Foto: divulgação
O teatro do absurdo em uma bela produção contemporânea
“Quebra-Ossos” é uma comédia escrita por Julia Spadaccini e dirigida por Alexandre Mello com vários méritos. A começar pelo texto, conhecem-se três personagens: João, Augusto e Maria. O primeiro foi deixado pela namorada e recebe a visita surpresa de um casal de amigos. O segundo conversa com o entregador de pizza enquanto sua esposa não chega. A terceira chamou dois amigos que não vê há doze anos para um reencontro na casa da avó. Se a dramaturgia é uma comédia de costumes, a encenação é absurda. Não há lógica em boa parte de “Quebra-Ossos”: os personagens são cheios de marcas, mas não farsescos; os diálogos se repetem; a movimentação é desenhada; o ritmo é crescente na evolução de cenas cada vez menores. Tudo é arranjado numa atmosfera estranha, inusitada, improvável e esse é o maior mérito da produção realizada pela Múltipla Companhia Teatral, embora a proposta não se confirme até o fim.
Rodrigo Turazzi, Patrícia Elizardo e Cirillo Luna estão excelentes nas suas interpretações de João, Maria e Augusto respectivamente, executando as marcas previstas com perfeição: detalhes minuciosos na expressão gestual, intenções bem postas, corpos precisos, sobretudo em Turazzi, em destacável performance. Alexandre Mello dirige o elenco, produzindo uma narrativa carregada de traços, de forma que não há qualquer desperdício, havendo até alguns excessos. Dada aí a distância do real além da narrativa, os personagens e os movimentos da narrativa se apresentam a partir de lentes de aumento, vindo daí a comédia refinada e elegante que tanto faz valorizar o teatro nessa peça. Nas cenas finais, a relação entre as três histórias vai ficando mais clara, mais justificada, e é quando o absurdo perde força, o que não é, nesse caso, ruim, já que a comédia já está estabelecida.
O cenário de Dani Geammal confere suavidade à carga pesada de signos cênicos positivamente. O figurino de Flavio Souza, além de valorizar os atores, age em igual sentido na narrativa, como também faz a trilha sonora de Leandro Baumgratz e a iluminação de Renato Machado, essa última com detalhes meritosos em luminárias, cordas e pequenos focos. Nos elementos plásticos, vale ainda destacar a projeção do filme “Quebra-Ossos”, um dos pontos altos da comédia.
Com atualizações no século XIX, na obra de Qorpo Santo, e, principalmente, nos anos 50, com Ionesco, é muito interessante observar como o Teatro do Absurdo vai aparecendo, mesmo que de forma sutil, em produções mais contemporâneas. “Quebra-Ossos” atualiza o gênero sobretudo na encenação, possibilitando um espetáculo que enriquece à programação teatral da capital fluminense.
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Ficha técnica:
Texto: Julia Spadaccini
Direção: Alexandre Mello
Elenco: Cirillo Luna, Patrícia Elizardo e Rodrigo Turazzi
Cenário: Dani Geammal
Iluminação: Renato Machado
Figurino: Flávio Souza
Trilha Sonora: Leandro Baumgratz
Visagismo: Sandra Moscatelly
Direção de Produção: Rodrigo Turazzi
Produção Executiva: Rogério Garcia
Assistente de Produção: Larissa Sarmento
Assessoria de Imprensa: Ana Paula Sant’Anna
Programação Visual: Paula Sattamini
Áudio Visual: Multiphocus Arte & Comunicação
Fotografia: Claudio Senra
Operação de Luz: Eduardo Hoffmann
Operação de som e de imagem: Ricardo Lacerda
Idealização: Cirillo Luna
Produção: Turazzi Produções
Realização: Múltipla Companhia Teatral
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