Samara Felippo e Rita Elmôr em cena |
Simples e potente
"Orgulhosa demais, frágil demais" é uma peça simples, mas nem um pouco superficial e esse é o seu maior ganho. Depois de ter cantado "Habanera", de Carmen, Maria Callas vai até o camarim de Marilyn Monroe, que acabou de cantar "Parabéns a você" para o presidente Kennedy. De um lado uma ópera, de outro uma das canções mais populares do mundo. Em contraste, a diva erudita e a estrela. Ambas se encontrarão com o que é mais comum nas duas: a mulher por trás das celebridades. A partir do livro homônimo escrito pelo italiano Alfredo Signorini, o texto de Fernando Duarte organiza um diálogo que expõe, ao mesmo tempo, as distâncias e as proximidades entre as duas, ressaltando a beleza do universo feminino em sua complexidade. Dirigido por Sandra Pêra, o espetáculo conta com Samara Felippo e com Rita Elmôr nos papéis de Marilyn e de Callas em interpretações sensíveis, sutis e tocantes. Em cartaz no teatro do Centro Cultural dos Correios, no centro do Rio de Janeiro, uma ótima peça a ser vista.
Além das figuras célebres na história do mundo ocidental, as personagens de Callas e de Monroe podem ser mais. A diva pode ser lida como a pessoa que, por ter estudado mundo, se distanciou da arte popular, da beleza do mais simples. Por outro lado, a estrela pode ser vista como aquela pessoa que quer determinadas coisas pra si, mas faz outras, gerando justamente o contrário dos objetivos. Esses dois posicionamentos, ambos possibilitados pelo texto, pela direção e pelas interpretações, aproximam a cena de quem lhe assiste em potência e em qualidade, elevando os valores estéticos da obra. A imponência de Callas, vestindo um Dior vermelho e expressando sua crítica na sutileza do seu olhar e de suas pausas, se mostra cambaleante diante da superioridade de Moroe, apertada em um vestido costurado nela própria, alheia ao que possam pensar sobre ela e sobre seus atos. As duas estão no topo, mas os motivos e os meios através dos quais elas chegaram lá foram diferentes e contemplar essas nuances permite ao espectador sair do teatro com boas reflexões.
Longe dos estereótipos, Elmôr e Felippo parecem ter construído suas personagens a partir de suas essências. O gesto também aproxima a peça do público, que não estará vendo duas caricaturas, mas dois seres acessíveis na intimidade do camarim. Dividindo o mesmo espaço por um par de horas, as duas atrizes conservam em seus trabalhos de interpretação o direito da assistência de ter acesso ao universo particular de cada uma das personagens, gesto que só pode acontecer pelo excelente uso dos movimentos que a direção de Pêra propôs.
O ritmo é positivamente potente, promovendo o "desarmar" de Callas e o "emburacamento emocional" de Marilyn, que morreu dois meses depois, provavelmente vítima de overdose. Nesse sentido, vê-se as duas mulheres encontrando consigo próprias enquanto vêem-se refletidas uma na outra e, na caixa cênica, um universo do qual todos nós fazemos parte e que entra em ebulição, fica mais complexo e, assim, muito mais natural.
O cenário e o figurino de Desirée Bastos são excelentes porque reforçam o realismo, gênero do qual fazem parte o texto e a encenação. Todos os demais elementos, a trilha sonora de Paula Leal, a luz de Renato Machado e o visagismo de Luiz Bellini, fazem a estrutura "Orgulhosa demais, frágil demais", dirigida por Pêra e assistida por Radha Barcelos, se movimentar com fluidez pelo tempo que a narrativa percorre.
O encontro imaginado por Signorini não aconteceu naquela famosa noite do dia 19 de maio de 1962, no Madison Square Garden, em Nova Iorque. É excelente pensar e ver que ele segue acontecendo mesmo assim. Aplausos.
Além das figuras célebres na história do mundo ocidental, as personagens de Callas e de Monroe podem ser mais. A diva pode ser lida como a pessoa que, por ter estudado mundo, se distanciou da arte popular, da beleza do mais simples. Por outro lado, a estrela pode ser vista como aquela pessoa que quer determinadas coisas pra si, mas faz outras, gerando justamente o contrário dos objetivos. Esses dois posicionamentos, ambos possibilitados pelo texto, pela direção e pelas interpretações, aproximam a cena de quem lhe assiste em potência e em qualidade, elevando os valores estéticos da obra. A imponência de Callas, vestindo um Dior vermelho e expressando sua crítica na sutileza do seu olhar e de suas pausas, se mostra cambaleante diante da superioridade de Moroe, apertada em um vestido costurado nela própria, alheia ao que possam pensar sobre ela e sobre seus atos. As duas estão no topo, mas os motivos e os meios através dos quais elas chegaram lá foram diferentes e contemplar essas nuances permite ao espectador sair do teatro com boas reflexões.
Longe dos estereótipos, Elmôr e Felippo parecem ter construído suas personagens a partir de suas essências. O gesto também aproxima a peça do público, que não estará vendo duas caricaturas, mas dois seres acessíveis na intimidade do camarim. Dividindo o mesmo espaço por um par de horas, as duas atrizes conservam em seus trabalhos de interpretação o direito da assistência de ter acesso ao universo particular de cada uma das personagens, gesto que só pode acontecer pelo excelente uso dos movimentos que a direção de Pêra propôs.
O ritmo é positivamente potente, promovendo o "desarmar" de Callas e o "emburacamento emocional" de Marilyn, que morreu dois meses depois, provavelmente vítima de overdose. Nesse sentido, vê-se as duas mulheres encontrando consigo próprias enquanto vêem-se refletidas uma na outra e, na caixa cênica, um universo do qual todos nós fazemos parte e que entra em ebulição, fica mais complexo e, assim, muito mais natural.
O cenário e o figurino de Desirée Bastos são excelentes porque reforçam o realismo, gênero do qual fazem parte o texto e a encenação. Todos os demais elementos, a trilha sonora de Paula Leal, a luz de Renato Machado e o visagismo de Luiz Bellini, fazem a estrutura "Orgulhosa demais, frágil demais", dirigida por Pêra e assistida por Radha Barcelos, se movimentar com fluidez pelo tempo que a narrativa percorre.
O encontro imaginado por Signorini não aconteceu naquela famosa noite do dia 19 de maio de 1962, no Madison Square Garden, em Nova Iorque. É excelente pensar e ver que ele segue acontecendo mesmo assim. Aplausos.
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Ficha ténica:
Autor: Fernando Duarte
Elenco:
Callas – Rita Elmor
Marylin – Samara Felippo
Direção: Sandra Pêra
Cenário / Figurino: Desirée Bastos
Iluminação: Renato Machado
Design Gráfico: Jaqueline Sampin
Administração /Assistente de produção: Antonio Camões
Produção executiva: Luis Fernando Bruno e Valério Lima
Direção de produção: Beta Leporage
Realização: Voleio Produções
Mídias Sociais: Agência Chermont br
Assisti e amei!!!
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