A atriz Flávia Reis faz a voz da Boneca Já, um dos pontos altos de "As coisas" |
Divertido
“As coisas” é um gracioso espetáculo musical para crianças a partir do livro homônimo de Arnaldo Antunes. Em cartaz no Teatro Leblon, a peça propõe às crianças divertirem-se com o significado das palavras e aos adultos reconhecerem a potencialidade de cada sentido e de suas expressões. Em cena, Flávia Reis, Julia Schaeffer e Guilherme Miranda, dirigidos por Alexandre Boccanera, fisgam a atenção da plateia, sugerindo um tipo de entretenimento bastante interessante.
O pé que segura o homem não é o mesmo pé de abacaxi. Rosa pode ser uma flor, uma cor ou uma pessoa. A pereira dá peras e o Seu Pereira vende peras. Essas brincadeiras de palavras e de suas significações sustentam a peça “As coisas”, que se apresenta com grande carisma. Em vários momentos, a plateia repleta de crianças de todas as idades fica silenciosa, quebrando para momentos de enorme agitação. Para os adultos, o que acontece é quase outro espetáculo: é bonito ver a relação íntima entre os intérpretes e sua audiência. Os pontos altos são a carismática boneca Já (assinada por Raimundo Bento) e o excelente uso de vídeos produzidos ao vivo a partir de imagens de objetos que se transformam em outros. A direção de Alexandre Boccanera tem o mérito de fazer com o palco pareça continuar a plateia e vice-versa, fazendo com que os objetos ganhem vida a partir da ótima articulação de contratos narrativos com o público.
Não há propriamente uma história e talvez esse seja um dos grandes méritos de “As coisas”. O que prende o espectador não é o desenrolar de uma trama, mas a possibilidade de cada objeto poder virar outra coisa ou simplesmente ter sua expressão revelada. A partir do cenário de Aurora dos Campos e do figurino de Ronaldo Fraga, as figuras cujos nomes são os mesmos de seus intérpretes estabelecem um lugar alternativo que nem é a realidade além do palco e nem é um campo narrativamente definido. Ou seja, tudo pode acontecer, pois nem mesmo as regras da história foram estabelecidas. Há um destaque positivo também para a trilha sonora de Guilherme Miranda, que participa do texto tanto com canções quanto com a viabilização de sons para os objetos.
O livro “As coisas” recebeu o Prêmio Jabuti de Poesia, em 1993, tendo sido adotado pelo Ministério da Educação (MEC). Agora é um espetáculo do Grupo Teatro Portátil cheio de méritos. A ver!
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FICHA TÉCNICA:
Direção: Alexandre Boccanera
Elenco: Flávia Reis, Julia Schaeffer e Guilherme Miranda
Elenco substituto: Ana Moura e Laura Collor
Direção Musical: Guilherme Miranda
Direção de Arte: Ricky Seabra
Cenografia: Aurora dos Campos
Figurino: Ronaldo Fraga
Boneca: Raimundo Bento
Iluminação: Aurélio de Simoni
Direção de Produção: Alexandre Boccanera
Produção Executiva: Alessandra Azevedo
Realização: Teatro Portátil
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