Foto: divulgação
Jane Di Castro |
Jane Di Castro celebra 49 anos de profissão
“Passando batom” celebra os 49 anos de carreira de Jane Di Castro. Em cartaz na Sala Baden Powell, em Copacabana, a produção é a mesma que fez memorável sucesso no Cassino Rio, que ficava no segundo andar do Amarelinho, na Cinelândia, no inverno de 1984. Dirigido por Ney Latorraca e com direção musical de Guilherme Lara, o espetáculo inclui repertório de standards da música internacional além de memórias e de reflexões da atriz e cantora acerca da vida nos palcos e suas dificuldades, do preconceito homo e transfóbico e detalhes de sua vida atual. Vale a pena ver.
Um dos aspectos mais relevantes de “Passando batom” talvez seja o fato de que o espetáculo é um musical autobiográfico. Hoje aos sessenta e sete anos, ela nasceu no bairro Oswaldo Cruz, no subúrbio carioca, tendo sido batizada com o nome de Luiz de Castro. O nome artístico, mantido através das décadas, foi dado por Bibi Ferreira, que a dirigiu ainda nos anos 60, em produções do teatro de revista. Desse período em diante, várias foram as participações de Jane Di Castro na cena cultural. Em 2004, ao lado de Rogéria, Divina Valéria, Camille K, Eloína, Marquesa, Brigitte de Búzios e de Fujika de Halliday, ela integrou o elenco de “Divinas Divas”, que ficou dez anos em cartaz no Teatro Rival e inspirou o documentário homônimo (ainda não lançado) dirigido por Leandra Leal. Nas canções “Metamorfose Ambulante” (Raul Seixas), “Balada de um louco” (Rita Lee), “Estrela de Madureira” (Roberto Ribeiro) e “Copacabana” (Tom Jobim), pode ser emocionante perceber que, no palco, está uma ponte firme (e exuberante!) que é capaz de nos ligar a um mundo agora um tanto esquecido infelizmente. Outros números, como “Yo Vivire” (Celia Cruz/Gloria Gaynor), “La Vie en Rose” (Edith Piaf), “New York, New York” (Frank Sinatra) ou “Talismã” (Elson Forrogode), podem colaborar na representação de um tempo em que espetáculos como esse eram o único refúgio onde homossexuais podiam viver sua personalidade mais plenamente.
O ponto sensível de “Passando batom” é a dramaturgia. O título remete ao prazer que Jane Di Castro sente desde criança em pintar os lábios. Lá pelas tantas, porém, o texto apresentado nos intervalos das canções se repete negativamente, ficando claro que o tema é apenas uma justificativa sem quase qualquer aprofundamento de ordem estética. O cenário de Claudia Phoenix também é positivo ao representar um camarim de teatro, mas o quadro em que aparecem Jane e Ney Latorraca não conversa bem com a iluminação em alguns momentos. O figurino concebido por Eloína marca os bons valores da produção, esses principalmente ratificados pela direção musical de Guilherme Lara apresentada pela banda composta por quatro músicos tocando ao vivo.
Casada há 48 anos com Otávio Bonfim, Jane Di Castro, pelo modo como conduziu e conduz sua carreira, poderia ser apenas um valoroso símbolo de liberdade (que de todo nossa sociedade ainda não alcançou). No entanto, “Passando batom” é mais do que isso: uma oportunidade de se conectar com o passado, com boa música em um repertório inesquecível e com uma figura excelente. Aplausos!
Ficha Técnica
Texto: Ney Latorraca e Jane Di Castro
Direção Geral: Ney Latorraca
Com: Jane Di Castro
Direção e roteiro musical: Guilherme Lara
Cenário: Claudia Phoenix
Figurinos: Eloína
Fotografia: Daniel Marques
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