segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Inimigas íntimas (RS)

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Foto: João Ricardo

Ingra Lyberato e Fernanda Carvalho Leite


Ingra Lyberato e Fernanda Carvalho Leite no coração do público gaúcho

A comédia “Inimigas íntimas” chega ao seu décimo ano atraindo muito público. Escrito por Artur José Pinto, um dos dramaturgos gaúchos mais encenados no sul do Brasil, o texto tem direção de Néstor Monastério. Na história, duas amigas de infância, que estiveram separadas depois de alguns episódios de crise, se preparam para um reencontro com sabor de vingança. Nele, elas pretendem ter de volta a vida que uma teria roubado da outra. Fernanda Carvalho Leite e Ingra Lyberato são as atrizes que, de maneira ótima, interpretam respectivamente Mariana e Lúcia, bem como os outros personagens periféricos. A peça cumpriu três apresentações no 19o Porto Verão Alegre e deve voltar em cartaz para mais temporadas.

Uma boa comédia de Artur José Pinto
Mariana (Fernanda Carvalho Leite) e Lúcia (Ingra Lyberato) foram melhores amigas quando adolescentes. A primeira queria ser atriz e a segunda queria ser bióloga e ter filhos. Mariana dera seu primeiro beijo em um garoto chamado Osmar, por quem, tempos depois, Lúcia se apaixonou. O momento crucial da amizade (e da peça) se dá em um teste para um espetáculo de teatro. Lúcia acompanha a amiga, torcendo por ela. Convocada pelo diretor a participar, Lúcia ganha o personagem no lugar da amiga. Talvez como vingança, Lúcia ganha o coração de Osmar, com quem se casa e tem três filhos. Lúcia se torna uma atriz de sucesso não só no teatro, mas também no cinema e na televisão. Os anos se passam e, ao longo do tempo, é raro haver um encontro entre as duas. Ao fim de cada um, sempre fica a promessa de que se reencontrem um dia. 

Eis que o dia do ajuste de contas chega e é quando nós, o público, começamos a participar disso, ouvindo essas histórias em suas intensidades e cores. Mariana tem, como interlocutor, a sua empregada Ivette. Lucia, por sua vez, conversa com Jussara, uma jornalista que a procura para uma entrevista. Entre nós e as protagonistas, as personagens coadjuvantes, felizmente, enriquecem a cena trazendo cada uma um roll de características que deixa as situações mais engraçadas.

O maior mérito do texto está no modo como, em sua escrita, Artur José Pinto organiza a situação e prepara o leitor para a cena final. Pouco a pouco, o conflito vai se apresentando e tendo suas partes cada vez mais desenvolvidas, apontando para o desfecho. O texto acostuma o seu leitor a acompanhar as histórias com calma. As cenas são longas e as narrativas apresentadas em detalhes. O problema está no fim. Sem que essa análise antecipe detalhes do fechamento, vale dizer que a cena final está muito aquém do esperado. Ela é rápida e simples demais de modo que parece inacreditável que a história termine assim. (Na sessão de ontem, quando o black-out final marcou o fim da peça, alguém gritou pensando que havia faltado luz. A reação simbolizou uma sensação de que havia mais para acontecer.)

Fernanda Carvalho Leite e Ingra Lyberato brilham
A direção de Néstor Monasterio atualiza bem o texto para a cena. São excelentes as articulações dos quadros e a movimentação das atrizes no centro deles. É visível um cuidado na defesa de uma comédia tão simples que, em termos estéticos, alça alguma relevância positivamente. Em destaque, deve-se valorizar o ritmo de toda a peça e de cada uma de suas partes internas, o que evidencia uma pesquisa bastante interessante sobre os personagens sem que a peça chegue a virar uma coisa que ela não é.

Fernanda Carvalho Leite e Ingra Lyberato estão excelentes em cena, atingindo todos os objetivos esperados. O texto é dito de forma viva e honesta. Há franqueza e uma certa ingenuidade na exposição do corpo, nas brincadeiras cênicas, na movimentação. André Oliveira, que faz a contrarregragem, participa na construção desse clima, cativando o espectador com discrição. O conjunto carismático das atuações diverte e encanta o público que torce para o sucesso de todos os personagens.

O teatro comercial e o diálogo com a plateia
O figurino de Sérgio Lopes, o cenário de Rodrigo Lopes, a música de Duca Leindecker e de Néstor Monastério, a coreografia de Jussara Miranda e a luz do diretor, com destaque para o primeiro, participam pouco da encenação, mas de forma colaborativa e valorosa. Há bem poucos recursos, garantindo a fluência da comédia nesse tipo mais corriqueiro e sem grandes pretensões, mas ainda assim importante para o mercado.

“Inimigas íntimas” é um sucesso de público, reunindo os gaúchos há dez anos em torno das aventuras das personagens. Que o teatro comercial, em seu ótimo diálogo com as plateias, permaneça assim em ótimo bom nível. Vida longa!

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FICHA TÉCNICA:
Autor: Artur José Pinto
Direção: Néstor Monasterio
Elenco: Fernanda Carvalho Leite e Ingra Lyberato
Contrarregra e mordomo: André Oliveira
Figurino: Sérgio Lopes
Cenografia: Rodrigo Lopes
Música: Duca Leindecker, Néstor Monasterio
Coreografia: Jussara Miranda
Iluminação: Néstor Monasterio
Programação Visual: Nicolas Monastério

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