quinta-feira, 30 de junho de 2016

Aquele que nasceu (RJ)

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Foto: divulgação


Pedro Uchoa

Formal demais

“Aquele que nasceu” marca a estreia do ator Pedro Uchoa como dramaturgo no monólogo em que ele é dirigido por Adriano Basegio. Nas quatro histórias – “Romeu morreu”, “Ela”, “A vez de Severino” e “O abraço do mar” –, de algum modo, personagens diferentes têm o percurso da vida modificado. O problema é que, na prática, só e justamente o conceito de texto dramatúrgico. Formal demais, a peça oferece pouco além de alguma habilidade em interpretar, mantendo-se fria, distante, pautada na torcida de que essa jovem carreira tenha sucesso. A produção encerrou a temporada ontem, dia 29 de junho, na Sala Multiuso do Espaço SESC Copacabana.

A carência de conteúdo
O único aspecto que pode ligar as quatro histórias que compõem “Aquele que nasceu” é a reflexão sobre a finitude. Em “Romeu morreu”, a célebre tragédia shakespeariana é revista a partir de um Romeu que acabou de falecer. Ele está indignado com a descoberta de que Julieta tomou sonífero, ou seja, não estava realmente morta quando ele, por amor, resolveu tirar a própria vida. Em “Ela”, “A vez de Severino” e em “O abraço do mar”, personagens originais inspirados na vida comum ganham experiências novas ao seu cotidiano, como tomar banho de mar pela primeira vez e se apaixonar. Através dessas, a peça pode se manifestar em favor da morte de comportamentos, posicionamentos ou de situações velhas em substituição a novos percursos.

A falta de outro aspecto que justifique a união das histórias, além de baratear a dramaturgia, aponta para o esforço da interpretação em exibir habilidade na construção de tipos diversos. Ou seja, há um esvaziamento do encontro em favor de uma amostra de talento. Por mais que esse seja grande, não é suficiente para garantir nobreza à produção. Em outras palavras, aplaude-se a coragem de escrever e de atuar, mas não com a mesma força aquilo que se vivenciou na plateia.

Pedro Uchoa faz bom uso da voz e do corpo, alcança certo carisma e, como dramaturgo, oferece imagens interessantes através de bom jogo de palavras. A direção de Adriano Basegio, articulando as habilidades do ator em um quadro de interpretação-narração, pontua momentos limites na estrutura do espetáculo. O feito faz a encenação evoluir pelo espaço e pelo tempo com ótimo ritmo.

Exercício meritoso
Com um palco nu, a luz de Ana Luzia de Simoni e de João Gioia tem enorme responsabilidade. Os desafios são plenamente vencidos em panorama potente e de relativa beleza. O figurino de Renata Mota, de modo positivo, oferece agilidade, garante beleza e mantém vivo o interesse. A trilha sonora de João Ribeiro faz boa colaboração, corroborando com o movimento.

Na cena de abertura, Pedro Uchoa enumera uma longa série de frases em que a justaposição de imagens se empenha em anular o sentido depois de oferecer um lugar que “foi, mas já deixou de ser”. Trata-se, a título de exercício, de uma meritosa composição literária, embora fria, hermética e datada. Esses valores também se atribuem ao espetáculo como um todo.

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Ficha Técnica
Texto e Atuação: Pedro Uchoa
Direção: Adriano Basegio
Luz: Ana Luzia de Simoni e João Gioia
Figurino: Renata Mota
Trilha Sonora: João Ribeiro
Programação Visual: Daniel de Jesus
Fotografia: Elisa Mendes
Maquiagem: Ana Karenina Riehl
Costureira: Vera Costa
Operador de som: João Ribeiro
Operador de luz: Pedro Meirelles
Voz em off Julieta: Juliana Fernandes
Direção de Produção: Renata Campos

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