quarta-feira, 15 de abril de 2015

Próxima parada (RJ)


Foto: divulgação


Breno Motta, Victor Alburquerque (à frente, no centro) e Felipe Frazão

A amizade de Antônio Bivar e de José Vicente em espetáculo com dramaturgia distante

Voltou a cartaz a peça “Próxima parada”, escrita a partir da obra e das memórias de dois importantes dramaturgos brasileiros, Antônio Bivar e José Vicente (1945-2007). Com dramaturgia assinada por Felippe Vaz e por César Augusto, esse também diretor da produção, o espetáculo é fruto de uma série de oficinas realizadas no Centro Cultural Calouste Gulbenkian desde 2013. O projeto tem o mérito, além do de celebrar a obra dessas figuras importantes do teatro brasileiro, de apresentar e de dar continuidade à carreira de um grupo de jovens atores, com destaque para Felipe Frazão, o melhor trabalho do elenco. Com perdas de ritmo na encenação e com valorosas contribuições do figurino de Lilian Bonfim, a peça cumpre segunda temporada no Teatro Gláucio Gill, em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro.

A dramaturgia se apresenta a partir de quadros cuja articulação demora muito para ficar clara. Antônio Bivar e José Vicente, embora conhecidos da classe teatral (cujas obras são sempre merecedoras de redescobertas!), não tiveram trabalhos popularmente famosos como os de outros artistas participantes da contracultura, como Caetano Veloso e Gilberto Gil, por exemplo. Por isso, “Próxima parada”, no fim do verão de 2015, se encontra diante de dois desafios: ou fornece ao público as referências de que a sua narrativa necessita ou investe nos personagens como metáforas para a juventude, fazendo com que o público sinta inveja das histórias que não viveu. Infelizmente, a dramaturgia de Felippe Vaz e de César Augusto não resolve nem um problema, nem outro de forma integral. De um lado, a opção por fazer os dois personagens, narradores de si próprios, serem compartilhados pelos dez atores atrasa a compreensão da linguagem que a peça sugere. A sucessão de citações a lugares e a personagens das obras e do momento histórico, tão cara à proposta, também age nessa direção. De outro, a celebração da amizade entre os personagens Antônio Bivar e José Vicente só acontece realmente no final do espetáculo, quando resta pouquíssimo tempo para a experiência conseguir tocar a plateia. “Próxima parada” termina de repente logo depois do ritmo perdido da encenação ter sido novamente alcançado. É uma pena!

Composto por André Rosa, Breno Motta, Dani Cavanellas, Danilo Rosa, Felipe Frazão, Flávia Coutinho, Haroldo Costa Ferrari, Rômulo Chindelar, Sarah Lessa e por Victor Abuquerque, o elenco apresenta bons trabalhos na viabilização dos quadros interessantes propostos pela direção de César Auguto. Por conseguir se movimentar melhor em personagens mais cômicos e mais dramáticos, Frazão tem destaque no grupo que faz boas contribuições quanto ao movimento, às intenções e à construção da poética.

O figurino de Lilian Bonfim e a trilha sonora de Rodrigo Marçal são duas das melhores participações de “Próxima parada”. As peças usadas reconstroem a época, privilegiando o realismo de que a narrativa parte. O mesmo pode se dizer a respeito das canções escolhidas para participar da montagem. Foram preservadas as características originais de suas fruições, mantendo a sujeira do vinil que por si só já é uma poética.

Autores de espetáculos importantes como “Hoje é dia de rock” e “Cordélia Brasil”, José Vicente e Antônio Bivar não foram esquecidos. É bonita a homenagem que lhes faz “Próxima parada”. Que venham outras. 

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FICHA TÉCNICA:
A partir dos textos e biografias de Antonio Bivar e José Vicente
Elenco: André Rosa, Breno Motta, Dani Cavanellas, Danilo Rosa, Felipe Frazão, Felippe Vaz, Flavia Coutinho, Haroldo Costa Ferrari, Rômulo Chindelar, Sarah Lessa,  Rômulo Chindelar
Direção: Cesar Augusto
Dramaturgia: Cesar Augusto e Felippe Vaz
Iluminação: Genilson Barbosa
Figurino: Lilian Bonfim
Trilha sonora: Rodrigo Marçal
Fotografia: Rodrigo Turazzi
Vídeos: Elisa Mendes e João Marcelo Iglesias
Operação de Vídeos: Diogo Magalhães
Operação de Luz: Genilson Barbosa
Operação de som: Igor Pretto
Arte: Bruno Dante
Assessoria de imprensa: Breno Motta
Administração de temporada: Frederico Vasques
Realização: Treco Produções

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