Sem dizer a que veio
“9 dias! Contagem Regressiva” tem como maior problema o fato de não dizer a que veio. Apesar da boa iluminação, figurino e trilha sonora, contando ainda com a excelente interpretação de Adriana Valdevina, a estrutura exibe um projeto que ainda está no meio do caminho. Filha e Namorado sequestram o pai, um rico empresário, pedindo o dinheiro de resgate à Mãe, que pechincha até chegar a um valor simplório. Mãe e Filha fazem terapia com uma psicóloga que foi, no passado, namorada do Lennon, o sequestrador. Cheio de quebras na narrativa, a história, além de não ser bem contada, nem deixa o espectador seguro de como lhe deve fruir, nem parece precisar da insegurança de quem lhe assiste. Escrita e dirigida por Sandro Pamponet, o espetáculo está em cartaz no Espaço 2 do Solar de Botafogo.
Fosse comédia, o espectador precisaria se sentir seguro. Para isso, todas as marcas de verossimilhança deveriam estar bem realçadas e dispostas a uma testagem inicial que garantiria a livre fruição e um ritmo rápido. Apesar dos nomes remeterem a um universo de novelas mexicanas e de uma situação também um tanto quanto melodramática, as cenas são recortadas demais, a narrativa é não linear e boa parte dos diálogos são tensos. Ou seja, o espectador ri em alguns momentos, mas não sabe se o que vê é realmente cômico ou se sua risada está sendo inconveniente. Fosse pós-dramático, a narrativa não resultaria em um modelo redondo, com personagens tão superficiais e acessíveis, mas estaria mais aberta e reflexiva. Apesar das informações sobre a história não serem apresentadas logo no início, mas durante a encenação, elas o são a contento até o final, de forma que o espectador não necessita de sua própria interpretação pra entender o que vê, mas tem, no quadro, todas as chaves dessa estrutura. Assim, sem ser Almodóvar e tampouco Lehmann, “9 dias! Contagem Regressiva” parece ser apenas uma experimentação dramatúrgica apresentada como espetáculo.
Com exceção de Adriana Valdevina, que tem ainda voz baixa, os trabalhos de interpretação vão de ruins a péssimos. Carolina Freitas, Flavio Meira, Leobruno Gama e Manuela Moog apresentam construções sem vida, sem graça, sem força. Não são nem superficiais o suficiente para serem cômicos, nem profundos para serem dramáticos. A dicção é ruim, as intenções dispersivas, as entonações frouxas. Por outro lado, Valdevina parece se divertir com sua personagem (Mãe), oferecendo presença marcante, clareza nos objetivos e foco.
Fernanda Mantovani e Leobruno Gama trazem meritoso trabalho de figurino e de iluminação respectivamente: as opções são ricas e potentes, manifestado desejo em aproveitar-se do espaço e da história positivamente em um esforço em narrar que não é em vão. O espetáculo tem ainda boa trilha sonora de Jô Bilac que age na mesma direção e com o mesmo bom resultado.
Diferente de todas as artes, o teatro, ao mesmo tempo em que não consegue se desligar do seu autor, não pode dispensar o seu público. O encontro entre quem faz e quem assiste está no cerne ontológico de sua existência. No momento em que “9 dias! Contagem Regressiva” parece não dialogar consigo próprio, a produção deixa ver que ainda não está preparada para conversar com o público. É portanto mais um exercício em sala de ensaio. Que venha para ser digno dos aplausos que recebe e há de receber.
Ficha Técnica:
Direção e Dramaturgia: Sandro Pomponet
Supervisão de Dramaturgia: Jô Bilac
Elenco: Adriana Valdevina, Carolina Freitas, Flavio Meira, Leobruno Gama, Manuela Moog
Cenografia: Natália Lana
Figurino: Leobruno Gama
Iluminação: Fernanda Mantovani
Preparação Vocal: Veronica Machado
Foto: Paula Kossatz
Trilha Sonora: Jô Bilac
Direção de Produção: Miçairi Guimarães
Produção Executiva: Taciana Barros e Alexandra Arakawa
Produção: Diga Sim Produções
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