quarta-feira, 15 de abril de 2015

Eugênia (RJ)


Foto: divulgação

Gisele Castro em cena


Monólogo delicioso!

“Eugênia”, o primeiro monólogo de Gisela de Castro, é uma gratíssima surpresa na programação de teatro carioca. A divertida comédia, dirigida por Sidnei Cruz a partir de texto original de Miriam Halfim, conta a história de Eugênia José de Menezes (1774-1818), amante brasileira de Dom João VI, com quem esse teve uma filha bastarda. Com méritos em todos os seus aspectos, o espetáculo se destaca ainda a partir da contribuição de Samuel Abrantes nos figurinos e nos adereços. Em cartaz no Teatro Maria Clara Machado, na Gávea, a peça oferece uma versão divertida e pouco conhecida da vida de uma das figuras mais controvertidas da história ocidental: o imperador português que engambelou Napoleão Bonaparte.

Na peça, a personagem Eugênia vem do mundo dos mortos para voltar a existir na cabeça daqueles que ainda estão vivos. A dramaturgia de Miriam Halfim encanta enquanto vence corajosamente o desafio inicial de oferecer as referências históricas básicas para o público entender a peça. Começando e terminando em um sopetão, a comédia de cinquenta e cinco minutos tem o mérito de avançar no sentido da complexidade sem perder o humor. Nesse espetáculo, Dom João VI, geralmente visto a partir de sua barriga roliça e de seu apego por carne de frango, surge como homem capaz de encantar uma bela jovem e também fazer-lhe muito mal. Sem ir tanto ao mar, nem tanto a terra, o texto se desenvolve levemente, mas com ironia suficiente para alcançar prestígio. Parabéns.

O jogo entre o cenário de José Dias, o figurino de Samuel Abrantes e a interpretação de Gisela de Castro está intimamente relacionado, o que é excelente mérito da direção de Sidnei Cruz, assistido por Viviane da Soledade. Sobretudo no início do espetáculo, quando as informações acerca das datas e dos locais onde a ação acontece parecem mais duras, as trocas de cenário e de figurinos realizadas pela atriz parecem ser fundamentais. Com habilidade, o diretor dribla a aridez do texto com um ritmo de encenação ágil que se mostra eficaz. O tempo passa em um salto bastante positivo.

Gisela de Castro foge felizmente dos tipos, que seriam lugares bastante confortáveis a um espetáculo como esse. A intenção de expressar níveis diferentes para a mesma personagem, narradora dos eventos dos quais participou, há que ser valorizada em especial pela forma meritosa com que chega ao público no final de semana de estreia. Boa voz, ótima dicção, movimentos ágeis e excelente uso do tempo prende a atenção e encanta. Sem dúvida, é o melhor trabalho de sua carreira.

Uma grande e pesada caixa de madeira branca é o cenário de José Dias de onde saem várias outras caixinhas similares que são espalhadas pelo palco até então vazio. Dessas, saem peças do figurino de Samuel Abrantes. Nesse contexto, é possível identificar o jogo como uma metáfora por onde se reconhece que uma história vai gerando outras em uma sucessão natural. A efusiva explosão de cores e de estampas em todas as peças do vestuário se equilibra com a brancura do cenário, sem que esse esteja desprovido de textura positivamente. Com a ajuda da forma de alguns adereços, o texto dá conta da localização espaço-temporal da narrativa, mas o colorido auxilia a diretor na construção de um clima leve, despojado e ainda irônico para a narrativa. O desenho de luz de Aurélio de Simone faz boa contribuição.

O divertido “Eugênia” disfarça bem a dificuldade de sua construção e chega ao público como um espetáculo simples. Essa ótima surpresa na programação de teatro carioca, merece ser vista.

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FICHA TÉCNICA
Texto - Miriam Halfim
Direção - Sidnei Cruz
Interpretação - Gisela de Castro
Direção musical, composição e execução - Beto Lemos
Cenário - José Dias
Figurino, adereços e design de aparência - Samuel Abrantes
Iluminação - Aurélio de Simoni
Direção de Produção - Maria Alice Silvério
Assistente de Direção - Viviane Soledade
Assistentes de Produção - George Luis Prata, Anderson Kiroviski e Carolina Godinho
Assistente de Figurino - Rosa Ebee
Preparação Corporal - Morena Cattoni
Preparação Vocal - Verônica Machado
Fotos e Programação Visual - Thiago Sacramento
Assessoria de Imprensa - Armazém Comunicaçã

2 comentários:

  1. Excelente a atuação de Gisela de Castro, na justa medida do sarcasmo necessário ao monólogo de um difícil tema. Ainda a denúncia de uma situação,até hoje, vivenciada por boa parte das mulheres, em toda sociedade hipócrita, ao longo da História (descartadas quando interesses políticos ou sociais tornam-se mais importantes que o amor). Meu grande abraço e admiração, Léa Madureira Lima

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