segunda-feira, 27 de abril de 2015

Dhrama (RJ)


Foto: divulgação
Luca Bianchi e Lívia de Bueno

O esforço de Lívia de Bueno e de Luca Bianchi

O ótimo uso da técnica não é o bastante no teatro e “Dhrama: o incrível diálogo entre Krishna e Arjuna” é um exemplo disso. Tem grandes méritos a dupla Lívia de Bueno e Luca Bianchi por dar cabo de um texto dificílimo como esse de João Falcão, mas o mais interessante nessa montagem é ainda pensar no que faltou para esse ser um grande espetáculo. Dirigida por Bianchi, a peça terminou, neste domingo, sua primeira temporada no Centro Cultural do Banco do Brasil, no centro do Rio de Janeiro, mas deve receber outras oportunidades de ser vista no futuro. Tomara!

Lançado em 2007, o texto é inspirado no clássico da filosofia hindu “Bhagavad Gita” (“Canção do Divino Mestre”), trecho mais famoso do épico “Mahabharata”, esse um dos textos sagrados mais importantes da Índia. A dramaturgia, assinada por João Falcão, se organiza por um jogo complexo de retórica em que Krishna tenta convencer seu discípulo Arjuna, o maior guerreiro de todos os tempos, a lutar contra seus mestres e amigos. A cena se dá em um intervalo indefinido de tempo e de espaço entre os exércitos amigo e inimigo e todo o diálogo consiste na habilidade de construir argumentos capazes de expressar pontos de vista contrários (Arjuna) e favoráveis (Krishna) à batalha. Uma vez que a cultura hindu não é popularmente conhecida do público, a proposta ainda enfrenta o desafio de apresentar bem o contexto dos valores em que a situação se dá. Na montagem dirigida por Luca Bianchi, tudo isso acontece muito bem ao longo de breves sessenta minutos. O problema é que a falta de carisma dos dois intérpretes e a ausência do tom mais cômico em ambas as construções são barreiras que a encenação vence, mas com dificuldades.

É visível o esforço que Lívia de Bueno e Luca Bianchi fazem em cena. A dicção dos dois é perfeita de modo que não há uma só sílaba que não seja bem compreendida. O ótimo trabalho de expressão corporal da dupla também apresenta bem os dois personagens (que não são humanos). O cenário de Miguel Pinto Guimarães e a iluminação de Renato Machado possibilitam a abertura de um espaço ao mesmo tempo infinito onde esses personagens se encontram e específico para que o público não se esqueça de que há uma guerra iminente. O figurino de Paula Raia atribui às duas figuras o aspecto sagrado do modo como elas são conhecidas, mas também o humano que faz com que a história pareça se desenvolver pela evolução de níveis narrativos. No entanto, faltam na encenação momentos de escape que possam oferecer à atenção mais força. O texto de João Falcão que é dito em cena possibilita algumas oportunidades nesse sentido, mas que infelizmente foram desprestigiadas pela concepção, que aparentemente privilegiou o tom mais filosófico (e monótono) da dramaturgia.

“Dhrama: o incrível diálogo entre Krishna e Arjuna” é um espetáculo difícil porque requer do público o esforço em acompanhar os movimentos argumentativos dos dois personagens do título e dos atores por exigir deles ou o completo distanciamento ou o carisma que promova a reflexão pelo riso. Essa montagem, que parece consciente desses desafios e disposta a enfrentá-los com coragem, deve ser vista.

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Ficha técnica:
Texto: João Falcão
Direção: Luca Bianchi
Elenco: Lívia de Bueno e Luca Bianchi / Cenografia: Miguel Pinto Guimarães
Figurino: Paula Raia
Música: Victoria Castelli e Max Peluffo aka Cassete
Desenho de Luz: Renato Machado
Direção de Movimento: Carlos Fittante e Marina Magalhães
Assistência de Direção: Felipe Cabral
Fotos: Vicente de Paulo
Programação Visual: Luisa Henke
Produção: Thiago Menezes
Direção Executiva: Rodrigo Porto
Assistente financeiro: Marcelo Bento
Direção de Produção: Miguel Colker
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação - João Pontes e Stella Stephany

Um comentário:

  1. O texto foi muito mal falado e dirigido.
    A encenação segue para comicidade o tempo todo.
    Falta cadencia entre drama e comedia... Menos comedia e mais drama.
    Fiquei triste pois o texto de João Falcão é muito bom e fiel, condensando de forma magnifica o significado do Baghavad Gita.

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