Foto: Guga Melgar
Dani Barros e Lilia Cabral |
Os aplausos à Maria Siman
O lindo espetáculo “Maria do Caritó”, cujo sucesso é enorme desde 2010 quando estreou, fez curta temporada no mês de julho no Theatro Net Rio, em Copacabana. Com excelente texto de Newton Moreno e não menor direção de João Fonseca, a peça é protagonizada por Lilia Cabral e tem, no elenco, Fernando Neves, Eduardo Reyes, Silvia Poggetti e Dani Barros, todos em ótimas participações. Na mesma medida em que diverte, a história emociona, oferecendo momentos de grande prazer à audiência que já soma mais de cem mil pessoas ao longo de meia década. Maravilha!
A história começa em um 13 de junho quando, aos 49 anos, Maria do Caritó (Lilia Cabral) faz mais uma promessa para Santo Antônio a fim de encontrar um marido que lhe tire a virgindade. Quando criança, ela foi prometida em casamento por seu pai ao Santo Djalminha que, segundo ele, a salvara da morte na ocasião. Desde esse dia, correu pelo sertão sua fama de “santa milagreira”. Com a chegada de um circo na cidade, ela conhece Anatolli (Eduardo Reys), um artista supostamente russo, que lhe fisga o coração. Por causa dele, Maria do Caritó passa a viver uma vida dupla: de um lado, se torna palhaça do circo e noiva do artista principal e, de outro, é santa milagreira, capaz de ressuscitar mortos, e cabo eleitoral do coronel municipal. Com habilidade, Moreno, também autor dos célebres “Agreste” (2004) e “As centenárias” (2007), apresenta uma narrativa cujas referências a Ariano Suassuna (1927-2014) não são apenas formais. Como nos melhores textos do imortal paraibano, em “Maria do Caritó”, as más ações dos personagens não são indicadores de seus defeitos, mas tentativas humanas de driblar a realidade dura e conseguir algum prazer na Terra. Eis aí a parte mais afiada dessa narrativa que é capaz de cortar o coração e fazer sangrar tanto riso como lágrimas.
João Fonseca, que ganhou o Prêmio Shell de Melhor Direção por esse espetáculo, apresenta um belo trabalho aqui. As cenas acontecem em jogo ágil em que se exploram o palco com grande potencialidade e os diferentes tempos de modo versátil e fluido. Os ótimos trabalhos de interpretação dos atores, sem exceção, defendem concepção bem amarrada em uma abordagem coesa e coerente que não se perdeu através dos anos desde a estreia. Em cena, Lilia Cabral se torna rapidamente fonte e destino das intenções da plateia, que passa a torcer por sua personagem, rir e se emocionar. Em destaque, Dani Barros, que arrematou o Prêmio APTR de Melhor Atriz Coadjuvante por sua participação em “Maria do Caritó”, oferece composições carismáticas em excelentes apresentações de suas Dona Cosma, Galinha Damiana, Ex-Defunda e Maria Ardida.
O cenário de Nello Marrese, em que participam telas de Anderson Thives, é outro dos grandes méritos da produção. Partindo de lugares comuns, como o fuxico, o quadro explora outras texturas, explorando o palco sem prejudicar a movimentação dos atores com cor, vitalidade e potência. O figurino de J.C. Serroni, a iluminação de Paulo César de Medeiros e a música original de Alexandre Elias conservam a produção em lugar esteticamente popular, mas não superficial, e belo, mas não complexo.
No vocabulário regional, caritó é prateleira localizada na parte alta de uma parede em casa simples. “Estar no caritó” significa estar “abandonada, esquecida”. Em uma época em que a multiplicação de perfis virtuais não expressa a realidade da convivência verdadeira, de um certo modo, todo mundo já se sentiu no “caritó”. Aceitando o desafio de se comunicar com as multidões e de oferecer uma obra cujo alto valor artístico seja facilmente reconhecido, essa produção de Maria Siman merece repetidos aplausos.
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Ficha Técnica
Texto: Newton Moreno
Direção: João Fonseca
Direção de Produção: Maria Siman
Elenco: Lilia Cabral, Eduardo Reyes, Fernando Neves, Silvia Poggetti e Dani Barros
Cenários: Nello Merrese
Figurinos: J.C Serroni
Iluminação: Paulo César Medeiros
Direção de Movimentos: Kika Freire
Música original: Alexandre Elias
Produção Executiva: Clarice Coelho
Coordenação Executiva: Gabriela Mendonça
Diretora executiva: Paula Salles
Realização: Primeira Página Produções Culturais
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