segunda-feira, 27 de abril de 2015

Closer - Perto demais (RJ)

Foto: divulgaçã

Paula Moreno e Luciano Szafir em cena


Um “Closer” distante

É muito fria a versão de Andrea Avancini para “Closer – Perto demais”, clássico contemporâneo do inglês Patrick Marber. Lançado em 1997 e mundialmente famoso pela versão cinematográfica de 2003, o texto está repleto de calor sexual que infelizmente não chega a essa montagem. Luciano Szafir, Paula Moreno, Karen Mota e Rafael Sardão, com mais destaque para o último, interpretam os personagens em cuja trama o tema da intimidade abriga reflexões sobre fidelidade versus apetite sexual. O espetáculo cumpre primeira temporada na Sala Fernanda Montenegro do Teatro Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro.

Na história, o jornalista Dan conhece a stripper Alice em um acidente de trânsito, iniciando aí um romance com ela. Meses depois, na ocasião do lançamento do seu livro, Dan conhece a fotógrafa Anna, por quem abandonará Alice. Enquanto isso, em uma sala de bate-papo virtual, fingindo ser Anna, Dan conhece o dermatologista Larry, promovendo o encontro entre os dois. Ao longo da narrativa, Larry e Anna se casarão, mas ainda se envolverão com Dan e com Alice em um jogo cada vez mais intrincado de relações. O mérito do texto, porém, não está apenas na trama, mas nos diálogos e principalmente no modo como a elegância das composições pode revelar o sabor animalesco dos personagens. Nos últimos quase vinte anos, através dessa peça, o premiadíssimo Marber tem sugerido a reflexão do jeito como os hábitos civis convivem com a selvageria do homem quando o assunto é sexo.

A direção de Andrea Avancini é comportada em relação ao texto, preservando positivamente seus méritos mais superficiais. No entanto, as interpretações televisivas, isto é, com expressões apenas da cintura pra cima e com leves modulações no tom da voz, não são suficientes para dar conta do “tesão” que um personagem sente pelo outro no texto original. Nessa encenação, os atores decoraram bem o texto, executam as marcas corretamente e deixam ver pouco das intenções de cada quadro, mas escondem o embate que há entre o animal que o homem guarda em si e as regras do comportamento social. O ritmo se alonga, a história se arrasta, o jogo fica negativamente óbvio.

Luciano Szafir (Larry), Paula Moreno (Anna), Karen Mota (Alice) e Rafael Sardão (Dan) deixam ver apenas o superficial de cada um de seus personagens. As falas surgem mais como ferramentas de diálogos do que como chances para revelar a complexa teia de sentidos que caracteriza a boa dramaturgia britânica. Os duplos sentidos não aparecem, as emoções surgem pouco disfarçadas, tudo é muito raso. Ainda que se possa identificar mais empenho no trabalho de Rafael Sardão, o conjunto tem o mérito de representar o jogo de Marber, mas nem de longe esse é o maior valor dessa dramaturgia, como já se disse.

É interessante o cenário de Jairo Sender porque ele oferece múltiplas possibilidades para a direção, atendendo ao tom minimalista pedido pelo autor no texto. A limpeza do quadro tem um objetivo claro: mostrar quão sujas (humanas, animais!) são as figuras que o povoam. Nesse sentido, há um bom casamento da direção de arte com a iluminação de Ricardo Fujii, que melhora o ritmo da encenação através da troca de cores ao longo da narrativa. O figurino de Jô Resende nem confere sensualidade aos personagens, nem lhes oferece visuais mais ricos, mais complexos, menos televisivos infelizmente. A trilha sonora original de Charles Kahn, interpretada por um piano eletrônico cujo som tem gosto duvidoso, ajuda a superficializar a obra como um todo.

Há um motivo para Marber ter escolhido um aquário como um dos lugares mais importantes da peça. Larry é um médico que cuida de peles (dermatologista) por uma razão específica também. A relação de intimidade que há entre um fotógrafo com o modelo fotografado não é muito diferente da do stripper com seu cliente. Para o autor, eufemismo é um tipo de ironia e não apenas uma marca de estilo. Se essas reflexões foram feitas na construção dessa montagem de “Closer”, elas ainda não estão visíveis no espetáculo analisado aqui. Quem sabe no fim da temporada?

*

Ficha técnica:
Texto: Patrick Marber
Tradução: Rachel Ripani
Adaptação e Direção Geral: Andréa Avancini
Assistentes de Direção: Rafael Sardão e Karen Mota
Elenco: Luciano Szafir, Paula Moreno, Karen Mota, Rafael Sardão
Iluminação: Ricardo Fuji
Cenografia: Clívia Cohen
Direção de Arte: Jairo de Sender
Figurino: Jô Resende
Preparadora Vocal: Rose Gonçalves
Trilha Sonora: Charles Kahn
Fotos de Estúdio: Marcelo Faustini
Design Gráfico: Carlínio França
Direção de Produção: Celso Lemos
Produção Executiva Rio: Bárbara Montes Claros
Produção Executiva São Paulo: Augusto Vieira
Realização: Luciano Szafir, Paula Moreno e Celso Lemos.
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Bem-vindo!