domingo, 8 de novembro de 2015

Como eliminar seu chefe (RJ)

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Foto: divulgação

Tania Alves, Gottsha, Marcos Breda, Simone Centurione e Sabrina Kogut

Um bom musical para toda a família
“Como eliminar seu chefe”, novo musical de Cláudio Figueira, é um divertido espetáculo em cartaz no Teatro Carlos Gomes, na Praça Tiradentes, zona central do Rio de Janeiro. Trata-se da versão brasileira assinada por Flávio Marinho do original americano, que estreou em 2009, na Broadway, levando ao palco a adaptação do filme “Nine to Five”, de 1980. Na história, três secretárias se rebelam contra os desmandos do chefe, estabelecendo novos padrões no desempenho dos funcionários de uma empresa. Com canções de Dolly Parton a partir da ideia original de Jane Fonda para o roteiro original, no elenco dessa montagem, estão Tania Alves, Sabrina Korgut, Simone Centurione, Gottsha e Marcos Breda nos papeis principais. Disposta a agradar toda a família, a produção estará em cartaz até dezembro próximo.

A versão brasileira pode ter mais sucesso do que a original
O filme “Nine to Five”, dirigido por Colin Higgins a partir de roteiro dele e de Patricia Resnick, surgiu da ideia original da atriz americana Jane Fonda. Considerado uma das comédias de maior sucesso na história do cinema americano, ele foi a segunda maior bilheteria de 1980 (a primeira foi “Star Wars: O império contra-ataca”). A história começa com a chegada de Judy Bernly (Jane Fonda), recém separada do marido, ao seu primeiro dia de trabalho fora de casa na vida. Ela é amparada pela competente Violet Newstead (Lily Tomlin), secretária sênior da empresa cujo chefe é o machista Franklin Hart Jr. (Dabney Coleman). Ela também conhece lá Doralee Rhodes (Dolly Parton) e Roz Keith (Elizabeth Wilson) outras secretárias do chefe. Lá pelas tantas, Judy, Violet e Doralee se aproximam, identificadas pelo modo injusto com que o Senhor Hart trata todos os funcionários, mas principalmente as mulheres. Em uma noite, elas têm sonhos de vingança que, de alguma maneira, passam a se realizar. Não só pelas ótimas interpretações e pela ágil direção, o filme foi um sucesso porque ia ao encontro de um movimento mundial em favor de legislações mais justas às mulheres. No Brasil, por exemplo, a exibição da série “Malu Mulher” e a fundação do Partido dos Trabalhadores são dois entre os vários eventos que retratam o período em que o filme foi exibido por aqui.

Em abril de 2009, estreou na Broadway a primeira versão do filme para o teatro, mas, embora tenha conseguido algum reconhecimento da classe, foi um fracasso de público. A crítica denunciou o modo como a história havia envelhecido, principalmente em termos estéticos no âmbito da narrativa. Naquele ano, “Billy Elliot – O Musical” e “Quase Normais” arrebataram a maior parte dos troféus, empurrando para longe o comportado “Nine to Five”, que ficou só quatro meses em cartaz. A peça teve indicações de Melhor Atriz (Allisson Janney / Violet), Ator (Marc Kudisch / Franklin Hart), Coreografia e de Melhor Trilha Sonora (Dolly Parton), mas não venceu qualquer uma.

É possível que essa versão assinada por Flávio Marinho talvez encontre melhor recepção do público dessa vez. Por aqui, há menos musicais em cartaz, temas sociais quase não são a preferência do gênero e o espaço para a reflexão de arte ocupa cada vez menos centímetros nos grandes jornais (infelizmente). (No Brasil, a crítica de arte perdeu há muito tempo a batalha contra o horóscopo, as tirinhas, as cruzadas e a coluna social vergonhosamente.) Nesse sentido, é possível imaginar que, por isso, as despretensiosas reflexões de “Como eliminar seu chefe” farão maior diferença na programação teatral do Rio de Janeiro, torce-se. Com a difícil missão de adaptar para o português letras escritas originalmente para a música country norteamericana, Flávio Marinho venceu o desafio com mérito substancial.

