quarta-feira, 9 de maio de 2012

O que você gostaria que ficasse? (RJ)


Foto: divulgação

A celebração da humanidade

                “O que você gostaria que ficasse” é um espetáculo teatral que surge a partir de uma pesquisa coletiva sobre o universo significativo sugerido no livro “O mundo sem nós”, de Alan Weisman, em que o autor imagina o processo de desaparecimento da humanidade já que nenhum dos meios de preservação existentes perduraria sem que o homem estivesse presente. Em termos estéticos, o mérito maior de “O que você gostaria que ficasse” está em unir o conteúdo à forma, a mensagem ao canal, o emissor ao receptor. A interatividade é usada de forma que o público participa da construção da história efetivamente. Quem assiste à peça é convidado a voltar no tempo. Lado a lado, a plateia se identifica entre si enquanto constrói um momento de rara beleza.

                Com texto e direção assinados por Miguel Thiré, que outrora dirigiu os meritosos “Superiores” e “Dois para viagem” (esse em conjunto com Jô Bilac), a produção, vista pela teoria, constrói um espetáculo a partir da celebração do encontro, do teatro enquanto resultado de uma relação convivial (ver Jorge Dubatti) em que pessoas se reúnem e são testemunhas e produtores de poética ao mesmo tempo em que são a poética. Os atores Cynthia Reis, Eduardo Cravo, Jarbas Albuquerque, Raquel Alvarenga e Suzana Nascimento deixam no palco coisas que gostariam que ficassem na possibilidade de seu desaparecimento. A discografia dos Beatles em fita cassete, os quadros de Van Gogh, uma câmera fotográfica Polaroid são alguns exemplos. O público é delicadamente convidado a participar e atende ao convite com carinho, deixando também suas pequenas “heranças” através de desenhos feitos no chão com giz. O público deixa a sua marca, as pessoas existem, a história acontece. Surge uma personagem cuja vida é feita de respostas ouvidas pelos atores a partir de perguntas feitas ao público, de forma que, em cada apresentação, é outro o protagonista. O momento ganha marcas visíveis de unicidade e de grande valor estético.
                Em “O que você gostaria que ficasse”, a fluidez da narrativa faz dupla com uma fluidez estética felizmente. O clima  que as cores e as formas dos objetos imprimem localizam a história em um lugar que já passou e a trilha sonora de João Thiré acompanha o significado propondo reflexões sobre o tempo. A direção de arte de Junior Santana, em que trilha, cenário, figurino e iluminação se encontram, é um exemplo de quão próximos estão os signos estéticos das conseqüências significativas de sua fruição.
                O tom de voz é cálido, a movimentação é suave, o ritmo caminha pausada e docemente. Em tudo, está o valor do ser humano, personagens de uma história que acontece todos os dias em um cenário grandioso que chamamos de universo. A ver!

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Ficha técnica:
Concepção e direção: Miguel Thiré
Elenco: Cynthia Reis, Eduardo Cravo, Jarbas Albuquerque, Raquel Alvarenga e Suzana Nascimento
Assistência de direção: Paulo Mathias Jr. e Raquel Alvarenga
Direção de arte: Junior Santana
Trilha sonora original e seleção musical: João Thiré
Iluminação: Cadu Fávero
Projeto Gráfico: Raquel Alvarenga
Fotos: Antônio Pessoa
Produção Executiva: Ana Rios e Bruna Oliveira
Assistência de produção: Beatriz Novellino
Direção de Produção: Jarbas Albuquerque
Produção Geral: Thijoana Filmes
Realização: Brecha Coletivo

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