caso aqui. Apesar de agir nesse sentido, os
figurinos de Beth Filipecki e de Renaldo Machado não colaboram com o resultado
visual porque não oferecem nenhum movimento à história já parada. Do verde ao
bege, passando pelo marrom e pelo mostarda, os figurinos concordam com o verde
musgo das paredes de forma monótona porque obediente.
Natália
Timberg e Rosamaria Murtinho são grandes damas do teatro brasileiro assim como
Dench e Smith são no teatro inglês. Em uma direção cujos traços são invisíveis,
encontra-se em cena um jeito positivamente realista de dizer o texto, sendo que
o volume é auxiliado pelo uso de microfones. As intenções e as entonações são
bem postas, apesar de não garantirem a evolução tradicional que caracteriza as boas
histórias. Bem interpretada e bem produzida, “Sopro de vida” é uma história monótona
contada dignamente que embeleza a riquíssima programação do Theatro Net Rio, a nova
pérola do teatro carioca, certamente aí mais um motivo para as boas multidões.
*
Ficha Técnica
Autor: David Hare
Tradutor: Naum Alves de Souza e Nathalia Timberg
Diretor: Naum Alves de Souza
Elenco: Nathalia Timbeg e Rosamaria Murtinho
Figurinos: Beth Filipecki e Renaldo Machado
Cenários: Celina Richers
Iluminação: Wilson Reiz
Produção Executiva: Carol Marques
Assessoria de Imprensa: Natasha SteinDireção de Produção:
Montenegro e Raman
Co-produção: Hermes Frederico e Humberto Braga
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