Foto: divulgação
A celebração da humanidade
“O
que você gostaria que ficasse” é um espetáculo teatral que surge a partir de
uma pesquisa coletiva sobre o universo significativo sugerido no livro “O mundo
sem nós”, de Alan Weisman, em que o autor imagina o processo de
desaparecimento da humanidade já que nenhum dos meios de preservação existentes
perduraria sem que o homem estivesse presente. Em
termos estéticos, o mérito maior de “O que você gostaria que ficasse” está em
unir o conteúdo à forma, a mensagem ao canal, o emissor ao receptor. A
interatividade é usada de forma que o público participa da construção da
história efetivamente. Quem assiste à peça é convidado a voltar
no tempo. Lado
a lado, a plateia se identifica entre si enquanto constrói um momento de rara beleza.
Com
texto e direção assinados por Miguel Thiré, que outrora dirigiu os meritosos “Superiores”
e “Dois para viagem” (esse em conjunto com Jô Bilac), a produção, vista pela teoria,
constrói um espetáculo a partir da celebração do encontro, do teatro enquanto
resultado de uma relação convivial (ver Jorge Dubatti) em que pessoas se reúnem
e são testemunhas e produtores de poética ao mesmo tempo em que são a poética.
Os atores Cynthia Reis, Eduardo Cravo, Jarbas Albuquerque, Raquel Alvarenga e
Suzana Nascimento deixam no palco coisas que gostariam que ficassem na
possibilidade de seu desaparecimento. A discografia dos Beatles em fita
cassete, os quadros de Van Gogh, uma câmera fotográfica Polaroid são alguns
exemplos. O público é delicadamente convidado a participar e
atende ao convite com carinho, deixando também suas pequenas “heranças”
através de desenhos feitos no chão com giz. O público deixa a sua marca, as
pessoas existem, a história acontece. Surge uma personagem cuja vida é feita de
respostas ouvidas pelos atores a partir de perguntas feitas ao público, de
forma que, em cada apresentação, é outro o protagonista. O momento ganha marcas
visíveis de unicidade e de grande valor estético.
Em
“O que você gostaria que ficasse”, a fluidez da narrativa faz dupla com uma
fluidez estética felizmente. O
clima que as cores e as formas dos objetos imprimem localizam a história em um
lugar que já passou e a trilha sonora de João Thiré
acompanha o significado propondo reflexões sobre o tempo. A
direção de arte de Junior Santana, em que trilha, cenário, figurino e
iluminação se encontram, é um exemplo de quão próximos estão os signos estéticos das conseqüências significativas
de sua fruição.
O
tom de voz é cálido, a movimentação é suave, o ritmo caminha pausada e
docemente. Em tudo, está o valor do ser humano, personagens de uma história que
acontece todos os dias em um cenário grandioso que chamamos de universo. A ver!
*
Ficha técnica:
Concepção e direção: Miguel Thiré
Elenco: Cynthia Reis, Eduardo
Cravo, Jarbas Albuquerque, Raquel Alvarenga e Suzana Nascimento
Assistência de direção: Paulo
Mathias Jr. e Raquel Alvarenga
Direção de arte: Junior Santana
Trilha sonora original e seleção
musical: João Thiré
Iluminação: Cadu Fávero
Projeto Gráfico: Raquel Alvarenga
Fotos: Antônio Pessoa
Produção Executiva: Ana Rios e
Bruna Oliveira
Assistência de produção: Beatriz
Novellino
Direção de Produção: Jarbas
Albuquerque
Produção Geral: Thijoana Filmes
Realização: Brecha Coletivo
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