Outro bom musical de Cláudio Figueira
Como aconteceu recentemente com “Sim! Eu aceito!”, Cláudio Figueira oferece à programação de teatro carioca outra produção comportada que está pronta para agradar toda a família. Tania Alves (Violet), Sabrina Korgut (Doralee) e Gottsha (Roz) têm excelentes participações, lembrando da importância de grandes atrizes-cantoras para o sucesso de um musical. Sem destaque, Simone Centurione faz a personagem Judy, que foi da autora Jane Fonda, submergir monotonamente diante da força de suas parceiras. Marcos Breda, cujo número musical deixa muito a desejar, ganha o público através de excelente trabalho de interpretação e de seu conhecido grande carisma. O elenco se completa com Fabrício Negri (Joe, contabilista da empresa), Leandro Massaferri (Dick, ex-marido de Judy) e Cristiana Pompeo (Margareth, funcionária com problemas de alcoolismo), também em atuações qualificadas. O todo tem resultado bastante positivo.

O cenário de Clívia Cohen preenche o palco com exuberância, fazendo proposições bastante interessantes à estética do todo. O problema é o modo como suas entradas e saídas se dão. Em vários momentos, é possível identificar a contrarregragem ou, de maneira ainda pior, a lentidão dos transportes prejudicando o ritmo. Pelos mesmos motivos, as baterias de microfone sem fio precisam ganhar soluções melhores nos figurinos, também assinados por Cohen, pois esses detalhes travam o efeito da verossimilhança. Em outras palavras, a força que traz elogios ao uso de cenários tão ricamente decorados e de figurinos bem modelados, como se vêem aqui, precisa atravessar os menores detalhes igualmente. O desenho de luz de Paulo Cesar de Medeiros e a direção musical de Liliane Secco, mais uma vez, trazem excelentes colaborações. São 16 canções interpretadas por oito músicos.

A importância social
De um modo muito especial, o espectador do filme encontrará o Brasil em situação peculiar na narrativa. Bolívia nos substituiu na versão da Broadway e o termo “América Latina” foi o escolhido por Flávio Marinho. A reflexão sobre essas alterações é um interessante meio de compreender o modo como cada produção se relacionou com o seu tempo. De qualquer forma, ainda que tenha melhorado sob determinados aspectos, a situação das mulheres no mercado de trabalho ainda carece de ajustes. Para todo o público, vale a pauta de uma política trabalhista mais comprometida com o respeito ao ser humano. E o divertimento, claro. Por tudo isso, mas também pelos méritos acima destacados, vale a pena ver “Como eliminar seu chefe”.

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Ficha Técnica

Texto
Patricia Resnick

Músicas e Letras
Dolly Parton

Direção Geral
Cláudio Figueira

Versão Brasileira
Flávio Marinho

Direção Musical & Preparação Vocal
Liliane Secco

Diretora assistente
Elida L'astorina

Direção de Produção
Cláudio Figueira

Produção
Carmen Figueira - Só de Sapato Produções
Renata Borges - Fabula Entretenimento

Cenários e Figurinos
Clívia Cohen

Coreografias
Cláudio Figueira

Coreógrafa Assistente
Elisa Firpo

Caracterização
Rodrigo Fuentes

Figurinista Assistente
Clara Cohen

Desenho de luz
Paulo César Medeiros

Sonorização
Luiz Everando

Técnico de Som / Microfonista
Pedro Ivo
Programação Visual
Luiz Pimenta & Renata Ottaiano

Alfaiate
Macedo Leal & Equipe

Cenotécnico e Pintura de Arte
Máximo Esposito

Patrocínio
Grupo Bradesco Seguros

Fotos
Ivo Gonzalez
Diretor de Cena
Paulo Ramos

Contrarregra
Raul Mororó
Realização e Produção
Só de Sapato Produções
Fabula Entretenimento

Elenco
Marcos Breda
Tania Alves
Sabrina Korgut
Simone Centurione
Gottsha
Fabricio Negri
Cristiana Pompeu
Carlos Viegas
Gabriel Titan
Analu Pimenta
Dani Fancone
Martina Blink
Carol Ebecken
Elisa Firpo
Luiz Gofman
Debora Pinheiro
Cosme Motta
Leandro Massaferri
Daniel Lack
Maestro:
Fernando Lopez

Orquestra:
Fernando Lopez (teclados)
Tássio Ramos (baixo elétrico e acústico)
Carlos Henrique (bateria e percussão)
Moisés Camillo (guitarra e violões de aço e nylon)
Levi Chaves (sax alto, clarineta, flauta e piccolo)
Daniel Kaiser (sax barítono, sax tenor, clarineta, clarone e flauta)
Elias Correia (trombone)
Ernani (trompete e flugelhorn)