Foto: divulgação
História ruim contada de uma
forma interessante
“À
sua imagem e semelhança” é um espetáculo produzido pelo grupo ComunidadeTeatral de Irajá (CTI) escrito e dirigido por Ribamar Ribeiro. A produção é
amadora e aqui há que se fazer um esclarecimento sobre o termo. As produções
teatrais se dividem em profissionais (quando há o objetivo de lucro e os
profissionais envolvidos têm seus devidos registros nos das divisões regionais
do trabalho após terem comprovado formação técnica ou acadêmica além de
inúmeros trabalhos no mercado artístico), amadoras (quando os envolvidos têm suas
atividades profissionais outras, dedicando-se à arte nas horas livres) e
estudantis (quando os envolvidos apresentam trabalhos fruto ou parte de sua
formação artística). Nos três níveis, há produções de alta ou de baixa
qualidade e antever um resultado antes da obra ter sido vista não é outra coisa
senão preconceito, o qual devemos sempre evitar. Participante do 33°Festival de
Teatro da FETAERJ, Federação de Teatro Associativo do Estado do Rio de Janeiro,
o espetáculo recebeu sete troféus (Prêmio Paschoalino) em diversas categorias. Agora
está em cartaz no Teatro Municipal Ziembinski e ocupa, assim, uma janela de
igual importância a dezenas de outras produções que se apresentam na cidade.
O
problema mais significativo de “À sua imagem e semelhança” é o texto. Com
frases que se repetem num jogo até interessante, demora muito tempo para o
espectador encontrar na obra resposta para o que exatamente está vendo. Então,
a família (Pai, Mãe, Filho, Filha e Cachorro) apresentada no início ganha uma
cena longa e há indícios de que a história está para começar. O conflito
finalmente aparece: o filho morreu, mas a família não pode cuidar do seu
enterro no momento porque a novela está para começar. Todo o cansativo jogo
dramatúrgico que se viu até ali parece, enfim, fazer algum sentido. No entanto,
a evolução desse conflito não se estabelece a contento. O tempo se perde, o
espaço não se firma, a história não consegue se estabelecer. Sem tratar do tema
de forma rica através de argumentos dissertativos, “À sua imagem e semelhança”
é uma história mal escrita, ainda que contada, como será tratado a seguir, de
forma interessante.
A
peça apresenta-se formalmente através do jogo de construção e de manutenção de
uma linguagem cheia de códigos. As interpretações se dão a ver, nesse sentido,
através de muitas marcas que escondem a espontaneidade, afastando-se do real
além da narrativa. O efeito apresenta resultados interessantes do ponto de
vista da narrativa, da estética e da produção. Primeiro, porque o espetáculo
consiste em uma crítica à importância da televisão na vida do homem comum e,
sendo assim, o trato com os seus códigos, muitos deles cristalizados pelo tempo
e pela audiência constante, é positivo. Segundo, porque o excesso de marcas dá
unidade estética ao todo e pode, do jeito como estão dispostos, divertir. Por
fim, em se tratando de atores inexperientes, asseguram à produção ganhos de
qualidade esperados, de forma que não há destaques no elenco, nem positivos e
nem negativos.
Ficam, por fim, os figurinos de
Cris Silva, que propõem uma estética potente, e um cenário ilustrativo de Rafael
Balthazar e Ribamar Ribeiro, que é pouco utilizado além de um jogo cênico vivo
embora superficial. Felizmente, acima de tudo, a graça de um elenco grande e
jovem, unido em um só grupo, tratando com seriedade o teatro que apresenta ao
público.
*
FICHA TÉCNICA:
Texto e Direção: Ribamar
Ribeiro
Elenco: Carola Prado, Cris
Ventura, Fagner Falcão, Felipe Ferraz, Gustavo Araujo, Juliana Amorim, Leo
Morais, Márcia Maia, Rafael Balthazar, Rodrigo Villas Boas, Talita Fusco e Zia
Fatah.
Cenografia: Rafael Balthazar e
Ribamar Ribeiro
Maquiagem: Getulio Nascimento
Figurinos: Cris Silva
Sonoplastia: Ribamar Ribeiro
Operação de som: Iamonã
Vilhena
Iluminação: Bruno Caverninha
Produção: Cris Silva
Realização: Comunidade Teatral de
Irajá - CTI
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