Zélia Duncan: música, literatura e teatro
A proposta de Zélia Duncan no show “TôTatiando”, dirigido por Regina Braga, que fez curtíssima temporada no Theatro Net Rio, era fazer teatro a partir de música e de literatura. Com composições do paulista Luiz Tatit, Doutor em Semiótica da Música, felizmente o foi. Duncan manipula em cena os sons que circulam nas letras de Tatit com a habilidade que é fruto de sua vasta experiência como cantora. O resultado feliz é um projeto de extremo bom gosto musical, teatral e literaário, pronto para agradar públicos de todas as idades e em todos os lugares onde houver falantes e amantes de português, de música e de teatro.
Da forma como os músicos Webster Santos e Tercio Guimarães reproduzem em cena os sons da cidade antes do espetáculo começar, passando pela forma como ele realmente começa e, num pulo de sessenta minutos, chegando em como ele termina, o teatro é organizador das canções que se interpõe como filtro bem posto entre a música e o público. É ele quem articula os significados, esses que permanecem afinal parcialmente dispersos, livres como eles são. Os personagens interpretados por Zélia Duncan surgem de pequenos traços, pequenas relações possíveis entre expressões, figurino, motivações, mas também das canções que fazem parte do repertório. Braga tem presente um excelente trabalho de direção, considerando Duncan como cantora e nunca como atriz. Depretencioso, “TôTatiando” agrada pela sua simplicidade que é apenas aparente. Por trás do visível cuidado por tantos detalhes, é certo que houve um trabalho árduo na construção de “TôTatiando”.
Ao contrário do que tantas vezes se vê por aí infelizmente, o show apresenta um considerável investimento em cenário e em figurino. Com direção de arte de Simone Mina e iluminação de Wagner Freire, o palco expressa o amor pela literatura, mas também pelo teatro: letras em madeira espalhadas, ripas penduradas parecendo estalactites, listas verticais brancas no fundo: o espaço possibilita universo interessante para as cenas que se desenvolvem com fluência no roteiro cuja direção musical é de Bia Paes Leme.
A presença cênica de Zélia é viva, ágil, inteligente, além, claro, de oferecer excelentes resultados em termos musicais. Sua voz grave e sua flexibilidade corporal garantem um espetáculo cujo ritmo é bem mantido e esse de forma positivamente ascendente. O fim chega como se pegasse o público de surpresa, sinal de houve bom divertimento. Em se tratanto de Tatit e de Duncan, sobretudo para o coração.
Acreditando e defendendo que a canção vem da voz falada e de nossas entonações cotidianas, Tatit compõe pensando nisso. Sua pesquisa é profunda e muito rica, e suas letras falam das idiossincrasias de forma direta. Assim, o poeta e a cantora vão apontando paradoxos e subjetividades, desmitificando também o isolamento. Eis o encontro teatral celebrado por esse momento cheio de boa literatura, boa música e bom teatro.
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FICHA TÉCNICA
Com Zélia Duncan
Direção geral Regina Braga
Direção musical Bia Paes Leme
Músicos Webster Santos e Tercio Guimarães
Direção de arte Simone Mina
Design de luz Wagner Freire
Identidade visual Daniel Trench
Figurinos Lu Pimenta
Make up & hair Silvana Gurgel
Preparação corporal Cristiane Quito di Paoli
Preparação corporal (RJ) Marcia Rubim
Assistente de direção Isabel Teixeira
Assistente de iluminação Melissa Guimarães
Projeto de sonorização Andrea Zeni
Captação de apoios e parcerias Amalia Tarallo
Assessoria de imprensa Casé Assessoria
Produção técnica Fernanda Tein
Coordenação de produção Patrícia Albuquerque
Coordenação geral Deco Gedeon
Realização Fidellio Produções
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