sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Faça o que precisa ser feito (RJ)

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Foto: divulgação

Waleska Arêas, Edson Zille e Ricardo Gonçalves


Comédia inteligente e bem humorada em cartaz

"Faça o que precisa ser feito" é o novo espetáculo escrito e dirigido por Oscar Saraiva. Com Waleska Arêas, Edson Zille e Ricardo Gonçalves em ótimos trabalhos de interpretação, a comédia diverte o público em uma história cheia de reviravoltas. Próximo ao enterro da mãe, dois irmãos conhecem o jovem namorado da falecida, que diz ter direito à casa onde ela morava. Um jogo de relações entre os três começa, avançando para situações inimagináveis e muito divertidas. Em cartaz na Sala Multiuso, do Espaço SESC Copacabana, até o próximo 29 de novembro, eis uma hilariante opção na programação de teatro carioca.


Comédia original com ótimos trabalhos de interpretação
Muito mais jovem que ela, Bruno (Ricardo Gonçalves) namorava a mãe de Karine (Waleska Arêas) e de P2 (Edson Zille) até quando ela faleceu. O casal havia se conhecido há alguns meses e, apaixonados, passaram a conviver sem que os filhos dela soubessem. Para a surpresa de ambos, na primeira cena da peça, ele anuncia que não pretende sair da casa, o que dá início a um constrangimento mútuo entre os três. Com o evoluir das cenas, a narrativa vai revelando diversas situações hilárias vivenciadas pelos personagens. O texto de Oscar Saraiva é divertido, com diálogos ágeis e cheios de reviravoltas. No entorno, marcas que situam a história no hoje, no modo contemporâneo de lidar com relações afetivas e também familiares. Corrupção envolvendo dinheiro público e sonegação de impostos, laços afetivos, familiares e sexuais, jogo de interesses, entre outros, são temas que atravessam os personagens e os unem nessa história original bastante divertida.

Nas cenas finais, está a parte sensível do dramaturgia. Saindo da comédia de boulevard e avançando para um quadro surrealista, a melhor força da dramaturgia se perde. O desfecho exige do espectador contratos muito diferentes dos realizados na abertura de maneira que, ainda que os e personagens sejam os mesmos, parece que se trata de uma outra peça. No entanto, preservam-se as qualidades ainda que essas tenham ficado diferentes.

Os três trabalhos de interpretação são bastante positivos, mas Edson Zille e principalmente Waleska Arêas têm destaque. Em uma composição corporal que bem pode ser comparada com a de Buster Keaton, Zille dá vida para o texto de modo sublime. De início, o ator interpreta uma espécie de rapaz desastrado bem intencionado que se enfurece pelos problemas, mas evita outros ainda maiores. Depois, principalmente quando a história se modifica, vemos outros contornos, mais ardilosos e mais profundos. Com enorme força, Arêas também não perde o tom as piadas nos momentos assim como segura as falas mais dramáticas. Interpretando a personagem que pode ser vista como um tipo de vítima dos dois outros, ela surpreende principalmente quando, de modo sutil, expressa a sensibilidade de sua Karine.

Camilo Pellegrini assina inteligente direção de arte
“Faça o que precisa ser feito” tem ainda ótima colaboração de Camilo Pelegrini na direção de arte. O cenário é composto por três grandes telas em que se reproduzem imagens em discreto movimento. O feito, além de contextualizar a narrativa dentro do universo urbano e contemporâneo, aponta para a natureza viva e complexa da qual os personagens são apenas parte. Faz ainda sugestões na ordem da construção do sentido, com quadros mais abstratos e que podem amparar alguma sensação advinda dos diálogos e dos solilóquios aos quais se assiste pela cena. A contribuição é, além de bela, inteligente. A iluminação de Renato Machado, com menor lugar diante do valor dado ao cenário, faz positiva participação.

“Faça o que precisa ser feito” apresenta uma crítica social bastante bem-humorada que incita uma reflexão pertinente. Vale a pena ser visto.

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Ficha técnica:
Texto e direção: Oscar Saraiva.
Elenco: Edson Zille, Ricardo Gonçalves e Waleska Arêas.
Direção de arte: Camilo Pellegrini.
Iluminação: Renato Machado.
Produção: Maria Clara Guim.
Realização: Sesc