domingo, 19 de abril de 2015

Hamlet ou morte! (RJ)

Mathias Wunder (no alto) e Yuri Ribeiro



Foto: divulgação

Divertida comédia do grupo Os Trágicos

“Hamlet ou morte!” é um espetáculo divertido produzido pelo grupo Os Trágicos em cartaz na Sede das Companhias, na Lapa, no Rio de Janeiro. Dirigida por Adriana Maia, que também assina a adaptação, a peça surge a partir de uma esquete para rádio de 1976 chamada “Hamlet em 15 minutos”, do dramaturgo inglês Tom Stoppard, mesmo autor de “Rosencrantz e Guildenstern estão mortos” (1967). Ao redor do texto de Stoppard, a narrativa original cria o contexto para o resumo da tragédia shakespereana com o mérito de conferir ao todo coerência e coesão. O elenco é composto por Diogo Fujimora, Gabriel Canella, Pedro Sarmento, Mathias Wunder e Yuri Ribeiro, esses últimos em ótimos trabalhos. Vale a pena assistir!

Na história, quatro homens estão encarcerados na prisão de Clink, em Londres, na época elizabetana, esperando pela morte sentenciada pela rainha. A chegada de um padre confessor traz a eles a oportunidade de esclarecer os fatos reais dos crimes pelos quais eles foram condenados. É então que a dramaturgia de “Hamlet ou morte!” viabiliza trechos de “Sonho de uma noite de verão”, “Medida por medida”, “Noite de reis”, “Como gostares”, “Os dois cavalheiros de Verona” e de “As alegres mulheres de Windsor”. As histórias narradas (e encenadas) pelos larápios envolvem o roubo de um texto escrito por “um tal William Shakespeare”. Eis que o padre sugere a eles encenar a tal peça para a Rainha Elizabeth a fim de convencê-la em perdoar-lhes. Se ela gostar da encenação, eles sobreviverão. Se ela desaprová-la, a sentença será realizada. “Hamlet” é a peça que eles apresentam nos momentos finais. Entre os vários méritos dessa montagem, está o modo como a construção da primeira parte do texto se articula com a segunda, essa escrita por Stoppard. A habilidade do premiado dramaturgo inglês contemporâneo encontra feliz eco no trabalho original do grupo Os Trágicos na medida em que o espetáculo não expõe marcas de sua construção. Em segundo lugar, é bonito ver como o grupo de jovens atores agrada o público que acaba torcendo pelo seu salvamento enquanto se diverte na plateia de ótimo espetáculo teatral.

A direção de Adriana Maia dá a ver quadros ágeis, interpretações carismáticas e excelentes jogos cênicos entre os atores em fácil identificação com a plateia. A curva é ascendente, a sucessão de histórias vence do desafio da manutenção de ritmo e o interesse pelo desenrolar dos fatos se mantém a contento. Um dos pontos mais relevantes do conjunto de interpretações está o fato dos tipos nunca esconderem o personagem que os interpreta. Em outras palavras, as duas camadas – o personagem condenado e os tipos que ele dá a ver para convencer o outro de sua inocência – convivem bem, ambas cheias de graça.

Todo o elenco apresenta trabalhos responsáveis pelos méritos da produção como um todo, mas Yuri Ribeiro e Mathias Wunder se destacam positivamente pelo ótimo jogo que estabelecem entre si e com o público na narrativa e pela vibrante performance vocal, gestual e proxêmica. “Hamlet ou morte!” tem ainda ótimas contribuições do figurino de Adriano Ferreira que confirma o princípio popular das peças shakespereanas infelizmente às vezes tão pomposamente apresentadas, o que aqui não é o caso.

Em cartaz durante todo o mês de abril, eis aqui uma boa sugestão: o primeiro trabalho de um grupo que já de início começa bastante bem.

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Ficha técnica:
Elenco: Diogo Fujimura, Gabriel Canella, Mathias Wunder, Pedro Sarmento e Yuri Ribeiro
Direção e Adaptação: Adriana Maia
Cenário e Figurino:Adriano Ferreira
Programação Visual: Rodrigo Drade
Direção de Produção: Mathias Wunder
Realização: Lotus Produções Artísticas

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