Monica Bel, Júlia Marini, Joelson Medeiros, Claudio Gabriel e Henrique Juliano |
Ótimas interpretações em belo hino ao teatro
“2.500 por hora” é mesmo um hino ao teatro que deve ser visto principalmente por quem gosta dessa arte milenar. Adaptada da ideia original dos franceses Jacques Livchine e Hervée de Lafond, a ótima versão brasileira assinada por Monica Biel também contempla trechos de Martins Pena (1815-1848), a história de João Caetano (1808-1863) e excertos das dezessete peças de Nelson Rodrigues (1912-1980). Dirigido por Moacir Chaves, esse ótimo espetáculo parte do desafio de contar, em uma hora, os 2.500 anos de história do teatro, envolvendo Eurípedes, Shakespeare, Molière, Tchekhov, Brecht, Beckett e muitos outros dramaturgos e encenadores. Em destaque, os grandes trabalhos de interpretação de Claudio Gabriel, de Joelson Medeiros e de Júlia Marini, e os figurinos de Inês Salgado renovam as qualidades dessa arte tão cara à história da humanidade aqui em produção tão meritosa.
Na França, Jacques Livchine é sinônimo de improvisação, de jogo de teatro e de espetáculos populares de rua, linguagens que esse encenador vem desenvolvendo há mais de trinta anos. O domínio da técnica e do ritmo, a articulação de elementos do cotidiano com grande potência de comunicação rápida e a exposição franca dos atores em espetáculos sem quarta parede estruturam o trabalho desse artista. Nessa versão brasileira de “2.500 por hora”, tanto texto como encenação de Moacir Chaves têm o mérito de não começar da tragédia grega nem terminar com Beckett, mantendo as surpresas bem dispostas e o ritmo com vigor apesar do aberto didatismo que as intenções sempre deixaram claras a partir da abertura. Ótimo!
As interpretações são excelentes sobretudo se considerarmos, para a análise do espetáculo, a complexidade de cada cena, de cada gênero ou estilo dramático e de cada época que as mais diversas situações querem referenciar. “2.500 por hora” não tem compromisso com o aprofundamento de qualquer momento, mas a riqueza resultante do seu todo é, em si só, nada superficial. Além de Henrique Juliano e de Mônica Biel em bons trabalhos, Claudio Gabriel, Júlia Marini e Joelson Medeiros apresentam excelentes contribuições, representando desde o peso da tragédia grega (“As Bacantes”) ao íntimo realismo psicológico (“A Gaivota”) ou da farsa (“Juiz de Paz na Roça”) ao absurdo (“Esperando Godot”). Excelentes variações de corpo e de voz na expressão dos contextos, além da delicadeza e da força na estrutura e na manutenção de cada citação narrativa, fazem desse conjunto um destaque na programação teatral carioca desse ano de 2015.
O cenário de Sérgio Marimba tem o mérito de garantir quadros reveladores em cada nova cena, escondendo as muitas possibilidades que cada praticável (?) oferece à encenação. A direção musical (com execução ao vivo das músicas e canções) de Miguel Mendes e de Tomás Correa e a iluminação de Aurélio Simoni ajudam a aumentar o tamanho ou de cada história ou do espaço útil do palco onde elas se representam de forma bastante positiva. No entanto, é o figurino de Inês Salgado quem tem maior destaque entre os elementos parascênicos. Dada a profusão de citações e tudo o que elas evocam em termos de história da arte, o desafio da criação do vestuário foi imenso e, em mesma medida, devem ser os elogios pelo excelente trabalho a que se assiste nas minúcias de cada detalhe e no todo. Parabéns!
Ao grande público, “2.500 por hora” pode ser justamente aquilo que, para todas as plateias, o espetáculo quer ser: um momento em que se celebram dois milênios e meio de história do teatro. Para quem é da classe, no entanto, essa produção pode ser mais: eis aqui carinhosamente uma oportunidade para lembrar do quanto esse ofício é sério, honrado e é sublime. Para finalizar, uma frase dita logo no início: “O teatro é um ser humano que conversa com outro de mãos vazias.” Lindo!
Ficha técnica:
Autor: Jacques Livchine e Hervée de Lafond
Tradução e Adaptação: Monica Biel
Direção Moacir Chaves
Elenco: Claudio Gabriel, Henrique Juliano, Júlia Marini, Joelson Medeiros e Monica Biel
Direção Musical e Execução ao Vivo: Miguel Mendes e Tomás Correia
Figurinos: Inês Salgado
Cenário: Sergio Marimba
Iluminação: Aurélio de Simoni
Boneco e Direção de Manipulação: Marcio Newlands
Fotos: Guga Melgar
Programação Visual: Sandro Melo
Produção Executiva: Jaqueline Roversi
Direção de Produção: Monica Biel
Assessoria de Imprensa: Ney Motta
Realização: BB Produções Artísticas Ltda.
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