A nobreza de um teatro da melhor qualidade
“Freud – A última sessão” é um tipo de teatro que hoje é infelizmente raro. Cenário com os mínimos detalhes, interpretações próximas do real além da narrativa, um excelente texto sendo muito bem dito pelos atores, um discurso reflexivo daqueles que fazem a gente ter muito assunto para depois da peça. Escrito e muito premiado pelo americano Mark St. Germain, o texto foi apresentado pela primeira vez em 2009, no circuito Off-Broadway, onde continua em cartaz. Nele há o encontro do psicanalista tcheco Sigmund Freud (1856-1939) e do crítico literário crítico Clive Stamples Lewis (1898-1963). Baseado no livro escrito por Armand Nicholi, “Deus em Questão”, a montagem brasileira tem direção de Ticiana Studart e está em cartaz no Centro Cultural dos Correios, no centro do Rio de Janeiro.
O ano é 1939, em Londres, momento recentemente reproduzido pelo filme ganhador do Oscar, “O Discurso do Rei”, cujo trecho é ouvido na peça pelos dois personagens. Hélio Ribeiro interpreta Freud e Leonardo Netto faz o papel de Lewis. A discussão é sobre Freud, um ateu convicto, não admitir que um intelectual com todas as possibilidades de Lewis seja um cristão fervoroso. Deus criou o Mundo? Ou será que essas possibilidades são fantasias criadas pelo homem para seu suporte? Falas cortantes, contundentes de ambas as partes, mas delicadamente cheias de humor, uma vez que o sarcasmo e a ironia rondam toda essa discussão. C. S. Lewis e Sigmund Freud argumentam lado a lado, refletindo sobre os pontos fracos e as alternativas aos seus posicionamentos. Ambos consideraram o problema da dor e do sofrimento, a natureza do amor e do sexo, e o sentido da vida e da morte.
No cenário rico em minúcias de detalhes de José Dias, em que também está pormenorizada a brilhante trilha sonora assinada por Marcelo Alonso Neves, os dois personagens convivem com a iminência de uma nova grande guerra. Em meio ao diálogo rápido e potente, bombas, telefones que tocam, o cancro bucal de que sofria o psicanalista desafiam a evolução dos assuntos. Inteligentemente, os obstáculos são momentos de respiração para o público que coloca os pensamentos no lugar e pode encontrar o seu lugar no duelo travado entre os dois.
Com interpretações elegantes, realistas, sóbrias e, por tudo isso, bastante positivas, Ribeiro e Netto apresentam excelentes trabalhos. A movimentação no espaço é inteligente, as pausas são bem postas, tudo valoriza a catarse e a reflexão. Sem dúvida, Ticiana Studart tem aqui um dos trabalhos mais nobres de sua carreira. E o teatro carioca uma peça que deve ser muitas vezes aplaudida.
Ficha Técnica:
Autor: Mark ST. Germain
Tradução: L.G. Bayão
Direção: Ticiana Studart
Elenco: Helio Ribeiro e Leonardo Netto
Iluminação: Aurélio De Simoni
Cenário: Jose Dias
Figurinos: Kiara Bianca
Direção Musical: Marcelo Alonso Neves
Direção de Movimento: Sueli Guerra
DIretora Assistente: Melise Maia
Preparação Vocal: Rose Gonçalves
Aderecista: Flavia Sauerbronn
Assistente de Movimento – Olivia Vivone
Fotografia: Dalton Valério
Design Gráfico: Voisin Design
Assessoria de Imprensa: Will Comunicação / Luiz Menna Barreto
Direção de Produção: Cássia Vilasbôas
Produção Executiva: Fernando Duarte
Assistente de Produção: Mayara Travassos
Estagiário de Produção: Lucas Studart
Produção: NOVE PRODUÇÕES
Realização: Ticiana Studart Produções
Crítica maravilhosa! Parabéns, equipe!
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