quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Se vivêssemos em um lugar normal (RJ)

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Foto: divulgação


Roberto Rodrigues

Ótima versão para teatro do romance de Juan Pablo Villalobos

“Se vivêssemos em um lugar normal” é a versão teatral do romance homônimo do escritor mexicano Juan Pablo Villalobos. A ótima adaptação é assinada por Roberto Rodrigues, que atua nesse monólogo de modo vibrante. Depois de uma temporada no Espaço SESC Tijuca e no Parque das Ruínas, e de participar da mostra de repertório da Cia. Teatral Milongas na Sede das Cias, o espetáculo deve retornar a cartaz em breve. Na história, está o ponto de vista sobre a corrupção e a violência de um garoto pobre de um subúrbio no México. Eis uma comédia que tem o mérito de fazer o público refletir e se emocionar.

Segundo livro da Trilogia do México
Trata-se do segundo romance de Juan Pablo Villalobos, que finalizou agora a Trilogia do México. Ela começa com “Festa no covil”, de 2011, e terminou com “Tô vendo um cachorro”, de 2015. “Se vivêssemos em um lugar normal”, cujo título original é “Quesadillas”, foi lançado em 2013.

Orestes é o personagem que conta sua história. Ele tem 13 anos e é o segundo de sete filhos de um casal pobre morador de Lagos de Moreno, no México. (Esse é também o lugar onde nasceu Villalobos.) Uma das primeiras histórias diz respeito ao modo como a família do personagem dividia as quesadillas feitas pela mãe para alimentar a prole. Apertados em uma pequena casa, os sete irmãos aprenderam a calcular, pensando em quantas quesadillas sobrariam se não houvesse tantas bocas.

O desaparecimento dos gêmeos Castor e Pollux, em uma ida ao supermercado, é o que dá início à ação propriamente dita do romance. A partir desse fato, Orestes analisa a atuação da polícia e, de modo mais comprometido, faz reflexões sobre a situação dos pobres em sua sociedade. A chegada de uma família de poloneses, que passa a habitar um palacete vizinho, é outro acontecimento através do qual o jovem protagonista oferece sua visão de mundo. O chefe dessa família acaba sendo metáfora para Orestes compreender a opressão vivida pelos mais necessitados e principalmente o modo como os mais ricos pensam.

Entre as aventuras do personagem, está a explicação de Aristóteles, o irmão mais velho de Orestes, para o desaparecimento dos gêmeos. Segundo ele, os dois foram abduzidos por extraterrestres. Ao partir em busca de provas que possam dar conta da verdade sobre o caso, Orestes inicia a maior de suas aventuras. Abordando questões sérias e que revelam um duro retrato do mundo, a novela diverte a partir de seus elementos tragicômicos. É possível identificar os muitos méritos da adaptação de Roberto Rodrigues pelo modo como o corte é feito. Atualizando a historia sob a perspectiva do teatro, sem satisfazer o interesse em ler o livro, essa versão o desperta ainda mais, encantando o espectador. Excelente!

Roberto Rodrigues em destacável trabalho de interpretação 
Com colaboração artística de Breno Sanches, Hugo Souza e de Matheus Rebelo, a atuação de Roberto Rodrigues apresenta trabalho bastante positivo. O ator interpreta o personagem narrador no âmbito de sua humanidade, evitando gags cômicas que poderiam superficializar a proposta. Não se recorrem aos tipos, mas, ao contrário, explora-se a relação com o público através de um olhar filme, um diálogo fluente e assertivo e principalmente uma corporalidade capaz de dominar o espaço em suas máximas possibilidades. Ótimo ritmo se percebe na condução da narrativa através do tempo através da excelente alternância de acontecimentos, evoluindo em crescente de maneira a convidar o público a esperar pelo final. O intérprete, já elogiado aqui em “Espelunca” da mesma Cia. Teatral Milongas, merece renovados aplausos.

“Se vivêssemos em um lugar normal” tem trilha sonora assinada por Victor Hora que, remetendo à música interiorana, estabelece boa relação entre o público e a narrativa. O figurino de Bruno Perlatto tem participação mais discreta, mas capaz de oferecer o essencial para a composição do personagem tanto em termos de sua apresentação visual como dos seus movimentos. Assinada por Adriana Millomem, a iluminação faz excelente colaboração com o espetáculo no que diz respeito ao uso do espaço e na pontuação do ritmo.

Eis mais um ótimo espetáculo da Cia. Teatral Milongas que merece aplausos.

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Ficha técnica:

Texto: Juan Pablo Villalobos
Adaptação e Atuação: Roberto Rodrigues
Colaboração artística: Breno Sanches, Hugo Souza e Matheus Rebelo
Figurino: Bruno Perlatto
Iluminação: Adriana Milhomem
Direção de Movimento: Maria Celeste Mendozi
Preparação vocal: Jane Celeste
Operador de Luz: Rafael Tonoli
Trilha Sonora: Victor Hora
Programação visual: IviSpezani
Fotografia: Renan Lima
Assessoria de Imprensa: Lyvia Rodrigues(Aquela que Divulga)
Produção: Pagu Produções Culturais
Realização: Cia. Teatral Milongas