quinta-feira, 30 de abril de 2015

O acompanhamento (RJ)


Foto: divulgação 

Wilmar Amaral e Roberto Frota em cena


Elogiado texto da dramaturgia argentina ganha ótima montagem no Brasil

“O acompanhamento”, um dos textos mais famosos do teatro argentino contemporâneo, recebe montagem bem dirigida por Daniel Archangelo, com Wilmar Amaral e Roberto Frota em ótimos trabalhos no elenco. Na montagem original, o texto escrito em 1981 por Carlos Gorostiza representava a liberdade. A Argentina da ocasião estava sob o governo de Roberto Viola, o segundo presidente da sua ditadura militar, e essa dramaturgia dava conta de disfarçar, no ambiente familiar, o estímulo à reflexão crítica ao sistema de opressão. Mais de trinta anos depois, e no Brasil, a obra adquire significados diferentes, mas não menos modestos. Com muitos méritos, esse espetáculo tocante está em cartaz no Teatro Eva Herz, na Cinelândia, no Rio de Janeiro. Vale a pena ser visto!

Na história, o metalúrgico Tuco (Wilmar Amaral) abandona o emprego pouco antes de se aposentar para se dedicar à vida de sucesso que sonhou. No passado, o desejo de se tornar cantor foi enterrado depois de uma má apresentação no clube local. Na ocasião, Tuco havia tido, segundo ele, um acompanhamento aquém de suas necessidades, exigindo dele o alcance de notas que não lhe eram possíveis. O gesto de rebeldia de agora, na velhice, considerado loucura por seus familiares, foi motivado por Mingo, um amigo que lhe prometera auxílio nesse retorno. A peça começa com Tuco à espera de músicos que possam lhe oferecer um acompanhamento adequado às suas possibilidades, mas é Sebastian (Roberto Frota), um outro companheiro de juventude, quem aparece. Disposto a removê-lo de seus intentos e a fazê-lo voltar ao convívio familiar, Sebastian muda de opinião ao encontrar, em Tuco, a beleza de quem acredita que os sonhos são possíveis de se realizar. Nessa montagem de “O acompanhamento”, há a substituição das referências a Carlos Gardel (1890-1935) e ao tango argentino pela inclusão do repertório do cantor brasileiro Silvio Caldas (1908-1998), concentrando, nos movimentos da narrativa e nos diálogos, as responsabilidades pelo mérito da dramaturgia. Venceu plenamente todos os desafios. “O acompanhamento” é uma peça emocionante!

Wilmar Amaral (Tuco) e Roberto Frota (Sebastian) dão vida aos personagens com emoção. Ao interpretar o protagonista disposto a manter viva a dúvida sobre a sanidade de Tuco durante boa parte da encenação, Amaral possibilita ao público fazer a catarse, criticar-se, refletir sobre como reagiria diante daquela situação: se ao lado da família, se ao seu lado. Por outro turno, ao permitir à plateia identificar as dúvidas de consciência de seu Sebastian, Roberto Frota faz, das pausas, os convites para a reflexão sobre a humanidade. Em ambos os casos, o tom atinge a audiência dentro do melhor que esse gênero prevê, o que, além de um mérito dos trabalhos de interpretação, é, sem dúvida, um valor da direção de Daniel Archangelo. O ritmo se mantém firme, ascendente e direcionado para o ápice em uma encenação que apresenta bem as quebras e as ênfases em quadros bem articulados na narrativa em cena única.

Os bons trabalhos do elenco encontram eco na viabilização do cenário de Carlos Augusto Campos e no figurino de Ricardo Rocha. “O acompanhamento” é um drama estruturado em um visual coeso e coerente cujas marcas deixam o espectador seguro do que está vendo e assim mais aberto para a história e para se emocionar com ela.

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Ficha técnica:
Autor: Carlos Gorostiza
Tradução e Adaptação Daniel Archangelo e Wilmar Amaral.
Direção: Daniel Archangelo
Elenco: Wilmar Amaral e Roberto Frota
Cenografia: Carlos Augusto Campos
Figurino: Ricardo Rocha
Iluminação: Daniel Archangelo
Contrarregra: João Batista
Assistente de Direção: Marianna Mugnaini
Assistente de Cenografia: Yuri Azevedo
Cabine: Daniele de Deus e Gustavo Martins
Realização: Wilmar Amaral Produções Culturais Ltda
Assessoria de Imprensa: Waléria De Carvalho
Formação de Platéia: Aline Peres
Art Designer: André Lacaz Amaral
Fotos: Luiz Luz

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