domingo, 22 de junho de 2014

Cine-Monstro (RJ)

Enrique Diaz interpreta 13 personagens nesse monólogo
Foto: divulgação

Interessante

“Cine-Monstro” (“Monster”, no original) não é nem de longe a melhor peça do canadense Daniel MacIvor, também autor de “In on it” e de “À primeira vista”. Mesmo assim, é um texto interessante que resulta um espetáculo igualmente. Interpretado e dirigido por Enrique Diaz, que também assina a iluminação, a peça quer ser um “o show de um homem só sobre a natureza da maldade” (conforme subtítulo original), mas é principalmente um espetáculo que relembra a plateia do quanto Diaz é bom ator. Tendo cumprido temporadas no Oi Futuro do Flamengo e no Teatro Eva Herz na Cinelândia, esse monólogo é merecedor dos elogios que tem recebido desde que estreou.

Na história, os 13 personagens interpretados por Enrique Diaz entram e saem rapidamente, formando um tortuoso quebra-cabeça a la Esher. Um adolescente (Monty) conta a história do vizinho (Al Boyles) que torturou e matou o pai durante três dias ao som de “Raindrops keep falling on my head”. Essa história aparecerá também como uma ideia na cabeça de um drogado (Joe) que a contará para dois roteiristas que realizarão um filme. Al, um alcoólatra que frequenta reuniões de AAs, e Janine são um casal que assistirá a esse filme e, depois de uma briga, conceberão um filho (Adam). Tudo isso foi, além de tudo, tema de um outro filme (“Hack”) não acabado pelo seu diretor David Buster Foster. Como a visão de uma cobra que morde o próprio rabo, fica bem difícil identificar a estrutura narrativa de “Cine-Monstro”, principalmente durante a fruiçãoda peça. Sabe-se, no entanto, que, em todas as figuras, está a expressão de um certo tipo de cultura da violência que MacIvor denuncia nesse texto escrito na segunda metade dos anos 90.

Como ator aclamado por excelentes trabalhos em produções anteriores, Enrique Diaz atende à expectativa, interpretando bem todos os personagens. O problema está no texto, pois não há uma só figura que seja forte o suficiente para segurar a peça como um todo, de forma que energia de “Cine-Monstro” evapora tão logo o espectador se canse da tentativa frustrada de descobrir o que cada personagem tem a ver com os demais, onde cada figura está na linha dramatúrgica da história. A cena do AA, em que os vários participantes são todos interpretados por Diaz, é um símbolo disso: é interessante ver como o intérprete lida com todas essas figuras, mas, enquanto se contempla isso, perde-se o foco, o assunto da peça.

O cenário de “Cine-Monstro”, que teve colaboração de direção de Marcio Abreu, é composto principalmente de vídeos projetados na parede branca. Os méritos estéticos dos vídeos isoladamente ofuscam a dramaturgia ainda mais. Considerando que a peça parte de uma suposta frase de Leonardo Da Vinci, “Uma pessoa não tem o direito de não gostar do que não conhece”, entende-se que o monólogo, ao longo de cento e vinte minutos, quer apresentar o mal que vive no lado muitas vezes obscuro do ser humano. A opção do cenário, em vários momentos, oferece outras alternativas para olhar, prejudicando o ritmo, o fluxo da narrativa.

Daniel MacIvor é essencial no pensamento contemporâneo e faz bem à programação teatral. O sentimento de amargor que os personagens de “Cine-Monstro” deixam são vitais nessa cultura superficial, politicamente correta e ”coxinha” que paira em nossa sociedade em paralelo a tanta violência assustadoramente crescente. Por tudo isso, eis aqui um espetáculo interessante, com um excelente ator, que sugere uma reflexão por sobre a violência, mas que pouco aprofunda o tema.

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FICHA TÉCNICA
De DANIEL MACIVOR
Direção, iluminação e atuação ENRIQUE DIAZ
Tradução BARBARA DUVIVIER e ENRIQUE DIAZ
Colaboração na direção MARCIO ABREU
Colaboração na iluminação MANECO QUINDERE
Trilha sonora original LUCAS MARCIER
Cenografia e projeto gráfico SP SIMONE MINA
Vídeos BATMAN ZAVAREZE e NATHALIE MELOT
Assistente de direção e colaboração na tradução KELI FREITAS
Assistente de iluminação LEOPOLDO VICTOR e LEANDRO BARRETO
Preparação Vocal LETICIA CARVALHO
Diretor de Cena TIAGO MORO
Operador de luz LEANDRO BARRETO
Fotografia NATHALIE MELOT
Designer Gráfico FERNANDO BERGAMINI
Assessoria de Imprensa FACTORIA COMUNICAÇAO
Assistente de produção RJ TON DUTRA
Produção HENRIQUE MARIANO e ENRIQUE DIAZ

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