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Junior Dantas, Marta Paret, Jefferson Schroeder, Leonardo Bricio, Juliane Bodini, Helder Agostini, Iano Salomão e Luis Antonio Fortes |
O 5o ótimo espetáculo da Cia OmondÉ
“Os inadequados” é um ótimo momento na grade teatral carioca. Trata-se do quinto espetáculo da Cia OmondÉ, dirigido por Inez Viana e, dessa vez, com dramaturgia assinada pelo grupo. No elenco, estão Iano Salomão, Jefferson Schroeder, Juliane Bodini, Junior Dantas, Leonardo Bricio, Luis Antonio Fortes, Marta Paret e Zé Wendell, substituído por Helder Agostini na sessão que aqui se analisa. Cartas escritas a síndicos de condomínios residenciais deram origem à peça que pauta a questão da intolerância nas relações humanas. A simplicidade estética que parece ter sido norteadora da concepção que gerou a obra, na verdade, esconde uma complexa de teia de pensamentos que valoriza o público que pode conferir a montagem até ontem, dia 27 de junho, no Teatro Ipanema.
Um trabalho brilhante!
Eis uma crônica de costumes. A justaposição de diversas narrativas articuladas por um tema comum garante panorama rico. Nele pontos de vista diferentes têm o poder de revelar profundidade a um assunto aparentemente pueril. Em cena, os atores dão vida a pessoas que, através de mensagens escritas, reclamam aos síndicos dos prédios onde moram ou trabalham. Em todas essas reclamações, o comportamento do outro ganha avaliação a partir de padrões pessoais. Aos poucos, na dramaturgia que partiu de uma ideia de Debora Lamm, surge uma profícua reflexão sobre a intolerância nas relações humanas na contemporaneidade. O quanto somos/estamos habilitados a fazer com que a boa convivência com o diferente deixe de ser uma intenção e passe a ser uma realidade? É essa a pergunta que a peça prepara para que o público responda quando sair do teatro.
O título diz respeito a um adjetivo negativo que serve àqueles que não são adequados a uma determinada situação. Nesse sentido, a dramaturgia parte de um lugar de conflito em que, por algum motivo, pessoas que se julgam adequadas se sentem ofendidas por outrem e, por isso, reagem. O mérito maior do texto está nas justificativas que estão nas cartas reais que foram escolhidas pela Cia. OmondÉ na elaboração da montagem. Elas permitem o retrato de um mundo em que enormes conflitos nascem por causa da falência de simples tentativas de bem viver. O recorte, ainda que, em alguns momentos, revele a torpeza de certas personalidades doentias, defende no geral que há trabalho interno a ser feito em cada homem comum antes desse iniciar uma guerra contra outro. E que esse dever precisa ser cumprido.
Em uma análise mais profunda, há uma explosão dos conceitos de monólogo. Ao longo da peça, quem fala é sempre ou um morador ou alguém ligado ao condomínio em questão. Já os interlocutores podem ser divididos entre o síndico a quem a carta é endereça, ao “inadequado” a quem a mensagem se refere” e aos moradores que podem ler a conversa registrada no Livro de Reclamações, além do público que assiste à peça. Essa complexidade das partes que compõem essa conversa fica ainda maior pela justaposição de contextos diferentes. Inicialmente, o esforço dos atores em marcar a identidade de quem reclama e seus argumentos chega a um limite. A partir desse momento e até o fim de “Os inadequados”, fica fácil reconhecer que a Cia. OmondÉ já não está mais falando dessa ou daquela realidade em particular. O grande assunto da peça é a humanidade da qual inclusive todos nós fazemos parte e a intolerância que o grupo identifica negativamente nela. Um trabalho brilhante!
Uma celebração!
Inez Viana, assistida por Helder Agostini e por Lucas Lacerda, oferece mais uma vez um excelente trabalho de direção. Com expressões, gestos e movimentação aparentemente simples, belíssimos quadros fazem a narrativa evoluir e a atenção se manter. O primeiro ápice da encenação é quando Iano Salomão traz para frente uma mesa e, interpretando um síndico que pede a destituição do próprio cargo, pontua que o limite já chegou. Desse momento em diante, a força dos personagens diminui, como já se apontou acima, em favor de um convite a uma reflexão que inclua o público no quadro. Em outras palavras, a Cia. OmondÉ diz que esses personagens somos nós.
Nos trechos finais, “Os inadequados” oferece alternativas para essa humanidade criticada. Entra em cena o poema “Certa gente” da polaca Wisława Szymborska (1923-2012) (pronuncia-se “Visuava Simborshka”) e, através do modo como se dá sua interpretação, pela primeira vez na história do grupo, um espetáculo da Cia. OmondÉ atinge o mais sublime conceito da “celebração”. Esse gesto da direção, por meio da encenação dos atores, oferece à peça outro ápice, maior que o anterior, que é definitivo para os sonoros aplausos finais.
Helder Agostini, Iano Salomão, Jefferson Schroeder, Juliane Bodini, Junior Dantas, Leonardo Bricio, Luis Antonio Fortes e Marta Paret apresentam ótimos trabalhos de interpretação. Todos eles, positivamente sem destaque, aproveitam bem as oportunidades em um todo cujo equilíbrio de méritos parece ser também conceitual. Cenário, figurino e trilha sonora assinados pelo grupo estão plenamente envolvidos com o espetáculo em um todo coeso e meritoso. A luz de Ana Luzia Molinari de Simoni, colaborando de maneira pontual para a beleza dos quadros, é valorosa.
Grandes aplausos
Em “Os inadequados”, a Cia. OmondÉ permanece na investigação de uma linguagem que lhe favoreça e que se favoreça através dela na viabilização de bons espetáculos. Da farsa “As conchambranças de Quaderna” para o trash “Mamutes”, de um neorrealista “Nem mesmo todo o oceano” para um pop “Infância, tiros e plumas”, o grupo segue seu caminho, arriscando-se, investindo, cumprindo sua missão de continuar acima das dificuldades. Trata-se de um grupo que merece atenção, de uma produção (assinada por Claudia Marques) que merece temporadas mais longas e de uma peça que merece grandes aplausos.
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Ficha técnica
Texto: Cia OmondÉ
Direção: Inez Viana
Direção de Produção: Claudia Marques
Elenco: Cia OmondÉ – Iano Salomão, Jefferson Schroeder, Juliane Bodini, Junior Dantas, Leonardo Bricio, Luis Antonio Fortes, Marta Paret e Zé Wendell (stand in: Helder Agostini)
Ideia original: Debora Lamm
Assistentes de Direção: Helder Agostini e Lucas Lacerda
Colaboração Dramatúrgica: Helder Agostini
Colaboração Coreográfica: Dani Amorim
Iluminação: Ana Luzia Molinari de Simoni
Cenário, Figurino e Trilha Sonora: Cia OmondÉ
Programação Visual: Daniel de Jesus
Fotos de Divulgação: Elisa Mendes
Assessoria de Imprensa: Ney Motta
Assistente de Produção: Thamires Trianon
Produção Executiva: Jéssica Santiago
Realização: Fábrica de Eventos e Eu+Ela
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